Rita Marques, presidente da Fundação Livraria Lello e ex-secretária de Estado do Turismo, revelou que 40% das empresas portuguesas de turismo não tem políticas para atrair e reter talento migrante.
Estes dados foram apresentados na 3.ª Conferência Anual de Turismo do Ireland Portugal Business Network (IPBN), que se realizou no passado dia 14 de novembro na galeria de arte WoW, no Porto.
No seu discurso, Rita Marques sugeriu que é necessário, para cumprir as normas, um aumento de 20% dos profissionais com formação de qualidade a trabalhar no setor. “O turismo é uma questão de pessoas. Precisamos realmente de reter os talentos que trabalham nas equipas que recebem os turistas, e a maioria deles são locais, por isso penso que é uma situação em que todos ganham.”
Além deste tema, Rita Marques disse que a Livraria Lello recebe, atualmente, 1,2 milhões de visitantes por ano e que está entre os três locais mais visitados em Portugal. Para satisfazer a procura dos visitantes, a livraria está a planear uma expansão de 300 metros quadrados. “Temos, contudo, garantir que os turistas não ficam apenas no Porto, mas que se deslocam a Gaia, Matosinhos e outros locais para criar um sistema de turismo mais sustentável.”
Na conferência, Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, subiu ao palco para falar sobre a sua estratégia de promoção da região Norte de Portugal, que tem como foco três vertentes: cooperação com os associados, investimento em tecnologia e criação de conhecimento.
Segundo o responsável, esta abordagem permitirá que a região se adapte ao novo perfil do turista nas suas diversas regiões: Porto, Douro, Trás os Montes e Minho.
Para tal, foram planeados programas “surpreendentes”, inovações, incentivos, entre outros, no âmbito de um quadro estratégico de desenvolvimento empresarial regional que vai além do turismo. Para 2025, apostarão em mercados internacionais emergentes, iniciando um projeto de promoção conjunta com a Galiza, visando o segmento LGBTQ+ emergente e segmentos desportivos como o surf e o golfe, construindo ferramentas para a viagem, alcançando objetivos de maturidade digital e sustentabilidade, e gerando benefícios económicos na região.
“Os números crescentes do turismo inspiram satisfação e a necessidade de continuar a avançar para tornar o turismo benéfico tanto para os habitantes locais como para os visitantes.”
Por sua vez, Adrian Bridge, CEO da Fladgate Partnership e proprietário do World of Wine (WoW), disse que um dos fatores mais importantes para o crescimento do turismo sustentável é o conteúdo. “Queremos pessoas que realmente sejam viajantes e que venham cá para interagir e descobrir”, frisou.
Miriam Kennedy, diretora da Wild Atlantic Way na Fáilte Ireland, relembrou as semelhanças entre Irlanda e Portugal, ao longo das linhas costeiras dos dois países. “Antes da crise global, tínhamos uma indústria turística boa e sólida na costa Oeste, mas não havia muito que unisse os condados ao longo dela. Demos-lhe o nome de Wild Atlantic Drive, mas não queríamos afastar os ciclistas, por isso mudámos para Wild Atlantic Way. O dinheiro foi-lhes concedido com a ressalva de que o projeto tinha de estar concluído em dois anos, pelo que tinham de avançar rapidamente – e foi o que fizeram.”
Para Miriam Kennedy, é necessário não comprometer a natureza selvagem e assumir um papel ativo como autoridade turística na gestão dos visitantes e investir em infraestruturas. “Há ainda um longo caminho a percorrer no Norte da Irlanda, chegar lá é uma coisa e deslocar-se é outra. O outro lado da moeda é que isso também faz com que esses destinos sejam menos visitados, mais autênticos e mais distantes. A autenticidade deve-se ao facto de serem novos para o turismo.”
Por último, Francisco Calheiros, presidente da Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago, disse aos participantes que “a maior concentração de turismo está no Porto” e que o desafio de o expandir para Norte “está presente”. Alguns destaques no Norte de Portugal são o Caminho de Santiago e o Parque Nacional do Gerês.