Os incêndios que marcam o verão de 2025 em Portugal estão a ter consequências no setor do turismo, embora os números concretos ainda estejam por apurar. A avaliação oficial está a ser feita em conjunto com autarquias, Comunidades Intermunicipais e associações do setor, mas tanto entidades públicas como privadas confirmam que a atividade turística sofreu uma quebra, com cancelamentos e reservas em queda.
“Neste momento ainda não dispomos de números finais. A Turismo Centro de Portugal está a realizar um levantamento detalhado, em articulação com municípios, CIMs e a AHRESP, para identificar os empreendimentos e outras empresas do setor turístico que foram afetados”, explica Rui Ventura, presidente da Turismo Centro de Portugal, em declarações ao TNews. O responsável sublinha que os maiores impactos se verificaram em unidades de alojamento local e de turismo em espaço rural, sobretudo em “áreas de serra e floresta”.
Quanto ao cancelamento de programas de animação turística, também aqui o impacto está por apurar. No entanto, o responsável do Turismo do Centro avança que “foram reportados cancelamentos, sobretudo em atividades ligadas à natureza – percursos pedestres, visitas às aldeias históricas e do xisto, programas de montanha ou animação fluvial. Estamos em contacto com os operadores locais para recolher informação precisa e identificar necessidades de apoio”.
“Existe também um impacto reputacional, que infelizmente se prolonga no tempo, uma vez que muitos turistas já estão a optar por adiar ou redirecionar as suas férias para outros locais, afetando seriamente a confiança dos destinos”, Ana Jacinto
Do lado da restauração e hotelaria, a situação não é diferente. Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, confirma que “este drama dos incêndios tem provocado cancelamento de reservas e redução significativa da taxa de ocupação no alojamento turístico, o que origina uma quebra generalizada em toda a atividade turística”. Além do efeito imediato, alerta para um problema de confiança: “Existe também um impacto reputacional, que infelizmente se prolonga no tempo, uma vez que muitos turistas já estão a optar por adiar ou redirecionar as suas férias para outros locais, afetando seriamente a confiança dos destinos”.
A mesma preocupação é partilhada pelo alojamento local. Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), afirma que “ainda é cedo para avaliações formais, mas já sabemos que em muitas zonas de turismo de natureza o entorno foi bastante afetado, o que condiciona diretamente a experiência do visitante”. Embora não haja registo de danos diretos a estabelecimentos, a incerteza já pesa: “Nesta fase, aquilo que nos chega de feedback e vemos nos fóruns de discussão são dúvidas de como proceder sobre cancelamentos em zonas mais próximas ou afetadas pelos incêndios. Dúvidas de cancelamentos por iniciativa dos hóspedes, mas também por iniciativa dos titulares no sentido de anteciparem riscos e problemas nas estadias com viajantes menos informados. Em relação a novas reservas, não temos dados comparativos concretos, mas parece óbvio que os operadores nas zonas mais próximas dos focos tenham parado de receber reservas a curto prazo e que o verão ficou comprometido”.
Quanto a medidas de apoio, há expectativa mas ainda sem respostas definitivas. “Estamos a trabalhar para dar ao Governo dados concretos e, numa fase seguinte, solicitaremos reuniões com a secretaria de Estado do Turismo, o Turismo de Portugal, a CCDRC, as Comunidades Intermunicipais, a AHRESP e outras entidades e parceiros da região para que sejam encontradas medidas rápidas e eficazes”, refere Rui Ventura. Já a AHRESP defende que, além das medidas de emergência, devem ser criados apoios a fundo perdido, ajustados à especificidade da hotelaria e restauração, setores que vivem fortemente da sazonalidade. “A AHRESP reuniu esta quarta-feira, dia 20, com o Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Dr. Pedro Machado, tendo apresentado propostas objetivas para compensar as perdas de negócio, atuais e futuras, com que as empresas afetadas se estão a deparar. Pela especificidade destas perdas, os apoios deverão revestir uma significativa componente de fundo perdido. A AHRESP prestará o apoio necessário na instrução dos processos de candidatura das empresas afetadas”, refere Ana jacinto.
“Estamos a trabalhar para dar ao Governo dados concretos e, numa fase seguinte, solicitaremos reuniões com a secretaria de Estado do Turismo, o Turismo de Portugal, a CCDRC, as Comunidades Intermunicipais, a AHRESP e outras entidades e parceiros da região para que sejam encontradas medidas rápidas e eficazes”, Rui Ventura
A ALEP reforça essa posição, defendendo “instrumentos de apoio à tesouraria e também investimento rápido na recuperação de acessos, trilhos e infraestruturas afetadas, para transmitir segurança aos viajantes”. Eduardo Miranda sublinha que “o turismo nestas zonas do interior já é um desafio onde os operadores têm um perfil financeiro mais fragilizado e que desastres destes deixam marcas na operação e na imagem do destino que podem ter efeitos não só nesta temporada, mas no futuro próximo”.
Enquanto aguarda que a tutela avance com informação sobre as linhas de apoio financeiro, o presidente do Turismo do Centro adianta que estão a ser preparadas, em paralelo, “campanhas de promoção para reforçar a imagem da região Centro como destino seguro, autêntico e diverso, destacando que a maioria dos ativos turísticos não foi diretamente atingida. Esta campanha vai também valorizar os grandes eventos desportivos e culturais que decorrerão nos próximos meses no território, fundamentais para dinamizar a procura”. O consenso entre responsáveis é claro: se não forem implementadas medidas rápidas, os incêndios de 2025 poderão deixar marcas não só nesta temporada, mas também no futuro próximo.
Desde julho, Portugal continental enfrenta vários incêndios rurais de grande dimensão, especialmente nas regiões Norte e Centro. De acordo com dados provisórios, até 21 de agosto, cerca de 234 mil hectares foram consumidos pelas chamas, sendo mais de 53 mil hectares apenas no incêndio de Arganil.
Na sequência da gravidade dos incêndios, o Governo anunciou esta quinta-feira, dia 21, no final do Conselho de Ministros realizado em Viseu, um pacote de cerca de 45 medidas de resposta. Entre elas, o primeiro-ministro Luís Montenegro destacou “apoios à tesouraria das empresas afetadas diretamente pelos incêndios e à reposição da sua capacidade produtiva”. Foi ainda anunciada a isenção de contribuições para a Segurança Social para empresas e trabalhadores independentes cuja atividade tenha sido atingida.
*Notícia atualizada às 21h35 de 21 de Agosto de 2025






