Observatório de Empreendedorismo em Turismo (LEO) da Universidade Lusófona
Por Álvaro Lopes Dias, Mafalda Patuleia e Rui Silva*
Agora que a pandemia nos permite vislumbrar a luz ao fundo do túnel, a indústria do turismo evidencia sinais claros de recuperação. Se, por um lado, existe uma concentração da atenção nos apoios vindos do PRR destinados à revitalização das empresas, por outro, a atenção tem sido centrada no fomento do empreendedorismo, existindo também estímulos para aqueles que, efetivamente, já tomaram a decisão de criar um negócio turístico.
O empreendedorismo não respeita apenas estas situações, importa também perscrutar os estágios mais iniciais do processo empreendedor e identificar como novas ideias e projetos embrionários poderão avançar para estágios mais avançados, isto é, a criação de novos negócios turísticos. É a esta fase inicial, a que se designa de Empreendedorismo Nascente, que pretendemos chamar a atenção neste texto.
Relativamente ao tópico do Empreendedorismo Nascente em turismo, muito pouco é conhecido, em Portugal e no mundo, relativamente aos mecanismos e fatores que despoletam a transição de estágio. Pela especificidade, complexidade e natureza de co-criação do turismo, simplesmente os modelos que existem noutros setores não podem ser ‘importados’, mas sim estudados na sua idiossincrasia. É isso mesmo que temos vindo a desenvolver no âmbito do Observatório de Empreendedorismo em Turismo (LEO) no Departamento de Turismo da Universidade Lusófona.
Iniciámos um estudo exploratório convidando personalidade de referência no turismo em Portugal, composto por diretores das principais organizações do setor assim como destacados académicos para participar num estudo de painel (Delphi). De seguida apresentam-se alguns resultados preliminares.
Um dos pontos que pretendemos aprofundar estava relacionado com as características ou capacidades do empreendedor em relação à sua aptidão para criar um novo negócio em turismo. De acordo com os resultados do painel, e por ordem de importância, o consenso foi atingido em torno da capacidade de alerta às oportunidades, a crença na sua própria capacidade de concretizar o negócio e a experiência de trabalho. De certa forma, estes resultados vêm desmistificar que os empreendedores descobrem oportunidades principalmente porque possuem conhecimentos prévios (educação ou experiência profissional) não disponíveis noutros. Os resultados revelam que esse fator pode contribuir, mas também se deve ter em consideração a vontade de criar um negócio, sendo que, em turismo, poderão existir diversas oportunidades onde as barreiras à entrada são inferiores quando comparados com outros setores.
Num segundo ponto do estudo, prendia-se com as características do contexto onde empreendedor se insere e que influenciam a criação de um negócio. Em primeiro lugar, surge a disponibilidade de capital próprio, seguido da existência de incubadoras ou outras entidades de apoio especializado, estando em terceiro a formação dos cursos de empreendedorismo que frequentaram contribuíram para desenvolver as competências empreendedoras. Frequentemente os empreendedores nascentes têm de lidar com a falta de relações estabelecidas com os canais e outros parceiros de mercado, assim como operarem num ambiente com recursos limitados e pouca experiência, atuando frequentemente com base no instinto e intuição empreendedora. Neste contexto, a qualificação dos empreendedores e o acompanhamento em infraestruturas especializadas, como incubadoras, podem ter um papel decisivo nas fases muito embrionárias das ideias.
Um terceiro ponto do nosso estudo e revelador da inovação e contributo do mesmo, está relacionado com as razões de falha (para não ter criado o negócio). Com efeito, muitas vezes olhamos para o empreendedorismo na ótica da criação de empresas, mas isso é redutor, pois estamos a analisar apenas aqueles que efetivamente avançaram, não se percebendo quais os fatores que afastaram os empreendedores de passar da ideia à prática. Os três principais elementos são: falta de compromisso ou tempo para com o negócio; perceção de que a ideia de negócio não tinha fundamento no mercado; perceção de que não controlava muitas componentes do negócio. No empreendedorismo em turismo, a ligação entre uma oportunidade identificada e o empreendedor deve ser sempre entendida num contexto geográfico, com as suas especificidades sociais, económicas e culturais. Neste sentido, as atividades que possam estimular a descoberta e a criação e também ajudar a incrementar a perceção de sucesso da futura iniciativa, verificando-se que a ideia (e a oportunidade a ela associada) resultam frequentemente do ajustamento entre a oferta e a procura, numa dimensão equilibradora e das mudanças tecnológicas, políticas ou sociais, como fatores de desequilíbrio.
Em suma, este estudo que, como referido, se encontra numa fase ainda exploratória, pretende alertar para que a atenção na recuperação da nossa indústria turística se centre também nos empreendedores nascentes, certamente ávidos de materializar ideias inovadoras e diferenciadas. Para eles, importa conhecer as suas limitações e barreiras, para que a nossa competitividade não perca uma fatia importante das ideias geradas e que, se nada for feito, nunca verão a luz do dia.
* Estudo realizado no âmbito do Observatório de Empreendedorismo em Turismo (LEO) da Universidade Lusófona
Investigadores responsáveis:
Álvaro Lopes Dias, Docente e Investigador do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona
Mafalda Patuleia, Diretora do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona e Investigadora
Rui Silva, Docente e Investigador no Instituto Superior de Gestão