“Uma aposta intensa em novos hotéis, muitas vezes sem uma estratégia clara, pode levar-nos a um cenário de sobreoferta, que fragiliza a rentabilidade das unidades existentes e compromete a qualidade dos serviços oferecidos”
Neste início de ano, altura que todos fazemos planos e revisitamos as nossas escolhas, lanço um desafio a todos nós: fazermos uma reflexão sobre o turismo das nossas cidades e darmos respostas a perguntas que não podem mais esperar.
Que rumo queremos traçar para as nossas cidades? Que contributo queremos que o turismo deixe às nossas comunidades? Como podemos equilibrar crescimento e sustentabilidade, sem comprometer aquilo que nos torna únicos? Estas questões não são novas, mas continuam sem respostas claras, provavelmente perdidas entre o imediatismo, alguma falta de responsabilidade e um certo défice de pensamento crítico que teimam em invadir os nossos dias.
As respostas são urgentes e exigem de nós, que trabalhamos neste setor, a disponibilidade para nos debruçarmos sobre elas e agirmos de forma estratégica, numa perspetiva de longo prazo.
Parto do exemplo do Porto, que me é próximo, mas estou certo que a minha preocupação é transversal à realidade de muitas outras cidades do país.
Não há dúvida que o Porto é hoje um caso de sucesso no panorama turístico nacional e internacional. Nos últimos anos, a cidade tem-se afirmado como um dos destinos mais procurados, atraindo visitantes de todas as partes do mundo. Prova disso é o número crescente de licenciamentos para novos empreendimentos turísticos. Números oficiais recentes mostram que só até agosto do ano passado tinham já sido emitidas mais licenças do que em todo o ano de 2023. Mas, por trás destes dados, é fundamental refletirmos sobre o impacto e as consequências deste tipo de crescimento.
Uma aposta intensa em novos hotéis, muitas vezes sem uma estratégia clara, pode levar-nos a um cenário de sobreoferta, que fragiliza a rentabilidade das unidades existentes e compromete a qualidade dos serviços oferecidos. Este impacto não se limita à esfera económica; afeta também o património das cidades, a qualidade de vida dos seus habitantes e a experiência autêntica que os turistas tanto procuram.
Por um lado, devemos considerar o efeito nos preços praticados e na rentabilidade das unidades hoteleiras. Um aumento descontrolado da oferta pode pressionar os preços para baixo, especialmente fora da época alta, tornando o negócio menos atrativo, sobretudo para pequenas e médias empresas. Por outro, enfrentamos uma escassez crónica de mão-de-obra qualificada no setor. Multiplicar hotéis sem garantir profissionais capacitados para gerir a sua operação é comprometer a qualidade do atendimento, um dos principais fatores de decisão para o turista de médio-alto rendimento que tanto queremos atrair.
Esse perfil de visitante valoriza experiências únicas e autênticas. Quer explorar o que nos diferencia — a nossa cultura, gastronomia, património e a hospitalidade, da qual nos orgulhamos. Um excesso de turistas, aliado a uma oferta hoteleira desordenada, pode prejudicar exatamente aquilo que nos torna especiais. Nenhum turista quer sentir-se como mais um numa multidão ou tropeçar em magotes de outros viajantes em cada esquina.
Outro ponto importante é a necessidade de um planeamento urbano criterioso. O argumento de que “ainda há espaço” nas nossas cidades, que alguns utilizam, não pode justificar um licenciamento desmedido. Espaço, por si só, não é sinónimo de capacidade. A gestão sustentável do turismo exige que privilegiemos a qualidade em detrimento da quantidade.
Acredito que outras grandes cidades do país enfrentam desafios semelhantes e anseiam também por uma estratégia clara para equilibrar crescimento económico e sustentabilidade. Esta deve ser uma exigência e uma prioridade para todos os agentes envolvidos nesta indústria — autarquias, investidores, empresários e associações. É inadiável questionarmo-nos e sabermos dar a resposta sobre o tipo de turismo que queremos para as nossas cidades.
Que fique claro que esta posição não pretende desvalorizar o investimento ou travar o desenvolvimento do setor, mas antes assegurar que esse crescimento seja alicerçado numa visão estratégica e equilibrada.
O crescente número de pedidos de licenciamento mostra que o turismo continua a gerar grande interesse junto de investidores. Isso é positivo e vem comprovar o dinamismo deste setor, essencial para a economia portuguesa. Mas é exatamente por esta razão que devemos ter uma atenção redobrada.
Saibamos planear com sabedoria para garantir um modelo onde todos possam prosperar: empresários, trabalhadores, comunidades locais e, claro, os nossos visitantes.
As escolhas que fizermos hoje vão determinar o futuro do turismo em Portugal. Que a qualidade seja sempre o nosso norte.
Por Rodrigo Pinto Barros
Presidente da APHORT – Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo
Exmo. Snr. Presidente:
Em primeiro … qual é a posição da câmara ?
É continuar a dar licenças sem critério ?
Segundo … onde está o pessoal formado ? Que protocolos existem com as faculdades para colocar os alunos ?
Terceiro … não seria altura de associação fazer uma reunião com convidados de todos os quadrantes e tomar ( e …publicar) uma posição?
Quarto … Porto… Porto … Porto … e Gaia ??? Será que a associação focada no Porto tem a noção no que se passa em Gaia ? … dos milhares de turistas que circulam em Gaia ?