“Esperava por este momento desde que era um miúdo. Honestamente, nada nos pode preparar para a vista do espaço. Foi mágico”. Podia ser muito bem uma frase saída de um filme de ficção científica, daqueles em que humanos descobrem a convivência com alienígenas, num qualquer planeta distante, mas não.
As palavras são de uma personagem bem real e foram lançadas ao mundo, no passado domingo, 11 de julho, por Richard Branson, após aterrar de uma viagem ao espaço sideral, onde esteve a navegar, durante 20 minutos com a sua equipa, na nave espacial VSS Unity, SpaceShipTwo. Aos 70 anos, o bilionário inglês, fundador da Virgin Galactic, que é a extensão aventureira do seu grupo Virgin, cumpriu o seu sonho de criança partilhado pelo imaginário infantil de todos nós. O momento é histórico. Não por ser a primeira vez que terráqueos atingem o espaço suborbital do nosso planeta, mas por abrir as portas estelares às viagens espaciais comerciais.
Há mais empreendedores nesta corrida vertical em direcção às estrelas e 2021 é o ano de descolagem para todos eles neste mercado exclusivo que é o turismo espacial. Já no próximo dia 20 de Julho, a Blue Origin, a principal concorrente da Virgin Galactic nas viagens suborbitais, fará o seu primeiro voo tripulado na espaçonave New Shepard. Em Setembro é a vez da Space X de Elon Musk lançar um voo turístico, repetindo a proeza em 2022, uma viagem com direito a estadia Estação Espacial Internacional e tudo.
A arena espacial está a começar a ficar empolgante e nós somos os contemporâneos deste momento. Que sorte. Mesmo que ainda só esteja ao alcance do bolso de alguns.
Viagens espaciais comerciais: 20 anos a preparar o descolar de amanhã
Desde que, em 2001, Dennis Tito ficou para a história como o primeiro turista a visitar a Estação Espacial Internacional, através de uma boleia da espaçonave russa Soyuz, que lhe custou cerca de 17 milhões de euros, muita coisa mudou no nicho da aviação espacial. Durante muito tempo, a investigação e as viagens ao espaço estiveram, tradicionalmente, na mão dos estados-nação, pela complexidade tecnológica e científica do tema e pelo alto custo dos equipamentos. Certamente, já viu lançamentos de foguetões. Imagina o combustível gasto num arranque e posterior viagem destes veículos? Só neste pequeno pormenor, a despesa é de muitos zeros monetários.
Até hoje, apenas mais sete turistas espaciais viajaram até ao espaço, pela mesma boleia que Tito. O que não significa que nada se esteja a fazer neste campo. Muito pelo contrário. Tudo se está a fazer para elevar a humanidade a uma espécie multiplanetária. A causa deve-se à entrada, nesta arena espacial, de empreendedores privados, cheios de sonhos e ambição e, claro, muito dinheiro para investir. Desde o início do milénio, três cowboys espaciais competem no mercado da aviação espacial comercial: Richard Branson, da Virgin Galactic (2004), Jeff Bezos, o fundador da gigante tecnológica Amazon, com a sua Blue Origin (2004), e Elon Musk, o arrojado fundador da Space X (2002). É com a sua assinatura e tenacidade que, muito em breve, iremos ouvir falar das viagens estelares dos muito ricos que irão experienciar a melhor vista panorâmica do planeta terra.
Após 20 anos de muitos desenvolvimentos, testes, perdas e ganhos, estes três gigantes estão prontos para nos levar ao espaço sideral, com algumas diferenças nos seus serviços. Enquanto a Virgin Galactic e a Blue Origin irão proporcionar viagens até ao espaço suborbital, a Space X programa viagens interestelares além da órbita da Terra, fisgada no turismo lunar e a colonização humana de Marte. Vamos a números? Pois bem, quem optar pelo pacote de voo mais estadia na Estação Espacial Internacional pega nas suas poupanças de 47 milhões de euros e reserva o seu lugar. A Blue Origin ainda não avançou com valores mas a Virgin Galactic já e variam entre os 170 e os 210 mil euros. 600 bilhetes já foram vendidos e consta que muitos deles pertencem a algumas celebridades de Hollywood. Para já, apenas quem tem uma conta bancária reluzente conseguirá ver de perto as estrelas do universo.
Na órbita do turismo espacial
A que cheira o espaço? E se chegássemos lá de outra forma que não fosse avião? Claro que, numa estadia de vários dias, não vamos ficar sempre numa nave. E, faz sempre parte de uma viagem, levar os nossos pertences mais queridos e funcionais num objecto habilitado para os guardar.
São alguns temas e questões que, até há muito pouco tempo atrás, não me ocupavam muito espaço mental até começar a puxar o fio desse nicho da aviação que é o turismo espacial. Ao fazê-lo, fiquei com vontade de oferecer a alguém querido o perfume “Eau de Space”, um aroma espacial engarrafado por uma equipa de profissionais ligados à moda, tecnologia, design e logística, que se inspiraram na estratégia da NASA em usar o aroma do espaço para os treinos de campo dos astronautas. Vamos assumir que este seria o souvenir da viagem.
A viagem, essa, parece que vai ter tantas opções de mobilidade como as que temos neste momento para viajarmos por esta atmosfera mais rasteira. Um deles é o elevador espacial da empresa japonesa, Obayashi Corporation, que está a trabalhar, desde 2012, neste corredor vertical de nanotubos de carbono que sai de uma plataforma gigante, no meio do oceano, em direcção ao espaço. A ideia é ficar pronto em 2050. O que não falta assim tanto. A outra opção à nave espacial, é o balão Spaceship Neptune que a startup Space Perspective lançou ao céu no último 18 de Junho, num primeiro voo de testes. A 48,30 km de altura, os oito passageiros de cada voo de seis horas, poderão experienciar a tão apetecível gravidade 0, com direito a pairarem acima de 99% da nossa atmosfera, durante duas horas. Imagina a vista desta cabana flutuante?
Mas a duração no cenário de estrelas não se fica por uma viagem de vai e vem. Muito em breve, a Estação Espacial Aurora irá abrir as portas ao público, como um hotel digno da série Star Trek, mas mais luxuoso. Neste momento, esta estação comercial privada da empresa estado-unidense Orion Span, ainda se encontra em estágios provisórios mas já esgotou vários meses de reservas de hotel. Uma estadia completa custa mais de 8 milhões de euros. Respirar fundo. Mas se for o seu caso, ter a oportunidade de passar as férias de verão no espaço, não se esqueça de levar a Horizn One, a mala inteligente de fibra de carbono que chega em primeiro ao mundo dos gadgets turísticos espaciais.
Se não for um fascinado pelo tema é possível que todo este universo do turismo espacial lhe pareça inalcançável e superficial mas, é bom lembrar que, há pouco mais de um século, também as viagens aéreas de lazer eram consideradas, igualmente, improváveis. Citando o capitão Jean Luc Picard: “As coisas são impossíveis até que não o sejam”.
Por Rodrigo Oliveira
É fundador e diretor geral da Zyrgon Network Group, uma agência de marketing/comunicação digital.