Terça-feira, Novembro 28, 2023
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Entrevista Açores: “Estamos a trabalhar com as companhias aéreas para alargar a oferta, mas levará tempo até produzir resultados”

Os Açores recebem o próximo congresso da APAVT, que se realiza de 8 a 11 de dezembro em Ponta Delgada. Será uma oportunidade para, uma vez mais, reforçar a oferta do arquipélago junto “dos principais responsáveis pela comercialização dos destinos”. Sendo o mercado nacional o número um para os Açores, o evento reveste-se ainda de maior significado e importância, destaca a Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, em resposta às questões do TNews. A mitigação da sazonalidade é o grande desafio para o desenvolvimento do turismo nos Açores. Para isso, o governo tem estado a trabalhar com companhias aéreas para alargar a oferta e a criar incentivos para a realização de eventos em época média e baixa.

Os dados do INE referentes à região dão conta de um crescimento significativo no número de hóspedes, nas dormidas e nos proveitos globais em comparação com o primeiro semestre de 2021. Comparativamente a 2019, a região já recuperou os números pré-pandemia?

Os dados oficiais do primeiro semestre de 2022 demonstram que já estamos praticamente ao mesmo nível de 2019 e é expectável que no final da época alta já tenhamos superado esses valores. Na realidade, os meses de maio e junho de 2022 já estão acima dos registos de 2019.

Será possível ultrapassar este ano os números de 2019?

Temos essa expectativa, embora nunca de forma muito expressiva, pois vai depender de outros fatores designadamente os efeitos da pressão inflacionista no rendimento das famílias que poderá conduzir a reduções na procura ainda este ano.

Quais os mercados que estão a impulsionar a procura nos Açores?

O mercado nacional é aquele que mais rapidamente recuperou e que potenciou o crescimento da procura no ano passado e, este ano, já supera os valores de 2019. Os mercados emissores estrangeiros já estão, também, quase ao nível de 2019, destacando-se Alemanha, EUA, França, Espanha, Reino Unido, pelo maior volume. Mas há mercados com um comportamento muito interessante face ao passado, como é o caso da França, mas também Itália, Suíça, Áustria, entre outros do centro europeu.

Segundo a Associação Turismo dos Açores, 2022 viu o número de ligações aéreas para a Região Autónoma dos Açores triplicar em comparação com o ano de 2021. Considera que será possível manter estas ligações no inverno de 2022/2023, nomeadamente as ligações da British Airways, Transavia, Edelweiss e da United Airlines? De que forma é que a região está a trabalhar para isso?

No mundo do turismo, operações de verão são muito diferentes de operações de inverno. E são-no ainda mais em destinos jovens e emergentes, como os Açores. As companhias aéreas desenvolvem nova oferta para este tipo de destinos de forma gradual, alargando o seu período de operação à medida que se vão consolidando e de acordo com a avaliação de desempenho que vão efetuando. Estamos a trabalhar para que essa evolução seja sustentável e potencie a mitigação da sazonalidade. Na realidade, já se veem resultados em algumas dessas operações, que iniciaram em período de pico de época alta e já começam a alargar à época média.

“O mercado nacional é aquele que mais rapidamente recuperou e que potenciou o crescimento da procura no ano passado e, este ano, já supera os valores de 2019”

Um pouco por todo o mundo, vimos os aeroportos a serem afetados este verão, com greves, falta de pessoal. Por sua vez, o movimento nos aeroportos dos Açores em julho foi o mais alto dos últimos cinco anos. Não se registaram problemas nos aeroportos dos Açores?

Os aeroportos dos Açores, face a outras realidades, por exemplo, a nível nacional, e perante as mesmas dificuldades e um grande crescimento de movimento de passageiros, tiveram um desempenho muito satisfatório, porque também, dentro das suas possibilidades, se prepararam para isso.

Justamente por causa destes problemas na aviação, será possível manter ou até atrair mais companhias e ligações ao destino Açores?

Os Açores ainda estão longe de esgotar a sua capacidade de resposta e de receção de ligações aéreas. Prova disso é o investimento recente pela ANA – Aeroportos de Portugal e o trabalho que tem sido feito na preparação e captação de novas rotas internacionais pela ATA. Aliás, temos nota de potenciais interesses espontâneos de mais operadores e ligações.

A AHRESP relata que a falta de trabalhadores está a ter “consequências negativas” no turismo da região, porque existem “negócios que não conseguem abrir por falta de funcionários”. Como é que o destino está a lidar com a falta de mão de obra no setor e que respostas pode dar o Executivo nesta matéria? A nível, por exemplo, da fiscalidade – ao aliviar as empresas, estas, por sua vez, podem ter condições mais atrativas para os trabalhadores.

Este não é um problema só do turismo nos Açores. É generalizado, a nível nacional e até internacional. O nosso desafio está, sobretudo, relacionado com a rapidíssima recuperação que conseguimos face aos tempos de pandemia, por contraponto a uma resposta mais lenta do mercado de trabalho. Em todo o caso, estão a ser implementadas várias medidas, desde a criação de novas soluções de formação profissional, que permitam colocar rapidamente quadros qualificados no ativo, mas também criando apoios à contratação e à estabilidade laboral no setor do turismo, como são exemplos os programas TURIS.ESTÁVEL e FORM.AÇORES.

Qual foi a estratégia dos Açores para relançar a procura turística pós-pandemia? Os Açores beneficiaram, de alguma forma, do facto de já estarem posicionados como um destino sustentável e não massificado?

Há três variáveis nesta equação. Primeiro, as questões associadas à segurança sanitária foram determinantes. Os Açores foram uma região com um desempenho ímpar, de excelência, a nível nacional e internacional, na contenção e combate à pandemia. Isso criou uma confiança muito forte no destino. Em segundo lugar, houve, numa primeira fase, uma decisão estratégica promocional de aposta no mercado interno e nos mercados de proximidade. O mercado nacional foi o “alvo” principal dessa estratégia, que foi uma aposta ganha, e que aliou a segurança, a proximidade e a principal proposta de valor do destino Açores – a natureza. E isso leva-nos à terceira variável, que é precisamente o posicionamento como destino de natureza sustentável. A certificação internacional que conquistámos foi fundamental na criação de confiança e de atratividade, e foi precisamente ao encontro de uma tendência da procura que se intensificou no pós-pandemia, que é a procura por destinos de natureza, atividades outdoor e locais sustentáveis e não massificados.

“Nos Açores, já há locais, há vários anos, que têm limitação de visitação ou taxas associadas”

Os Açores são conhecidos pela sua natureza, quase intacta, mas o crescimento do turismo traz desafios. Qual é a política/visão deste Executivo face à pressão turística? É uma política mais proibitiva, de taxação de turistas,  de imposição de numerus clausus ou limitações ao número de visitantes diários das atrações turísticas?

A política do atual Executivo é, sobretudo, baseada na flexibilidade e na melhoria contínua e não na estanquicidade de medidas. Os Açores conquistaram uma certificação como «Destino Sustentável» e trabalham de forma árdua na evolução dessa certificação, que é progressivamente mais exigente ao longo do tempo, pela própria natureza do seu normativo. Isso significa que há uma atenção permanente e uma avaliação sistemática e sistémica da evolução do turismo e da pressão turística, seja ela pontual ou permanente, no território ou no tempo. Ainda para mais, os Açores são 9 ilhas, no Atlântico Norte, e isso exige grande capacidade de maleabilidade na gestão dos fluxos turísticos e do desenvolvimento do produto. Há questões que têm que ter um tratamento transversal ao território, mas outras que têm que ser ponderadas caso a caso.

Taxa turística em 2023: “será uma forma de promover a sustentabilidade do destino e de atenuar as externalidades negativas, produzidas pela visitação turística, minimizando o seu impacto”

Temos um exemplo recente da Lagoa de Fogo, na ilha de São Miguel, onde se vai passar a pagar estacionamento junto ao miradouro. É possível que haja no futuro mais medidas semelhantes a esta?

A utilização do parque de estacionamento no miradouro da Lagoa do Fogo é gratuita nos primeiros 20 minutos. Só é passível de cobrança após esse período, de modo a estimular a rotação da utilização de lugares e a evitar a aglomeração de viaturas. É uma medida utilizada, por exemplo, no centro de qualquer cidade, como acontece com Ponta Delgada, ou em atrações turísticas em imensos locais do mundo. Aliás, neste caso da Lagoa do Fogo, é até uma medida limitada no tempo, no pico da época alta. Nos Açores, já há locais, há vários anos, que têm limitação de visitação ou taxas associadas, mas há também outras formas de controlo, como o melhoramento das condições de visitação, estudos da capacidade de carga, opções de mobilidade ou diversificação de pontos de interesse turístico numa determinada área.

Qual será a finalidade da taxa turística, que entrará em vigor em 2023?

A taxa turística foi aprovada pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores por proposta do PAN. De acordo com o articulado do diploma, será uma forma de promover a sustentabilidade do destino e de atenuar as externalidades negativas, produzidas pela visitação turística, minimizando o seu impacto.

Ao nível do investimento privado, os Açores têm conseguido atrair investimento em novos hotéis, alojamentos, empresas turísticas?  

O investimento no desenvolvimento da oferta e do produto continua a existir. Como é natural, a pandemia teve os seus impactos e a atual conjuntura internacional está a implicar novos desafios para todo o mercado. No entanto, a dinâmica continua muito ativa e perspetiva-se que, com a entrada em vigor do novo Programa Operacional Regional comparticipado por fundos comunitários e com o respetivo acesso ao novo sistema se incentivos “Construir 2030”, surjam várias novas iniciativas em toda a cadeia de valor ao longo dos próximos anos.

Recordo que, no âmbito do processo de certificação internacional como “Destino Turístico Sustentável” da EarthCheck, os Açores já obtiveram o nível prata. Estão a trabalhar para obtenção do nível ouro? Quando será possível essa certificação? E quais os maiores desafios que se colocam nesta fase?

O sistema normativo que certificou os Açores como “Destino Turístico Sustentável” é muito exigente e progressivo. Exige um compromisso de longo prazo em que, ao longo do tempo e mediante o cumprimento de marcos, se vão conquistando novos patamares de certificação. Obtivemos, no ano passado, o Nível 2 de Prata e estamos a trabalhar para ter este ano o Nível 3 de Prata, num caminho que nos levará ao Nível de Ouro em 2024. O sistema de certificação, pela sua exigência e critérios – de acordo com o Global Sustainable Tourism Council – impõe este ritmo, mas, muito mais do que isto, impõe um profundo, amplo e permanente trabalho para cumprir com os objetivos e patamares previstos. Por esse motivo, os desafios são crescentes e abrangem várias áreas, dada a transversalidade do turismo, mas também do próprio conceito de sustentabilidade.

Sazonalidade: “Temos estado a trabalhar com companhias aéreas para alargar a oferta, mas isso é um trabalho de longo curso, que levará tempo até produzir resultados mais visíveis”

Os Açores ainda têm sazonalidade, embora sejam um destino atrativo o ano todo. Qual é a estratégia para combater a sazonalidade? E nesta lógica de combater a sazonalidade, que outros produtos turísticos poderiam ser mais potenciados pelo destino?

A sazonalidade é, provavelmente, o desafio comum a todos os destinos turísticos do mundo. É algo que está muito mais dependente do modelo atual de Sociedade do que propriamente dos destinos em si mesmos. Só a simples configuração do calendário escolar influencia determinantemente a sazonalidade internacional. De qualquer modo, a mitigação da sazonalidade é, efetivamente, o grande desafio que temos em mãos para o desenvolvimento do turismo nos Açores, embora tenhamos condições de excelência para ser um destino de ano inteiro. Temos estado a trabalhar com companhias aéreas para alargar a oferta, mas isso é um trabalho de longo curso, que levará tempo até produzir resultados mais visíveis. Estamos, também, a criar incentivos para a realização de eventos em época média e baixa, bem como a estimular novos produtos turísticos, associados ao turismo de natureza, cultura, saúde e bem-estar, Meetings & Incentives, entre outros mais específicos ou de nicho.

Associação de Turismo dos Açores: “Tem tido, nos últimos anos, um papel determinante na dinamização e na recuperação do setor e continuará a ser, certamente, um ativo central nessa missão”

Quando avança o processo de privatização da SATA?  Qual a calendarização que está definida?

O processo decorre de acordo com o Plano de Reestruturação aprovado pela Comissão Europeia. Esse processo respeitará o calendário e todos pressupostos e trâmites legais e necessários de acordo com o referido do plano de reestruturação.

Como é que olha para o papel da Associação de Turismo dos Açores?

A Associação de Turismo dos Açores é a Agência Regional de Promoção Turística da Região Autónoma dos Açores e, porquanto, o veículo essencial para a promoção externa do destino. Tem tido, nos últimos anos, um papel determinante na dinamização e na recuperação do setor e continuará a ser, certamente, um ativo central nessa missão.

Congresso das agências de viagens: “A APAVT é um parceiro de longa data, com quem é sempre ótimo trabalhar”.

Em maio deste ano foi anunciado que o Governo Regional voltaria a integrar a ATA. Isso já aconteceu? Qual é atualmente a relação desta associação com o Governo Regional?

Em 2019, por decisão do Governo de então, houve a opção de desvincular institucionalmente a Região Autónoma dos Açores da ATA. O atual executivo tem uma visão diferente do modelo de promoção turística que deve ser seguido e da ligação que deverá existir entre o setor público e o setor privado neste domínio. Está a ser estudada, com critério e sustentação, a possibilidade de voltar a integrar a ATA, algo que será finalizado em devido tempo.

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) anunciou a realização do seu congresso anual este ano em Ponta Delgada. Qual a importância de receber este congresso para os Açores e o que esperam que possa trazer ao destino no curto prazo?

A APAVT é um parceiro de longa data, com quem é sempre ótimo trabalhar. Congrega os grandes canais de distribuição nacionais. São eles os principais responsáveis pela comercialização de destinos, sobretudo para o mercado nacional, que é o mais importante mercado emissor para os Açores. Só por isso, pela visibilidade que dará ao destino e pelo potencial imenso de criação de negócio já se percebe a importância de acolher este evento. Além disso, demonstrará àqueles agentes, mas também ao restante mercado, que os Açores têm todas as condições para acolher e organizar eventos de grande dimensão, de elevada complexidade logística e requisitos técnicos. E, tudo isto, em plena época baixa, contribuindo para a dinamização do mercado nessa altura do ano.

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