O presidente do Grupo Pestana perspetiva que o aumento de juros traga novas oportunidades de mercado e garante que o grupo vai estar atento. “Com o aumento dos juros, muitas oportunidades vão surgir, porque as pessoas estruturaram a operação baseada num determinado payback e, com o aumento dos juros, não aguentam. Por isso, vamos estar atentos, já começou no imobiliário e já há grandes empreendimentos a virem para o mercado”, afirmou Dionísio Pestana num encontro com a imprensa, à margem das comemorações do 50º aniversário do grupo que decorreram no passado sábado, 19, na Madeira.
Na ocasião, Dionísio Pestana falou da expansão do grupo nos próximos quinze anos, enumerando como prioridades as capitais europeias e outras geografias onde já operam. Em Portugal, a cadeia pretende manter-se líder de mercado. “Vamos fazer sempre os investimentos suficientes para nunca perder essa liderança, porque custou a ganhar. Para nós, também é importante a marca, em Portugal é conhecida, na Europa menos. Nos EUA, onde já temos uma base, é sempre bom criar uma sinergia à volta desse custo fixo. É sempre difícil o primeiro [hotel], à medida que vamos distribuindo os custos centrais, torna-se mais rentável o negócio e o conhecimento do local e do produto”.
Em ano de comemoração, o grupo estima atingir uma faturação de 500 milhões de euros. “Se correr bem, vamos faturar 500 milhões de euros no ano em que celebramos os 50 anos”. Dessa faturação, 80% corresponde à atividade em Portugal e o restante aos hotéis no estrangeiro. Depois de dois anos de pandemia, que significaram os piores anos para o grupo, 2022 trouxe números recordes a partir de março e, sobretudo, nos destinos de resort. “A procura mais pelos destinos de resorts foi muito grande (Madeira, Algarve e Açores) e as cidades tiveram uma procura mais lenta. No entanto, no segundo semestre já foi muito melhor, penso que a tendência é para crescer”. Do lado dos custos, o grupo Pestana também viu a fatura a aumentar, nomeadamente nos custos de mão de obra e na eletricidade, esta última com um aumento geral de 25%.
Previsões para 2023
Para 2023, as preocupações prendem-se com a inflação, os juros e o crescimento. No caso da inflação, Dionísio Pestana diz que a solução passa por aumentar a produtividade, “através da imaginação das equipas, mantendo a receita e defendendo as margens”. Na parte financeira, segundo o presidente do grupo Pestana, é preciso estar atento à tesouraria, “que é sempre o mais preocupante”. Por fim, quanto ao crescimento, Dionísio Pestana afirma que os novos investimentos terão de aguardar, enquanto que “o que está em construção é para acabar”. O grupo prepara-se para abrir dois novos hotéis em Lisboa, no primeiro semestre de 2023: um hotel junto ao arco da Rua Augusta e uma Pousada em Alfama. Lá fora, o grupo prevê dar início, também nesse período, à construção de um hotel em Paris da marca Pestana CR7 Lifestyle Hotels.
Mão de obra: “Temos de importar”
Reconhecendo que o modelo de mão de obra usado no passado mudou, ou seja, os colaboradores já não têm a mesma disponibilidade que tinham, muito graças as transformações que a pandemia trouxe ao mercado laboral, Dionísio Pestana reconhece que “não há mão de obra portuguesa qualificada suficiente para a procura que existe me Portugal, temos que importar”. Isso vai descaraterizar o produto hoteleiro? O presidente do Grupo Pestana responde que sim e não. “Vamos a outros países, como a Suíça e não são os suíços que estão lá trabalhar, isso vai acontecer e está acontecer, e cada vez mais esse a modelo de negócio vai ser o nosso maior desafio, quando pensarmos em hotéis no futuro, vamos ter de pensar qual o produto que queremos dar”, defende.
Neste momento, o grupo já tem colaboradores de outras geografias, mas Dionísio Pestana afirma que “são preciso vistos”, “nós damos a garantia da estadia e transporte e está o problema resolvido”.
Estrutura organizacional nos próximos anos
Dionísio Pestana não prevê alterações à estrutura organizacional do grupo nos próximos anos. “Na minha cabeça, as ideias estão muito claras, de há cinco anos para cá, o José Theotónio é o CEO, o José Roquette tem parte de desenvolvimento, e o Pedro Fino a parte financeira. Depois temos uma comissão de 10 pessoas, altamente qualificadas nas suas áreas específicas. Quando comecei era um one man show, hoje já não é assim, é uma máquina bem oleada, com um backoffice bem estruturado e muito preparado para o futuro, e com provas feitas. Lembro-me quando fomos para a internacionalização, em Londres, estávamos a jogar num campeonato já muito sofisticado, quando fizemos o nosso bench marketing éramos tão bons quanto os nossos concorrentes. Isso deu-nos confiança, saber que em Portugal temos gente muito boa para competir no mercado internacional”.
Da parte acionista, “o grupo está sólido, temos ativos muito grandes, com uma dívida estruturada”, afirma o presidente do Grupo Pestana, não perspetivando a entrada de outros acionistas no capital. “Vou sempre proteger os acionistas em nome da família e espero que a família depois dê continuidade. Serão eles depois a decidir, já estão a compreender e perceber a continuidade”, aponta.
Da Madeira para o mundo
A data do 50º aniversário do Grupo Pestana foi assinalada numa festa na Madeira, precisamente 50 anos depois de ter sido aberto o primeiro hotel do grupo, o Pestana Carlton Madeira. O sonho de Manuel Pestana (pai de Dionísio Pestana), emigrado na África do Sul, de investir na terra natal começou nos anos 60 com a compra do terreno hotel Atlântico entre os hotéis Reid’s Palace e Savoy. Mesmo sem know-how na hotelaria, decidiu arriscar e abrir o seu primeiro hotel na ilha. A 20 novembro de 1972, abria o Pestana Carlton Madeira, com 200 quartos. No entanto, a revolução de 25 de abril trocou as voltas ao business plan da empresa e Dionísio Pestana foi convidado pelo pai a ir para Madeira numa tentativa de salvar o negócio. “Quando percebi que o problema era um drama só pensava em voltar”, recorda. Foi ficando e acreditou que era possível. “Fui percebendo que as pessoas gostavam do destino, e pouco a pouco as coisas foram melhorando, até Portugal entrar na União Europeia. Começámos a perceber que havia matéria prima e o potencial estava lá”. O time-sharing, cujo modelo tinha acabado de ser exportado dos EUA para a Europa “foi o turning point” do negócio. “Como tínhamos inventário (200 quartos) começámos a vender para o mercado inglês. Ainda hoje temos famílias que compraram na altura e que tiveram connosco durante trinta anos, e depois renovaram por mais 10 anos. Com essa tesouraria foi possível viabilizar a empresa”.
Apesar “das dificuldades e dos vários ciclos” económicos, hoje o hotel Pestana Carlton Madeira, com 50 anos, “ainda está no top 3 de performance do Grupo Pestana”, lembra Dionísio Pestana. “Esta Grande Dama ainda compete pela sua localização, enquadramento e arquitetura. Foi uma história de sucesso”, conclui.