O investimento americano em Portugal tem crescido nos últimos anos, com destaque para o setor imobiliário. A diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal, Patrícia Barão, revelou esta sexta-feira, 28 de abril, que 2022 foi o ano recorde de investimento americano em Portugal, com um total de 1.150 milhões de euros investidos em imobiliário comercial, representando 33,7% do total investido no país neste setor.
Patrícia Barão explicou que os americanos estão a investir em diversos setores. “Tivemos portfólios a serem comercializados que tiveram um grande peso”, frisou, dando como exemplo o Projeto Crow, o maior negócio imobiliário de 2022, que representou cerca de 850 milhões de euros de investimento. Ainda de acordo com a diretora da JLL, os americanos representam 67% do investimento imobiliário comercial no primeiro trimestre de 2023, e em 2016 essa percentagem era de apenas 6%. “Nós estamos no radar dos americanos”, afirmou durante o debate ‘Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal / EUA’, que se realizou esta sexta-feira no Pestana Palace Lisboa.
A diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal explicou que a valorização do dólar em relação ao euro é um fator que tem contribuído para o aumento do investimento americano em Portugal. “Um americano vende um imóvel na Flórida e compra uma casa em Cascais. Com a diferença, consegue viver o resto da vida de forma confortável”, exemplificou.
Receitas turísticas diretas e indiretas dos EUA crescem 52% em Portugal em relação a 2019
Portugal tem sido um destino popular para os turistas americanos, com um crescimento notável no número de visitantes em comparação com outros países. “Há uma tendência de crescimento do número de turistas americanos em Portugal, com uma aceleração bem superior ao crescimento das outras nacionalidades”, afirmou António Martins da Costa, presidente da AmCham, Câmara de Comércio Americana em Portugal.
Segundo o responsável, em 2022, Portugal registou 26,5 milhões de hóspedes, dos quais 15,3 milhões eram hóspedes estrangeiros. Houve um total de 46 milhões de dormidas de estrangeiros no país no mesmo ano, o que representou um crescimento significativo em relação a 2021, mas ainda não alcançou os números de 2019, estando ainda ligeiramente abaixo (-2,3% de hóspedes e -4,9 de dormidas de estrangeiros face a 2019).
Apesar disso, o número de turistas americanos em Portugal cresceu 25,3% em relação ao ano pré-pandemia (cerca de 1,5 milhões de turistas), o que representa cerca de 10% da quota do número de turistas que ficaram hospedados em Portugal. Além disso, o crescimento do número de dormidas de americanos no ano passado foi de 27%, o maior entre todo o contingente de turistas estrangeiros em relação a 2019.
Martins da Costa destacou também que as receitas turísticas diretas e indiretas dos EUA ficaram em 5º lugar em Portugal, com um crescimento de 52% em relação a 2019, tornando-se “o país com o maior crescimento em termos de todas as fontes de turismo”.
Em relação ao investimento imobiliário, António Martins da Costa destacou que houve mais 3 mil milhões de investimento em 2022, em comparação com 2019, com três quartos desse valor sendo investimento estrangeiro (30% em hotelaria, 30% em escritórios, 20% em indústria e o restante em imobiliário). O Golden Visa, um programa que permite aos investidores obter um visto de residência em Portugal em troca de investimento no país, foi responsável por cerca de 12% do investimento em imóveis em Portugal.
Segundo Martins da Costa, em 2021, a quota dos investidores que chegavam ao país através do programa Golden Visa era composta por brasileiros, franceses e americanos, respetivamente. Mas em 2022, os americanos assumiram a liderança.
Fundo Arrow já investiu mais de 5 mil milhões de euros em Portugal
John Calvão, Managing Principal e Co-Head do Fund Arrow, é um investidor português que nasceu nos EUA e que investe em Portugal desde 2010. Segundo o responsável, o Fundo Arrow investiu em Portugal mais de 1,5 mil milhões nos últimos anos e 5 mil milhões desde 2010.
Contudo, um dos maiores problemas de investir em Portugal, de acordo com John Calvão, é a excessiva burocracia. “As leis fiscais mudam todos os anos. Investimentos de longo prazo, como o desenvolvimento imobiliário, não podem suportar inconsistências com as leis, especialmente com as leis fiscais. Quando compramos algo, precisamos de ter uma previsão do que vamos investir”, explicou.
“Muitos investidores desistem de projetos imobiliários devido ao longo processo que envolve. Desde a aquisição de um projeto, passando pelo licenciamento e pela preparação do mesmo, até à venda, todo o ciclo pode ser muito demorado, o que muitas vezes leva os investidores a não quererem manter o seu capital parado durante tanto tempo”, sublinhou Patrícia Barão. Além disso, a diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal defende que Portugal “precisa de ter uma oferta que encaixe naquilo que o investidor americano procura – e não estamos só a falar da rentabilidade do projeto, estamos a falar de projetos com escala”.
Fim dos Golden Visa em Portugal
John Calvão explicou que os americanos são tributados em todo o mundo, pelo que não beneficiam do Programa Golden Visa do ponto de vista fiscal. Independentemente de onde se encontram, pagam impostos, pelo que a sua decisão de aderir ao programa não é financeira, mas sim motivada pelo desejo de obter residência em Portugal e integrar-se na comunidade.
Patrícia Barão salientou que os americanos representam a nacionalidade com o maior número de candidaturas ao Programa Golden Visa. “Mesmo que as medidas do Programa Mais Habitação evaporassem, os danos já foram cometidos. A confiança é um dos fatores mais importantes no setor imobiliário, e o fim do programa terá um impacto significativo nos números. O imobiliário é um dos setores que mais contribui para o nosso país e está a ser alvo de medidas castradoras”, defendeu.