A Azqira, a primeira plataforma onde qualquer pessoa poderá investir em hotéis no mundo inteiro e receber dividendos dos lucros gerados, está prestes a ser lançada na Europa e promete revolucionar a forma como os hotéis têm acesso a financiamento. A plataforma, que será lançada a partir de maio, é uma das startups convidadas a participar no Crypto 2030, evento paralelo ao Fórum Económico Mundial, que decorre até esta sexta-feira, dia 19, em Davos, na Suíça. Tom Teichmann, CEO e fundador da Azqira, vai partilhar o palco com oradores especialistas no mercado da tokenização, que se prevê atingir os 9,82 mil milhões de dólares em 2030.
A poucos meses do lançamento da plataforma que vai permitir a qualquer comum mortal investir em hotéis como investe em ações em outros setores, esta é mais uma oportunidade para a Azqira apresentar o seu modelo de negócio.
Em entrevista ao TNews, João Andrade, Head of Investment, conta como tudo começou. Durante a pandemia de COVID-19, decidiram avançar com o modelo de negócio de aquisição de hotéis. Para isso, recorreram à tecnologia do blockchain, e apenas à tecnologia, “não temos nada a ver com criptomoedas”, frisa João Andrade. Na altura, ponderaram, além dos hotéis, outros negócios tais como diamantes, chipping e apartamentos. “Percebemos que os hotéis eram o melhor investimento, porque têm algo que mais nenhuma classe tem, a possibilidade das pessoas experimentarem aquilo em que estão a investir”. A partir de maio, quando for lançada a app, as pessoas “podem investir em hotéis como investem em ações, e poderão escolher literalmente em que hotéis querem investir no mundo, e esses hotéis todos os trimestres enviam uma percentagem dos lucros que geram”, explica.
Para João Andrade, as vantagens para os hotéis são claras: “Os hotéis estão a desviar a sua atenção para nós, porque a única coisa que os bancos lhes conseguem fornecer é capital e ainda têm de pagar taxas de juro por isso. O que acontece com a Azqira é que os hotéis que nos abordam têm três vantagens: acesso aos mesmos montantes de capital a troco de uma participação minoritária no negócio, são lançados numa plataforma com centenas de milhares de pessoas que irão ver o hotel e investir nele e, naturalmente, quererão lá ficar (é uma ferramenta de marketing e publicidade), e por último estes mesmos hotéis terão uma plataforma de booking disponível para esta comunidade sem cobrar comissões e onde podem trazer estadias, descontos, ofertas, etc, para estes membros. Dito isto, há todo um ecossistema para o hotel alavancar o seu negócio que vai além do que o banco é capaz de providenciar”, defende.
João Andrade exemplifica: “Se um hotel de 50 milhões de euros está à procura de angariar cinco milhões para fazer uma expansão, remodelação, o que quer que seja, nós entregamos os cinco milhões de euros e ficamos com duas coisas: 10% do negócio para a Azqira e 10% do lucro gerado para os utilizadores que investem no hotel na plataforma. Portanto, é essencialmente o mesmo princípio de investir em ações, mas aplicado pela primeira vez a hotéis.”
Nem todos os hotéis são elegíveis para a Azqira. Há para já dois critérios eliminatórios. Em primeiro lugar, o hotel já tem de estar em operação, de modo a não fazer os utilizadores esperarem pela conclusão do projeto para receberem dividendos. “Queremos que eles invistam e no trimestre seguinte já estejam a receber dividendos”, afirma. O segundo critério eliminatório prende-se com o retorno no investimento. “Hotéis que não consigam entregar pelo menos 8% ao ano, nem sequer são listados na plataforma. Temos um pipeline já com bastantes hotéis que conseguem melhor do que isso”. Existem ainda dois critérios que, não sendo eliminatórios, são apostas da Azqira: o mercado de luxo e a região equatorial do globo. “Estamos a apostar em hotéis de cinco estrelas, preferencialmente boutique design hotéis, com um lifestyle bastante forte associado, a que gosto de chamar o hotel instagramável”, avança João Andrade. Já quanto ao segundo critério, a localização, a aposta tem sido na região equatorial do globo. “É onde estão localizados os cerca de 50 hotéis que já temos: México, Maldivas, República Dominicana, Indonésia, Dubai, Jamaica, podem estar na Tailândia, no Vietname, no Brasil, embora já tenhamos o primeiro hotel no sul de França e na Madeira”. O foco nesta região em particular tem a ver com a sazonalidade, sublinha João Andrade. “No sul da Europa, o verão é forte e o inverno fraco. Enquanto na região equatorial do globo, o hotel opera e distribui dividendos o ano inteiro”.
As cerca de 50 unidades de que João Andrade fala estão, neste momento, em due diligence, ou seja, “estão a ser passados a pente fino” num processo que culmina com uma auditoria final ao ativo. João Andrade diz que ainda não podem ser anunciados os hotéis que receberão investimento assim que a plataforma for lançada. “Pretendemos revelá-los mais perto do lançamento. No entanto aqueles que estão em melhor posição são os que estão já em due diligence: Hamak Hotels, Soneva, Tias Villas, Magnitude, Mogotel Group, Couples Resorts, Grupo Emerita, Los Amigos, Crown & Champa, SLS Hotels, Crystal Group, Damac Properties, e outras cadeias de menor dimensão”.
O que já pode ser revelado é que no momento do lançamento haverá um ou dois hotéis disponíveis e, no trimestre seguinte, serão lançados mais um ou dois. “Manter-se-á assim, nos primeiros dois anos (numa abordagem conservadora porque aumentamos a frequência sempre que possível). Em suma, um ou dois hotéis por trimestre nos primeiros dois anos. Depois a frequência aumenta para mensal. Todo este portfólio estará sempre disponível em simultâneo”.
A investir na plataforma, há nomes sonantes da hotelaria, como o vice presidente da Hyatt para o Médio Oriente e África, que é um dos principais acionistas, ao lado de advisors da Hilton, Marriott, Deloitte ou PwC.
Mercado português representa a maior fatia dos interessados em investir
A Azqira tem estado a promover-se nas redes sociais há ano e meio. Os resultados dessa promoção permitem tirar algumas conclusões. Os portugueses representam 20% dos utilizadores que já se pré-registraram na plataforma. Por essa razão, a Azqira realizou a sua primeira conferência internacional no Hotel Altis Avenida em junho do ano passado.
João Andrade encontra duas explicações para isso: “A primeira é comum a portugueses, espanhóis e italianos, uma vez que o mercado do sul da Europa está muito mais interessado no destino paradisíaco, habituado ao calor, sol e praia. Em conversa com os nórdicos e escandinavos, percebemos que vêm mais pela oportunidade de investimento e menos pela oportunidade de viajar e da hotelaria. Outro fator que tem a ver em particular com Portugal é o boom do imobiliário. Nas redes sociais cada vez há mais individualidades a falar de imobiliário, de investir e de liberdade financeira, não sei se está a acontecer com o peso que acontece em Portugal, noutros países, mas cá sei que está”.
Como funciona?
Até agora, estão pré-registadas 13 mil pessoas à espera de usar a plataforma a partir de maio. Mas há oportunidades para quem quer um acesso antecipado à plataforma. Como? O utilizador vai ao site, faz um pedido de chamada, normalmente quem atende é João Andrade. “O fee é mais alto, começa nos 3500 euros. Têm benefícios exclusivos, como acesso a um acordo de profit share com a empresa, ou seja, não se torna acionista da Azqira, mas partilhamos uma pequena percentagem (1%) dos lucros com este grupo de pessoas que entra primeiro que os outros, e partilhamos isto nos primeiros quatro anos da Azqira, isto é, até maio de 2028”. As mais-valias não se ficam por aqui, como explica o Head of Investment. “São adicionados a um grupo privado, vão conhecer outras pessoas. Já temos pessoas de 18 países; acesso diário à equipa, podem conhecer-nos, conversar connosco; acesso inclusivamente aos nossos investidores, para saberem quem são; acesso a uma chamada mensal em que podem ser atualizados sobre os progressos mensais da Azqira; acesso imediato à app, embora não tenha sido lançada; e acesso aos eventos. Estes acabam por ser os nossos VIP’s da comunidade. Cada vez que fazemos um evento, acabam por ter um acesso exclusivo”. Nesta comunidade mais restrita estão cerca de 150 pessoas, avança.
A Azqira procura diferenciar-se não apenas no financiamento de hotéis, mas também nas reservas, competindo com plataformas como a Booking.com no futuro. “Não cobramos os 18% de comissão que a Booking.com cobra, não há comissão sobre as reservas. Por outro lado, há descontos nas estadias, eventos, packs de oferta”, sublinha. João Andrade revela ainda que já há companhias aéreas, rent-a-cars e agências de viagens interessadas, “porque o potencial está cá”.
Quem utilizar a app vai encontrar uma descrição dos hotéis com fotografias, detalhes do investimento, retorno esperado, acesso ao historial dos dividendos, entre outras informações. Por sua vez, a plataforma vai ter também um marketplace em que será possível ao utilizador vender a sua posição a outra pessoa e reaver o seu investimento inicial.
Há diversos pacotes de investimento: desde 500 euros (Bronze), 1000 euros (Silver), 2500 euros (Gold), a 10 mil euros (Diamond). Consoante o pacote, o utilizador terá acesso a diferentes benefícios, que podem ir desde 10% de desconto em estadias a uma semana gratuita com tudo incluído (Diamond).
Segundo João Andrade, a Azqira procura hotéis entre os 20 milhões e os 100 milhões de euros para investimento, para comprar participações entre os 10% e os 30%. Para já, o poder de compra para o primeiro hotel está entre os 40 e os 50 milhões de euros.
Estou cético quanto à legitimidade desta oferta. A proposta envolve o cliente a pagar uma quantia considerável, variando entre 500 a 10.000 euros, em troca de um token cujo valor será determinado pela Azqira. No entanto, este investimento não concede propriedade direta sobre partes da empresa ou do seu património. Do ponto de vista de um proprietário de hotel, questiono a vantagem de vender uma participação minoritária e comprometer-se a oferecer descontos, quando existem alternativas como associar-se a redes como a SLH, que possuem milhares de membros sem exigir participação acionária. Acresce a isso o fato de ser necessário efetuar o pagamento antes mesmo de se saber em que hotéis a Azqira planeja investir. Que investidor prudente assumiria tal risco? Parece-me uma proposta bastante inusitada.
Para aqueles interessados em investir no setor hoteleiro, recomendo considerar grupos já estabelecidos e listados na bolsa de valores, tais como SHCO:NYQ, TUIX.N:GER, VAC:NYQ, H:NYQ, AC:PAR, MEL:MCE.
A minha resposta não é dona da razão mas falo por experiência própria. Juntei-me à Azqira há já alguns meses atrás e perdoe-me ter de lhe dizer que não sabe do que fala. A única coisa que, no meu entender, disse correctamente foi falar no seu ceticismo porque também partilhei dele. Mas o que encontrei foi uma equipa que se deu ao trabalho de me explicar tudo antes de eu ter de tomar alguma decisão. O resto, o tempo o dirá. Não paguei nenhuma quantia considerável por um token, existem claras vantagens para o sector hoteleiro e por alguma razão este está a associar-se e o conhecimento dos activos é total ANTES de qualquer decisão.
Recomendo a qualquer leitor não cair no erro deste. Por favor informem-se e depois decidam em conformidade. Este senhor(a) claramente nunca esteve mais de 30 segundos à conversa com a Azqira.