O Turismo de Portugal dará início, nos próximos dias, a uma série de reuniões temáticas com o objetivo de avançar na construção da Estratégia Turismo 2035. Esta fase segue o ciclo de sete sessões públicas realizadas entre 3 de outubro e 25 de novembro, que marcaram o arranque do processo de elaboração da nova estratégia para o setor.
No rescaldo destas sessões, Carlos Abade, presidente do turismo de Portugal, reuniu-se esta quarta-feira, dia 27, com a imprensa, para um balanço do processo de construção da nova estratégia para o turismo no nosso país e apresentar os próximos passos.
“Estamos a transitar para uma nova fase deste processo, que envolve reuniões mais específicas e direcionadas. A primeira parte consistiu no envolvimento de todos, onde ouvimos empresas, academia, entidades públicas, autarquias e as entidades regionais de turismo. Agora, com base nos desafios identificados, vamos aprofundar a discussão e abordar os temas de forma mais detalhada”, explicou Carlos Abade.
O presidente do Turismo de Portugal também destacou que as sessões realizadas até agora serviram como uma “prestação de contas” e como um ponto de situação sobre os desafios e as preocupações que devem nortear a Estratégia 2035. “As conferências anteriores focaram-se em lançar os temas e as questões que são essenciais para a nossa estratégia, e agora vamos detalhá-los nas sessões temáticas”, afirmou.
As reuniões temáticas irão cobrir áreas como sustentabilidade, mobilidade, liderança, recursos humanos e relação com as comunidades locais, entre outras. Estas sessões terão um formato mais reduzido e focado. “Vamos procurar soluções práticas e caminhos para resolver os desafios, com o objetivo de concluir, até o final deste ano ou início do próximo, a primeira versão da estratégia. Esta será, então, colocada à discussão pública em janeiro e, em fevereiro, apresentaremos a versão final”, explicou o responsável.
Até o momento, sete áreas estão definidas para estas reuniões temáticas: Comunidades, Lideranças, Ambiente e Sustentabilidade, Mercados, Tecnologia e Inteligência Artificial, Emprego e Formação e Mobilidade.
Carlos Abade afirmou ainda que, dependendo da evolução do processo, outras iniciativas podem ser incluídas. “Se ao longo das sessões percebermos que surgem novas necessidades, poderemos adicionar mais temas ou até realizar reuniões paralelas. O trabalho é dinâmico e depende da evolução das discussões”, afirmou.
Reuniões com especialistas e entidades do setor
Quanto aos participantes destas reuniões temáticas, Carlos Abade esclareceu que as discussões contarão com a presença de especialistas nacionais e internacionais, conforme os temas tratados. “As reuniões temáticas serão com um conjunto de entidades que, em função dos temas, vamos convidar a integrar os trabalhos. Estamos a trabalhar nisso, seja em áreas como sustentabilidade, tecnologia ou inteligência artificial”, explicou.
O presidente do Turismo de Portugal também mencionou que está prevista uma sessão específica para discutir os mercados internacionais, com a participação de especialistas internacionais. “O objetivo é que, em resultado de cada uma dessas sessões, consigamos ter uma ideia clara daquilo que podemos fazer para que osdesafios possam ser resolvidos”, acrescentou.
A Estratégia Turismo 2035 sucederá a atual Estratégia Turismo 2027 e faz parte do programa do Governo “Acelerar a Economia – Crescimento, Competitividade, Internacionalização, Inovação e Sustentabilidade”, lançado em julho deste ano. A nova estratégia visa garantir o crescimento sustentável do setor, com foco em inovação, digitalização e melhoria da competitividade de Portugal como destino turístico.
Em 2023, o país deverá alcançar a meta dos 27 mil milhões de euros em receitas turísticas, antecipando em dois anos a meta estabelecida para 2027.
Sucesso do turismo passa pelo valor para a economia e as pessoas
No encontro desta quarta-feira, o presidente do Turismo de Portugal reforçou ainda que a definição de “sucesso” para o setor do turismo em 2035 não pode basear-se apenas no número de turistas ou de dormidas. “O que queremos medir, do ponto de vista de sucesso, é a capacidade do turismo de entregar valor à economia e às pessoas. Este valor não se resume às receitas do turismo”, explicou Abade.
De acordo com o presidente, as receitas do turismo são apenas um indicador. “Claro que queremos crescer nas receitas do turismo, mas as receitas são basicamente a faturação. O que procuramos é crescer de forma sustentável e agregar mais valor”, afirmou.
Carlos Abade defendeu ainda que a chave para alcançar esse objetivo é a competitividade e a produtividade. “Temos que ser mais competitivos, com rácios de produtividade cada vez mais altos, pois, se não conseguirmos aumentar a produtividade, não seremos capazes de gerar mais valor”, afirmou. O responsável ressaltou que a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, é uma ferramenta essencial para tornar o setor mais eficiente. “A tecnologia não é apenas um desafio, é uma oportunidade de crescimento. Precisamos incorporar a inteligência artificial como uma alavanca para otimizar processos e melhorar a oferta de serviços.”
No entanto, o responsável destacou que a criação de valor no setor também depende de uma gestão mais eficaz do território. “O nosso território tem que ser mais competitivo, tem que dar condições às empresas para que possam desenvolver a sua atividade de uma forma cada vez melhor, para que elas próprias sejam cada vez mais produtivas, sob um território cada vez mais qualificado”, afirmou. o responsável apontou ainda a mobilidade como desafio: “Se queremos ser mais produtivos, temos que levar o turismo também a todo o território, para que todo o território possa contribuir para isso. Mas como é que levamos a todo o território se não conseguimos vencer o desafio de uma melhor mobilidade? É um tema que temos, de facto, que definir”.
Qualificação e valorização dos Recursos Humanos
A qualificação e valorização dos recursos humanos também foram temas centrais na intervenção do presidente do Turismo de Portugal. Carlos Abade destacou que, embora a qualificação seja crucial, a valorização dos profissionais do setor é igualmente importante. “Os dados mostram que as remunerações no setor do turismo cresceram cerca de 5,9% nos últimos anos, enquanto a média da economia foi de 2,3% a 2,4%. Esse é um bom indicador e um reflexo de uma maior valorização do setor”, afirmou.
Questionado se a Estratégia Turismo 2025 deve fazer referência ao crescimento das remunerações, o presidente do Turismo de Portugal afirmou: “O crescimento das remunerações deve estar, como sempre, indexado àquilo que é o crescimento da produtividade das empresas. Se a Estratégia tem objetivos ligados ao crescimento da produtividade, é natural que o tema das remunerações venha associado”. “Se queremos um setor de excelência, que seja cada vez mais produtivo, precisamos de equipas de excelência. E se temos equipas de excelência, precisamos de as qualificar, formalizar e valorizar, em termos de condições de trabalho. Por isso, não afasto a ideia de que haja, de facto, objetivos relacionados ao tema das remunerações.”
Quanto à necessidade de planear a formação de profissionais para o futuro, o responsável fez um alerta: “Precisamos antecipar quais serão as competências necessárias para os próximos anos. O setor está a mudar e, em 4 ou 5 anos, as exigências serão diferentes. O sistema formativo em turismo, desde as escolas de hotelaria até as universidades, deve ser flexível e capaz de ajustar sua oferta às necessidades do mercado”, explicou.
Fortalecer a relação entre turismo e comunidades locais
Outro ponto destacado por Carlos Abade foi a importância de fortalecer a relação entre o turismo e as comunidades locais. “A hospitalidade dos portugueses é um ativo estratégico para o turismo e para o país, e por isso, esse ativo deve ser bem cuidado”, disse. Este desafio, na opinião do responsável, “passa, para já, por informarmos e esclarecermos melhor e, por vezes, esclarecermos percepções que não estão tão certas, mas também atuarmos quando devemos atuar”.
O responsável também fez questão de lembrar que as lideranças no setor devem ser continuamente qualificadas. “Não podemos apenas qualificar as equipas. Também as lideranças têm que ser continuamente qualificadas. Melhores líderes seguramente irão gerir de forma melhor as suas equipas e dessa forma conseguirão retirar mais valor das organizações”, enfatizou Carlos Abade.