A rotina nos aviões é sempre a mesma há algumas décadas: para o pessoal de bordo verificar que os dispositivos eletrónicos dos passageiros estão em “modo avião” é tão importante como realizar as demonstrações de segurança ou confirmar que o cinto está bem colocado.
Até hoje, e com um único toque por parte do passageiro, o modo de avião inibe todas as funções dos dispositivos. O que se pretende com isso é evitar interferências com os instrumentos que os pilotos necessitam para comandar o avião e para comunicar com os controladores aéreos.
Com a evolução tecnológica, passou a permitir-se a utilização de WiFi e Bluetooth a bordo após a descolagem e antes de aterragem. Nos telefones mais modernos, o modo voo passou a desativar apenas o acesso à rede móvel, mantendo as restantes funcionalidades ligadas.
Esta semana, a Comissão Europeia alterou a legislação sobre as comunicações móveis a bordo dos aviões de forma a permitir que as companhias aéreas instalem a última tecnologia 5G na sua frota o que, por sua vez, permitirá a utilização dos dispositivos do mesmo modo como são utilizados em terra dentro do espaço da União Europeia, fazendo chamadas, enviando SMS e usando os dados móveis.
Isto apenas é possível porque as comunicações do “cockpit” continuarão na frequência 4.2-4.4 GHz enquanto que os telemóveis passarão a estar conectados na frequência 5 GHz, ou seja, é uma espécie de garantia de não interferência.
Não existe uma data definida para esta implementação, mas para as companhias aéreas que apliquem esta nova tecnologia e para os passageiros que a tenham nos seus aparelhos a evolução será marcante. Nestes últimos 10 anos tem crescido o número de companhias aéreas que têm feito do WiFi a bordo uma fonte de receita ou um beneficio adicional para os passageiros frequentes ou para os passageiros da classe executiva.
Esta mudança obrigará claramente a rever este produto, pelo menos na Europa, uma vez que nos Estados Unidos o entendimento das autoridades sobre a tecnologia 5G tem sido outro, no que toca às suas potenciais interferências com a aviação, porque a 5G lá utiliza a frequência 3.7 e 3.98 GHz, mais próxima da utilizada nos instrumentos de voo.
Na União Europeia, este passo poderá marcar o princípio do fim da obrigatoriedade do “modo avião” no transporte aéreo o que certamente exigirá pensarmos num novo nome para a função “modo avião”. Talvez o “Não incomodar” da hotelaria se torne mais adequado.
Por Pedro Castro
Diretor da SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo.