A indústria da aviação comercial tem mantido um design de aeronaves praticamente inalterado ao longo das últimas seis décadas. No entanto, surge agora uma proposta ousada que promete revolucionar esta norma estabelecida. A empresa californiana JetZero tem vindo a chamar a atenção com o seu conceito de “corpo de asa mista,” uma nova configuração que combina elementos de uma asa voadora com o tradicional design “tubo e asa.”
Esta configuração totalmente nova assemelha-se ao design “asa voadora” utilizado em aeronaves militares como o bombardeiro B-2, mas com uma secção central mais volumosa. A Boeing e a Airbus estão a explorar a ideia, assim como a JetZero, que está a trabalhar para transformá-la numa realidade palpável até 2030.
Este novo formato traz consigo a promessa de reduzir significativamente o consumo de combustível e as emissões de carbono, algo particularmente relevante numa altura em que a indústria procura soluções mais amigas do ambiente.
“Defendemos fortemente um caminho para emissões zero em grandes jatos, e o corpo de asa mista pode resultar numa redução de 50% no consumo de combustível e emissões”, afirma Tom O’Leary, co-fundador e CEO da JetZero. “Este avanço é impressionante quando comparado com o que a indústria está habituada”.
A empresa tem planos ambiciosos, que incluem o desenvolvimento de três tipos de aeronaves: uma para passageiros, outra para transporte de carga e ainda uma para reabastecimento de combustível. Recentemente, a JetZero recebeu um financiamento de 235 milhões de dólares (cerca de 216 milhões de euros) da Força Aérea dos EUA para construir um protótipo em tamanho real, um passo fundamental para validar este conceito. O primeiro voo está previsto para 2027, o que indica que a versão militar desta aeronave deverá liderar o caminho e possivelmente apoiar o desenvolvimento dos modelos comerciais.
No entanto, este design inovador enfrenta desafios técnicos consideráveis. Um dos maiores obstáculos, de acordo com O’Leary, prende-se com a pressurização de uma fuselagem com uma forma não cilíndrica, um aspeto fundamental para a segurança e conforto dos passageiros. Além disso, a complexidade aerodinâmica deste novo formato pode prolongar e complicar os processos de testes e certificação.
Apesar dos desafios, os especialistas acreditam que o conceito tem um potencial considerável. A ideia de um corpo de asa mista tem sido elogiada pela sua eficiência e caráter inovador. No entanto, a concretização desta visão ambiciosa enfrentará um caminho árduo, exigindo esforços consideráveis tanto a nível técnico como regulamentar.
“O design de corpo de asa mista possui um potencial imenso para transformar a indústria da aviação, oferecendo a possibilidade de melhorar a eficiência de combustível, aumentar a capacidade de carga e implementar sistemas de controlo inovadores. No entanto, enfrentar as complexidades aerodinâmicas, assegurar a integridade estrutural, contornar obstáculos regulatórios e adaptar a infraestrutura aeroportuária são desafios enormes que devem ser superados para que se torne uma realidade,” afirma Bailey Miles, analista de aviação da empresa de consultoria AviationValues. O especialista acrescenta que esses desafios, entre outros, tornam a meta da JetZero de entrar em serviço até 2030 “difícil de conceber.”
Richard Aboulafia, analista de aviação da empresa de consultoria Aerodynamic Advisory, menciona que, embora nem todas as alegações da JetZero possam ser verificadas, “a ideia de um corpo de asa mista tem sido bastante atraente há anos, e parece que a JetZero fez algumas pesquisas muito interessantes. Os meus colegas e eu consideramos que é uma ideia promissora.”