A diferença entre a liderança feminina e masculina na indústria da tecnologia de viagens está a diminuir – a um ritmo de caracol – mas está a tornar-se ainda mais pequena.
Nos últimos anos, tem havido uma série de nomeações de mulheres para cargos de liderança no setor das viagens, com um aumento notável no espaço das companhias aéreas.
Em maio, Ariane Gorin tornou-se CEO do Expedia Group. E existem atualmente várias companhias aéreas com mulheres ao leme. Joanna Geraghty assumiu a direção da JetBlue este ano e Vanessa Hudson tornou-se CEO da Qantas no ano passado. E em 2022, Marjan Rintel assumiu as rédeas da KLM e Güliz Öztürk tornou-se CEO da Pegasus Airlines. Também em Portugal, duas mulheres chegaram à liderança de companhias aéreas: Christine Ourmières-Widener (ex-CEO da TAP) e Teresa Gonçalves – assumiu o cargo de CEO da SATA em março de 2023, em substituição de Luís Rodrigues, atual presidente executivo da TAP, mas já era membro do “board” desde janeiro de 2020, sendo responsável pelo pelouro financeiro. Saiu da companhia em abril de 2024
Estão a ser feitos esforços para ajudar a reforçar a visibilidade das mulheres neste espaço. Em agosto, por exemplo, a Women in Hospitality Leadership Alliance lançou um diretório de oradores para aumentar a presença de diversas vozes em eventos do setor.
“Penso que estamos no caminho certo. Mas também parece que é um caminho lento”, disse Nina Kleaveland, fundadora e diretora executiva da Lanyard, que também criou o grupo Female Founders in Hospitality.
Apenas 15,6% dos líderes em tecnologia de viagens são mulheres
Uma análise recente dos diretores executivos das principais empresas e dos indivíduos mais visíveis no setor B2B das tecnologias do turismo revelou que apenas 15,6% são mulheres. Esta investigação foi realizada em julho pela agência de relações públicas de tecnologia de viagens B2B, Belvera Partners, utilizando perfis do LinkedIn para determinar o género dos líderes das empresas incluídas no seu Belvera B2B Travel Tech Map.
O Belvera B2B Travel Tech Map abrange setores como a tecnologia de aviação, distribuição de alojamento, TMC, aluguer de automóveis, experiências no destino e outras áreas, além de destacar personalidades de topo, grupos de pressão e jornalistas. Ao todo, o mapa conta com mais de 400 “paragens” e é atualizado mensalmente.
Ao analisar os resultados por setor, o maior número de mulheres líderes encontra-se os lobby groups (36%), enquanto o pior desempenho foi registado no aluguer de automóveis, com apenas 10%. Em comparação, uma análise semelhante realizada pela Belvera em 2021 revelou que apenas 12,4% dos CEOs eram mulheres, sugerindo uma ligeira melhoria, embora a empresa saliente que as condições não são diretamente comparáveis devido à evolução do panorama do setor.
Para compreender as razões deste desequilíbrio e a falta de representação feminina, a Belvera ouviu várias mulheres líderes na área da tecnologia de viagens.
Maria Sellar, da Terrapay, considera que a ausência de mulheres líderes não é surpreendente e apelou ao setor para que tomasse medidas para promover a liderança feminina. Sellar também destacou que as empresas de tecnologia de viagens perdem lucros ao ignorarem as necessidades das mulheres viajantes: “Recomendo que todas as empresas de tecnologia de viagens contratem um Chief Female User Experience Officer para garantir que a sua oferta é realmente apelativa e relevante para as mulheres viajantes”, afirmou.
Ayşe Yaşar, da Bedsopia, salientou que “muitas pesquisas mostram que as mulheres fazem mais do que a maioria das escolhas de viagem, particularmente no contexto familiar”. Segundo Yaşar, empresas com poucas mulheres na equipa de topo terão dificuldades em compreender este mercado.
Luisa Oyarzabal, do GoNexus Group, afirmou: “Estamos simultaneamente desanimados e motivados pelas conclusões do relatório da Belvera Partners. Esta disparidade gritante põe em evidência um desafio significativo no nosso setor – um desafio que temos de enfrentar de frente. (…) Apelo a todas as empresas para que tenham um plano publicamente disponível, com objetivos claros e mensuráveis, sobre a forma como vão alterar esta situação.”
Por fim, Caroline Dal’lin, da Custom Travel Solutions, defendeu que, embora a maioria dos CEOs seja masculina, é importante observar as mudanças na C-Suite e a nível intermédio. Segundo Dal’lin, “a mudança está a acontecer de baixo para cima”, embora reconheça que esta transição ainda seja lenta e que mais investigação e oportunidades sejam necessárias para superar as barreiras de género.