O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo iniciou esta quinta-feira, dia 11, um novo mandato mas garante que será o último. Pedro Costa Ferreira fez questão de começar e terminar com esta afirmação o discurso de Tomada de Posse dos novos Corpos Sociais da associação, para o triénio 2024-2026, resultantes das eleições que tiveram lugar a 12 de dezembro do ano passado.
Num discurso de quase 30 minutos, o presidente da APAVT fez agradecimentos, nomeadamente ao presidente da Assembleia Geral cessante. Tiago Raiano não se recandidatou a um novo mandato por decisão própria. O CEO da Newtour explicou, momentos antes, quando deu início à cerimónia, o porquê da decisão.
“A manutenção da liderança associativa que a APAVT protagoniza exige ela própria regeneração, mudança, nova visão”
“Hoje, e após uma ponderação prolongada, de várias pessoas, e com o Pedro Costa Ferreira, iniciamos um movimento de auto-limitação de mandatos da APAVT. Mais difícil do que limitarmos estatutariamente os mandatos, é impor-nos a nós próprios um limite. É com esse enquadramento, e de uma forma planeada e pensada, que deixo hoje a presidência da mesa, o Armando Ferraz deixa a presidência do Conselho Fiscal, e os órgãos sociais que tomam hoje posse têm uma grande renovação das pessoas que vão assumir hoje as suas funções”, disse.
Tiago Raiano acabou por abrir as hostes para o discurso de Pedro Costa Ferreira, onde este explicou também a razão porque não voltará a candidatar-se a um novo mandato: “A manutenção da liderança associativa que a APAVT protagoniza exige ela própria regeneração, mudança, nova visão”.
Pedro Costa Ferreira conduziu depois o discurso para um balanço dos últimos três anos de mandato, marcado sobretudo pela pandemia.
“Terminamos hoje três anos que terão na história da APAVT um lugar especial”, afirmou. “Não nos esquecemos que tomámos posse, há três anos, de máscara na cara (…) como não nos vamos esquecer de que terminamos o mandato representando um sector que terá atingido, este ano, o seu melhor resultado de sempre”, sublinhou.
O presidente da APAVT recordou a crise de 2020/ 2021 como “a maior das nossas vidas” e lembrou “o vigor, a proximidade e a efetividade de uma Secretária de Estado que nos ajudou a salvar o sector, a Rita Marques, bem como um Ministro da Economia que sempre teve tempo e disponibilidade para nos ouvir, e inteligência para nos ajudar, o Pedro Siza Vieira”.
O presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros foi também destacado “como mais um elemento da equipa, e esse é certamente o maior elogio que lhe podemos fazer”, e o Turismo de Portugal que, nas palavras de Pedro Costa Ferreira “se agigantou e que provavelmente foi quem melhor e mais cedo entendeu que, se as empresas não sobrevivessem, o Turismo não sobreviveria”.
“nunca deixaremos de defender intransigentemente os interesses legítimos do setor, mas nunca deixaremos de dialogar com todos, com o objetivo concreto de conciliar e consensualizar”
Já num outro momento do discurso, no qual elencou os pilares de atuação da APAVT, Pedro Costa Ferreira foi mais acutilante. “Em primeiro lugar, nunca deixaremos de defender intransigentemente os interesses legítimos do setor, mas nunca deixaremos de dialogar com todos, com o objetivo concreto de conciliar e consensualizar”.
“Ninguém nos pode comprar, somos uma associação que nunca vai estar à venda, nem no palco, nem atrás da cortina, e bem sabemos que uma boa dose do respeito que têm por nós se deve a esse facto. Tenho uma boa notícia para todos: Vai continuar a ser assim”, garantiu.
“Somos a Associação de todas as empresas do sector, de todos os planos de negócio, de todas as estratégias comerciais, de todos os empresários e de todos os colaboradores. Vai continuar a ser assim”, sublinhou o responsável.
“Ninguém nos pode comprar, somos uma associação que nunca vai estar à venda, nem no palco, nem atrás da cortina”
Na agenda deste mandato que se inicia, vão estar novos temas e outros que são velhos conhecidos da associação. É o caso da nova diretiva europeia sobre viagens organizadas.
“Não estamos, quanto a este dossier, pessimistas. (…) A procissão está agora a sair do adro, mas bem sabemos que teremos de voltar a defender intransigentemente os nossos interesses, assim como estar absolutamente disponíveis para dialogar, conciliar, somar, junto da Tutela, bem como, evidentemente, novamente disponíveis e interessados em trabalhar uma posição conjunta com a DECO”, avançou o presidente.
“Já começou uma revolução na relação da indústria aérea com o setor. A TAP e outras companhias aéreas anunciaram a intenção de introduzir o NDC no mercado português e a IATA mantém a pressão sobre uma relação já de si injusta, totalmente desequilibrada, desenhada pelos poderosos lobbies europeus da indústria aérea”
Um dos dossiers da agenda será a relação com a aviação, nomeadamente o NDC da TAP. “Já começou uma revolução na relação da indústria aérea com o sector. A TAP e outras companhias aéreas anunciaram a intenção de introduzir o NDC no mercado português e a IATA mantém a pressão sobre uma relação já de si injusta, totalmente desequilibrada, desenhada pelos poderosos lobbies europeus da indústria aérea”.
Apesar dos desafios, o presidente da APAVT reconhece que a relação com a companhia aérea portuguesa “pode agora ser diferente”, algo que justifica com a ”credibilidade absoluta dos dirigentes da TAP, facto que só nos pode ajudar a desenvolver tão exigente tarefa”.
Quanto às questões relacionadas com a solução aeroportuária nacional, Pedro Costa Ferreira afirma que manter-se-ão . “Não apenas a lamentável inexistência de uma solução para o novo aeroporto, em que a APAVT estará, como tem estado, junto da CTP, como também as dificuldades de obtenção de slots, as más experiências de turistas nacionais e internacionais, e mesmo a capacidade de desenvolvimento de operações noutros aeroportos, concretamente o do Porto, temas que serão tratados em sede tanto do capítulo de operadores, como dos capítulos aéreos, de distribuição e de incoming”.
Pedro Costa Ferreira admite ter “esperanças ténues” no que concerne à capacidade política para resolver a questão do aeroporto, “ainda mais com a recente crise política”, e pede que o “problema brutal do aeroporto de Lisboa, não oculte outros problemas da mesma matriz, como sejam as dificuldades de operação no aeroporto da Madeira, onde poderá haver medo político de alterar antigos parâmetros técnicos, quando toda a tecnologia, em terra e no ar, já evoluiu exponencialmente”.
As “dificuldades de mobilidade da operação turística em Lisboa” e a inexistência de uma estratégia integradora do Património Cultural no Turismo” estão também na mira da APAVT, que admite um diálogo com todas as partes envolvidas. “Estamos conscientes das causas, mas não nos demitimos de fazer parte do diálogo que nos traga as melhores soluções”.
Foram elencadas ainda outros desafios que se colocam ao setor, nomeadamente a sua modernização e planos de certificação ambiental . “Teremos de acompanhar e apoiar a inserção da Inteligência Artificial no setor e temos o dever de continuar a tratar com muita atenção e todo o carinho um modelo único no Mundo, de relacionamento com o cliente, o Provedor do Cliente da APAVT, e de desenvolver o modelo de certificação da DECO, um projeto absolutamente inovador e que está muito longe de atingir a dimensão e a maturidade que merece, que desejamos e que tanto beneficiará o setor”.
Com o Governo em gestão e eleições legislativas à porta, o discurso de Pedro Costa Ferreira focou a ainda a relação com a tutela. “A instabilidade política é enorme, e, portanto, não sabemos com quem vamos dialogar nem quando vamos começar a dialogar. Ninguém sabe. Porém, com quem quer que seja que venhamos a dialogar, sabemos bem o que vamos querer”.
“Vamos querer um governo e uma tutela que olhe para o sector da distribuição, sabendo que representamos entre efeitos diretos, indiretos e induzidos, cerca de 5 mil milhões de euros”
Do novo Governo, Pedro Costa Ferreira espera “estabilidade e que seja capaz de decidir, iniciando as obras da nova solução aeroportuária, que seja capaz de legislar pouco e fazer cumprir o que legislou, dando estabilidade à vida económica e confiança aos empresários”. Por outro lado, espera também que “o Governo atue sobre as empresas clandestinas que se apresentam como agências de viagens, sem o necessário RNAVT, e, o que é mais, sem a devida proteção ao consumido”. Por fim, o presidente da APAVT espera do novo Governo “soluções para baixar os impostos, em lugar de buscar todas as soluções no aumento dos impostos. Sobretudo, vamos querer um governo e uma tutela que olhe para o sector da distribuição, sabendo que representamos entre efeitos diretos, indiretos e induzidos, cerca de 5 mil milhões de euros”.
Pedro Costa Ferreira quis frisar ainda que a relação com a tutela será regida por princípios de “transparencia, independência, diálogo e trabalho discreto”. “Manteremos a primazia pelo trabalho discreto, não temos necessidade de palco. Temos a experiência necessária para sabermos que os resultados estão sempre muito mais próximos do trabalho honesto de gabinete, do que de comunicados que berram alto, mas produzem um conjunto vazio. Foi assim na Pandemia, é assim na vida normal também”.
O presidente da APAVT terminou como começou: “É a minha última tomada de posse, e isto faz com que tenhamos uma responsabilidade acrescida: vamos formar mais uma onda de adesões, fortalecendo a voz da associação em processos transformadores tão decisivos como a transposição da diretiva europeia, ou a inserção dos mecanismos de inteligência artificial nas empresas e vamos formar um grupo coeso e extensivo a todos os associados que se queiram juntar, para protagonizar um futuro do qual eu já não farei parte”.
A composição dos novos corpos sociais da APAVT:
Direção
Presidente : Pedro Costa Ferreira (Lounge)
Vice Presidente : Carlos Baptista (Gecontur)
Vice Presidente : Raquel Oliveira (Destination Travel Solutions)
Vice Presidente : Duarte Correia (W2M)
Diretora-Tesoureira : Vanda Pina (Travel 2000)
Diretora : Joana Silveira G. de Matos (Wide)
Diretora : Fátima Pinto da Silva (Viagens Expansão)
Suplente : Paula Antunes (Compasso)
Suplente : José Bizarro (Transalpino)
Suplente : André da Silva Gabriel (Tejus)
Assembleia Geral
Presidente : Rui Pinto Lopes (Pinto Lopes Viagens)
Vice Presidente : Vânia dos Santos (Club AF Santos Turismo)
1º Secretário : Jorge Humberto (Escolher Destinos)
2º Secretário : Catarina Cymbron (Melo)
Conselho Fiscal
Presidente : Frédèric Frére (Travelstore)
Vogal Efetivo : Isabel Martins (PTeam Agaxtur)
Vogal Efetivo : João Carlos Correia (Time4Travel)
Vogal Suplente : Luís Lourenço (Lusanova)