Quinta-feira, Janeiro 23, 2025
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Jovens pelo mundo: Mariana, a jovem de 25 anos que é Island Host nas Maldivas

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Em 2019, um em cada três jovens passou pelo menos duas semanas no estrangeiro para trabalhar ou em formação, de acordo com o Euronews. Cada vez mais jovens abandonam Portugal para procurarem melhores condições de trabalho no estrangeiro. Mas esse não é o único motivo, muitos deles pretendem ter uma experiência de emprego internacional para acrescentarem ao currículo.

A pandemia dificultou, ainda mais, a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Apesar da falta de recursos humanos no turismo ser um tema recorrente, há muitos jovens licenciados nesta área que optam por sair do país para encontrar emprego. Mas porquê? Esta é a história de Mariana Lopes, uma jovem de 25 anos da Maia, no Porto. A Mariana terminou, em 2018, a licenciatura em turismo no ISCET – Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo e está, atualmente, a trabalhar como Island Host no Pullman, um resort de 5 estrelas nas Maldivas.

Antes de ires para as Maldivas, tiveste alguma experiência de trabalho em Portugal?

A minha licenciatura tinha um estágio profissional integrado, de três meses. Estagiei na 100Rumos, uma DMC [destination management company] no aeroporto do Porto. É uma espécie de agência de viagens mais vocacionada para transfers, em receber os turistas e encaminhá-los para os hotéis. A empresa tinha também a vertente das excursões e das visitas guiadas.

Qual era o cargo que exercias nessa empresa?

O meu papel na 100Rumos era receber os turistas, dar as boas-vindas e encaminhá-los. Tratava também da parte de logística, como a gestão de reservas. A empresa tem um balcão no aeroporto e fazia toda a parte de receção e orientação do turista.

Como gostaram de mim, fiquei lá dois anos a trabalhar. Estive lá até 2020. Coincidência ou não, terminei o contrato em fevereiro de 2020 com o objetivo de encontrar outra experiência profissional e de ir trabalhar para fora, mas todos nós sabemos o que aconteceu em março de 2020, veio a covid-19 e fechou tudo, tal como as oportunidades.

Ainda nesse ano, depois de sair da 100Rumos, fui trabalhar para a agência de viagens do meu pai, a Lopes Viagens. Fui aprender com o meu pai, que já tem este negócio há 20 anos. É uma agência muito local e familiar, com apenas três funcionários.

Porque é que quiseste trabalhar fora do país?

Eu queria levar o nosso negócio mais longe [a agência de viagens do pai] e expandi-lo. É óbvio que, estando a trabalhar no estrangeiro, recebo um ordenado que me faz ficar cá, porque a vida de emigrante leva-nos a ter de fazer escolhas. Estar longe da família é difícil, por isso o dinheiro tem de pesar. Mas a maior motivação foi mesmo a de aprender, a de melhorar as línguas, conhecer outras culturas e fazer algo muito importante: networking, algo que estou a conseguir fazer muito bem aqui nas Maldivas, estou a criar uma rede de contactos muito grande, algo que é muito importante na área do turismo. Mas sempre com esta motivação de conseguir melhorar o negócio que temos em Portugal, de torná-lo mais rentável.

“Estar longe da família é difícil, por isso o dinheiro tem de pesar”.

Como é que tudo aconteceu?

Fui com o meu pai à Fitur, em Madrid, porque queríamos saber como vender melhor as Maldivas. É um destino com muitos hotéis e resorts e, de forma a conseguirmos dar um serviço ainda mais personalizado, fomos à Fitur à procura de operadores locais. Nessa feira, encontrei um manual que continha praticamente todos os resorts das Maldivas e trouxe-o para Portugal para estudar melhor os hotéis. Um dos que me chamou mais a atenção foi o Pullman Maldives, do grupo Accor, um resort de 5 estrelas no sul das Maldivas, porque tem um quarto subaquático. Assim que vi o email direcionado para os recursos humanos, decidi experimentar enviar uma candidatura espontânea, numa segunda-feira. Provavelmente por sorte ou destino, quando enviei esse email o Pullman estava a contratar alguém para receber os hóspedes em português e responderam-me logo na quarta-feira, fizemos a entrevista online e disseram-me para ir para as Maldivas o mais cedo possível. Neste hotel têm muita necessidade de ter alguém que fale português, porque recebemos muitos hóspedes brasileiros e, de forma a dar um serviço mais personalizado na língua materna, procuram sempre ter o cargo de Island Host – que é o cargo que desempenho – em diversas línguas.

No que consistem as tuas funções como Island Host?

Um Island host é alguém que faz a receção e o acompanhamento, ou o follow up, do hóspede durante a sua estadia. O hóspede chega ao hotel de barco e os Island Hosts estão no cais à espera. Fazemos as boas-vindas e damos um tour à ilha com os hóspedes, para mostrar tudo o que está incluído no pacote de all-inclusive. A seguir fazemos o check-in regular e depois fazemos o follow up (agendamento de restaurantes, atividades, fazer um plano personalizado da estadia) de forma a que o hóspede tenha uma estadia mais coerente. É um cargo de assistência, cada Island Host tem, dependendo da época, cerca de sete quartos por dia.

Como foste recebida nas Maldivas?

Muito bem, estava um bocado receosa em relação a toda a equipa, porque vim para o outro lado do mundo sem conhecer ninguém e não conhecia nada do destino, só conhecia os resorts e não tinha qualquer contacto com a cultura local. Na verdade, fui muito bem recebida. Neste hotel há cerca de 20 nacionalidades aqui a trabalhar, apesar da grande maioria ser das Maldivas, e eles têm uma abertura muito grande para receber estrangeiros. O ambiente é fantástico, uma das coisas que me faz ficar cá são as amizades que fazemos, porque estamos 24h por dia com as mesmas pessoas.

“Estava um bocado receosa em relação a toda a equipa, porque vim para o outro lado do mundo sem conhecer ninguém e não conhecia nada do destino”.

Onde é que estás a viver? Partilhas quarto com outras pessoas?

Estou a viver na ilha de Pullman, onde fica o resort. Estou num quarto partilhado com quatro pessoas. O primeiro impacto pode ser assustador e é preciso ter sorte com os roomates, sorte essa que eu tive. Além do quarto, temos um restaurante tipo buffet para o staff, com várias opções. Temos também um ginásio, uma sala de entretenimento e um bar. As acomodações para o staff são muito boas.

Mariana Lopes com uma colega de trabalho no Pullman Maldives

Quais as características que te destacam de outros trabalhadores de outras nacionalidades?

As línguas. Quando vim para cá, pedia desculpa por só falar português, inglês e espanhol, mas só depois de cá chegar é que percebi que, em comparação com pessoas de outras nacionalidades, falo muitas línguas. Temos muitos colegas que a língua materna é o inglês e que só falam essa língua. Pelo contrário, falo três línguas, que ainda por cima são dos maiores mercados da Pullman – os espanhóis e os brasileiros.

Outra das mais-valias é a vertente mais comercial, que adquiri a trabalhar na agência de viagens com o meu pai.

Que diferenças encontras para o mercado português?

Estar a trabalhar no estrangeiro é diferente, não temos aqui a nossa família e amigos. Aqui estamos numa ilha, é suposto trabalharmos oito horas por dia, cinco dias por semana, mas muitas vezes isso não acontece. Muitas vezes trabalhamos muito mais horas do que em Portugal. Se acontecesse o mesmo lá, se calhar sentíamos que estávamos a ser explorados, mas aqui não sentimos isso, porque estamos aqui para trabalhar e somos recompensados por essas horas.

“Quando vim para cá, pedia desculpa por só falar português, inglês e espanhol, mas só depois de cá chegar é que percebi que, em comparação com pessoas de outras nacionalidades, falo muitas línguas”.

Tens muitas despesas?

Não, as únicas despesas que temos aqui é no lazer. Nós temos oportunidade de ir nas excursões com os hóspedes nos dias off, podemos juntar folgas e ir viajar pelas Maldivas, ou seja, eles dão-nos oportunidade para aproveitar a nossa estadia enquanto estamos aqui a trabalhar. Todas as despesas que temos é porque queremos, porque temos alojamento, alimentação e seguro de saúde pago.

Há quanto tempo estás no destino?

Estou aqui há três meses, parece pouco mas sinto que já passou um ano.

Quais são as maiores vantagens e desvantagens?

Honestamente, a única desvantagem são as saudades de casa. Conhecemos diariamente imensas pessoas, a rede de contactos que fazemos é enorme, temos boas condições de trabalho e de alojamento, o salário mensal é bastante positivo, por isso não há mais nenhuma desvantagem além das saudades.

Quanto tempo pensas ficar?

Tenho um contrato de dois anos, o que é bastante inesperado, o normal é ser um ano. Tive um período de experiência de três meses, que acabou agora. Eu vim com o objetivo de ficar um ano. Estou ainda na expectativa de perceber se consigo subir de cargo, para um cargo de manager, e se consigo melhorar ainda mais as minhas competências, mas penso que, em um ano, consigo aprender o que queria. Quando sentir que não consigo melhorar mais, é tempo de voltar para casa e de aplicar as competências aprendidas.

“Conhecemos diariamente imensas pessoas, a rede de contactos que fazemos é enorme, temos boas condições de trabalho e de alojamento, o salário mensal é bastante positivo, por isso não há mais nenhuma desvantagem além das saudades.”

*Durante as próximas semanas, iremos partilhar experiências de jovens portugueses a trabalhar no setor do turismo no estrangeiro.

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