Segunda-feira, Outubro 14, 2024
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Hoteleiros sem fronteiras | Com Miguel Martins, Head Development Northern Europe da IHG Hotels & Resorts

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“Hoteleiros sem Fronteiras” consiste numa série de entrevistas com profissionais portugueses que desenvolvem a sua atividade no estrangeiro, procurando explorar os seus percursos profissionais e as experiências que têm adquirido em diferentes mercados.

Com Miguel Martins

Miguel Martins começou a sua carreira na consultoria hoteleira, onde se dedicou ao desenvolvimento de projetos para grandes marcas internacionais. No entanto, foi a proposta para dar apoio temporário à criação de uma nova empresa na Polónia, que o levou a expandir a sua carreira além fronteiras. Ao longo de duas décadas, o seu percurso transcendeu o âmbito profissional, proporcionando-lhe não apenas crescimento pessoal, mas também uma riqueza de experiências culturais. Atualmente, como Head Development Northern Europe da IHG Hotels & Resorts, com base em Frankfurt, é responsável pelo desenvolvimento e expansão de 18 marcas em 23 países. Coordena uma equipa espalhada por três regiões diferentes, Países Nórdicos, DACH (Alemanha, Áustria e Suíça) e Europa de Leste, coordenando e apoiando a conclusão de contratos de gestão ou de franchising. Nesta entrevista, recordamos os momentos marcantes, os desafios superados e as lições aprendidas ao longo de um percurso profissional notável.

Como começou sua carreira na indústria hoteleira?

A minha carreira na hotelaria começou numa empresa de consultoria em Lisboa, a Dynamic Hotels, especializada no desenvolvimento de projetos com marcas internacionais (IHG Hotels & Resorts, Marriott, Hilton, Accor, Radisson) e nacionais. O interesse em empreendedorismo e na criação de projetos, desde a concepção até a gestão, sempre foi algo presente durante a minha pós-graduação em Direção e Gestão Hoteleira na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar no exterior? Por que escolheu fazer carreira no estrangeiro?

A oportunidade de trabalhar no exterior surgiu, primeiramente, devido a uma experiência em solo nacional, na qual a Dynamic Hotels foi parte integrante na criação da empresa Palminvest, sendo inicialmente co-proprietária. Essa empresa tinha como principal objetivo o desenvolvimento de uma cadeia de hotéis em Portugal e no Norte da Espanha com a marca Holiday Inn Express em cooperação de franchising. Do sucesso consumado desse projeto, foi idealizado criar uma empresa na Polónia para realizar um projeto idêntico. Inicialmente, foi-me proposto dar um apoio temporário na criação de uma nova empresa, bem como as bases operacionais em solo polaco para o desenvolvimento e gestão de 15 hotéis. No entanto, a experiência estendeu-se no tempo devido à sua complexidade, e foi-me proposto o cargo de diretor geral da empresa. A oportunidade de assumir tal responsabilidade em fase ainda inicial na minha carreira profissional foi determinante para dar continuidade à minha presença no estrangeiro, permitindo-me adquirir competências técnicas, profissionais e pessoais às quais nunca teria acesso em solo nacional.

Como a experiência de trabalhar no estrangeiro há 20 anos influenciou o seu crescimento profissional e pessoal?

A experiência de trabalhar no estrangeiro mudou radicalmente o processo de maturidade e crescimento, tanto profissional quanto pessoal, o que foi um dos principais motivos que me levaram a continuar no estrangeiro. O nível de exigência subjacente, onde se destacam a necessidade de adaptação a diferentes mentalidades, processos e idiomas, são desafios e aprendizagens constantes.

Quais foram os momentos mais significativos e memoráveis ao longo do seu percurso profissional?

Os momentos mais marcantes a nível profissional estão diretamente ligados aos sucessos com as aberturas de vários hotéis na Europa do Norte, que são motivo de grande orgulho, uma vez que contribuíram para a evolução do mercado hoteleiro nos seus respectivos países, com destaque para a Polónia, Hungria, Roménia, Holanda, Áustria ou Alemanha. Os momentos mais marcantes a nível pessoal estão ligados à constituição de família no estrangeiro (esposa e dois filhos).

Como manteve a ligação às raízes culturais portuguesas durante essas duas décadas no exterior?

A ligação com a comunidade portuguesa é sempre importante, especialmente quando se leva duas décadas no estrangeiro; as amizades vão se acumulando e permanecendo. Sempre me surpreendeu ver portugueses espalhados pelo mundo e, em muitos casos, em cidades remotas, mas sempre disponíveis para dar a conhecer o seu país. Em casa, a comida e o vinho português nunca faltaram, bem como a música.

“O conselho que dou recorrentemente às minhas equipas de trabalho é da necessidade constante de errar e evoluir, progredir profissionalmente e pessoalmente, ter paixão e orgulho pelo trabalho desenvolvido e, sobretudo, não ter receios em tomar decisões quando a motivação deixa de existir no dia a dia”

Como testemunhou a evolução da indústria hoteleira ao longo das últimas duas décadas? Existem mudanças específicas que se destacam na sua opinião?

A evolução na indústria hoteleira e nos países dos quais sou responsável pelo desenvolvimento mudou radicalmente. Começando pela expansão das ligações aéreas mundialmente, melhoria das infraestruturas de comunicação e as estratégias de desenvolvimento turístico, negócio ou eventos dos destinos, gerando um aumento massivo da procura e concorrência. Para dar resposta a esta procura, houve um aumento exponencial do número de conceitos hoteleiros, de marcas e uma evolução da oferta, com as cadeias internacionais a terem um maior controlo do mercado. A profissionalização da gestão hoteleira (sobretudo no pós-Covid) e hoje em dia a consolidação de cadeias internacionais são outras ocorrências recentes no mercado que estão para durar nos próximos anos.

Que conselhos daria a profissionais que trabalham no exterior há muito tempo e procuram continuar a progredir nas suas carreiras?

O conselho que dou recorrentemente às minhas equipas de trabalho é da necessidade constante de errar e evoluir, progredir profissionalmente e pessoalmente, ter paixão e orgulho pelo trabalho desenvolvido e, sobretudo, não ter receios em tomar decisões quando a motivação deixa de existir no dia a dia.

Quais são os principais objetivos de desenvolvimento para a região do Norte da Europa?

Os principais objetivos prendem-se com o crescimento e consolidação da nossa presença na Alemanha, dar continuidade ao crescimento dos últimos anos na Europa de Leste e expandir a presença em mercados onde ainda não temos presença, como por exemplo em alguns países nórdicos ou nos bálticos.

Quais são as estratégias-chave que implementou para impulsionar o desenvolvimento e a expansão na região do Norte da Europa?

A estratégia-chave passou pela parceria com empresas locais ou internacionais com cariz de expansão, com reputação e valores semelhantes à nossa empresa e sobretudo com uma visão estruturada dos investimentos a médio e longo prazo no setor. A consolidação destas relações e, sobretudo, da confiança mútua, bem como o sucesso dos investimentos, permitiu-nos ter múltiplos hotéis com os mesmos parceiros e acelerar a expansão em vários mercados. O facto de termos uma equipa de desenvolvimento nas principais regiões permite um conhecimento detalhado da evolução dos mercados, avaliação das oportunidades e aconselhamento fidedigno aos nossos parceiros.

Como identifica oportunidades de crescimento e novos projetos?

A principal forma de identificar oportunidades é estar no terreno, comunicar de forma clara o nosso plano de desenvolvimento e expansão e estar em contato permanente com os parceiros locais e internacionais, explorando cooperação em projetos planeados ou articulando contactos a fim de explorar oportunidades nunca antes consideradas. O facto de termos uma vasta cadeia de hotéis em vários destinos permite-nos avaliar oportunidades de mercado onde a oferta ainda tem dificuldade de acompanhar a procura.

Como a IHG Hotels & Resorts incorpora inovações na concepção e desenvolvimento de novos hotéis?

A IHG Hotels & Resorts está numa evolução constante das suas marcas e dos seus standards, sobretudo pela análise e observação das motivações, interesses e tendências dos nossos clientes fidedignos. No entanto, além da evolução das marcas, os aspetos operacionais, tecnológicos, promoção e fidelidade têm sido de especial importância para a nossa empresa se manter competitiva no mercado.

Há alguma mudança significativa no comportamento do cliente que influencia as decisões de desenvolvimento?

Conforme referido acima, a evolução das marcas deve-se sobretudo ao consumidor final, as suas preferências e tendências de consumo e, por conseguinte, os planos de desenvolvimento e expansão estão em constante ajustamento e evolução. Para dar um exemplo específico, no pós-Covid, as nossas marcas tiveram a necessidade de incorporar uma componente extended-stay ou long-stay nos seus hotéis, quer em cidades quer em destinos de lazer, uma vez que hoje em dia o local de trabalho evoluiu para trabalho remoto ou híbrido, criando uma tendência bleisure (trabalho e lazer) nunca antes vista à grande escala.

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