“O novo luxo é a simplicidade, esta é a minha enorme convicção, e o grande desafio é transformar essa simplicidade em algo que toque a alma profundamente”
Por André Oliveira
Vivemos em tempos de transformação de enorme impacto na sociedade, seja pela via económica, política ou tecnológica. O turismo é uma indústria que sempre teve a capacidade de reinventar-se constantemente ao longo dos anos, mas chegou a um ponto em que precisa de algo mais profundo e disruptivo, na minha leitura sobre este setor que mergulhei profissionalmente desde os 21 anos. A era da gestão tradicional de destinos, no conceito comercial de “Destination Management Company” (a famosa DMC para o setor), precisa ser desconstruída para dar lugar a algo novo, algo que vá além da simples organização de itinerários e serviços. Surge, então, o “Destination Alchemist Lab”, uma abordagem visionária que pretende redefinir o turismo como um processo de transformação de alquimia, onde cada experiência é recriada a partir da essência mais pura.
A disrupção no turismo, tanto em Portugal quanto no mundo, já não é uma opção, mas uma necessidade urgente. O perfil do turista moderno está saturado de roteiros turísticos previsíveis e procura algo genuíno, transformador emocionalmente. Este quer experiências que o desafiem, que o conectem com o destino de forma holística, espiritual e cultural. E é aqui que entra o trabalho do alquimista do turismo, um trabalho e um perfil agregador que pretende transformar o comum no extraordinário, alterando a fórmula de uma maneira completamente inovadora e criando valor em todas as etapas da cadeia turística, integrando o litoral e o interior, as suas tradições e dinâmicas.
Portugal, com a sua riqueza cultural e natural, está numa posição privilegiada para liderar essa disrupção global no turismo. Porém, é necessário ir além da promoção dos destinos já conhecidos. O verdadeiro luxo está nas experiências simples, porém profundamente recriadas com enorme significado e “storytelling”, que podem ser recriadas através de um olhar disruptivo, sem nunca perder o foco que é um negócio, sendo necessário garantir a margem e volume necessários para a sua rentabilidade e gerar valor económico não só para a empresa, como para a sociedade. Imaginemos transformar algo tão autêntico quanto a produção de azeite em Trás-os-Montes ou a pesca artesanal na Costa Vicentina em experiências imersivas que conectam os turistas com a essência dessas práticas ancestrais. Isso exige um novo modelo estratégico e holístico, onde o turismo é visto não apenas como um negócio, mas como uma arte, uma ciência, e um laboratório de inovação. Esta harmonia entre gestão e abordagem estratégica é crucial para gerar valor acrescentado em Portugal, mesmo tendo atingido em receitas turísticas o resultado fantástico de aproximadamente 28 mil milhões de euros em receitas turísticas.
A alquimia do turismo, no seu conceito simplista, é rudimentar, sendo que consiste em agregar elementos aparentemente simples: uma paisagem, um produto local, uma tradição, e transformá-los em experiências sofisticadas e únicas. E aqui reside o enorme desafio, porque a simplicidade é realmente o novo luxo. Este enquadramento é de enorme complexidade; o descomplicar abordagens e recriar valor obriga a ver os destinos e os produtos turísticos numa outra dimensão estratégica. Mas esta transformação só pode acontecer se existir uma verdadeira disrupção no setor e também alinhando o setor privado e público. Exige tempo, paciência; como um verdadeiro alquimista, nem sempre a fórmula está correta, mas o objetivo final obriga a fazer esta reflexão num mundo cada vez mais integrado com a IA nos próximos 5 anos, fazendo testes. A inovação tem que ser rápida, mensurável e que consiga fazer pequenas alterações para atingir um mercado potencial, onde o elemento diferenciador será sempre, na sua base, o enquadramento humano.
O novo luxo é a simplicidade; esta é a minha enorme convicção, e o grande desafio é transformar essa simplicidade em algo que toque a alma profundamente. Pensemos em algo tão básico como o pão artesanal português. Ao colocá-lo num contexto inovador, como uma experiência gastronômica ao ar livre, no coração de um olival centenário, onde o turista pode sentir o aroma das oliveiras e aprender sobre o processo de produção do azeite local, o alquimista do turismo transforma o trivial em algo extraordinário. E mais, gera valor não só para o turista, mas também para a comunidade local, que beneficia de um turismo mais sustentável e consciente, onde a economia circular permite uma maior inclusão dos destinos e das suas complementaridades, apesar dos enormes desafios.
A disrupção precisa acontecer a todos os níveis, desde a forma como as experiências são concebidas até o modo como as marcas interagem com o turista/visitante. As marcas turísticas precisam entender que não basta entregar serviços, é preciso entregar emoção e paixão (parece algo tão básico e elementar que, por vezes, esquecemos que a roda já foi inventada). O turista sofisticado e moderno quer conectar, aprender, transformar-se. Este não procura mais luxo em extravagâncias materiais, mas em experiências que o desafiem a ver o mundo, e a si mesmo, de uma forma nova, com crescimento pessoal, e que permita contribuir para as comunidades locais.
Portugal tem um potencial incrível para ser pioneiro nesta nova era do turismo, onde a simplicidade, a autenticidade e a inovação são os pilares centrais. No entanto, é necessária coragem para romper com os moldes tradicionais e abraçar a disrupção como caminho. O turismo de amanhã precisa ser profundamente transformador, tanto para quem viaja quanto para quem recebe. E é aí que o Destination Alchemist Lab entra, oferecendo um novo paradigma onde o comum se torna mágico, onde o simples se torna sofisticado, e onde o destino se torna um laboratório de criação de experiências inesquecíveis.
Essa revolução já está em marcha. E aqueles que se aventurarem a seguir esse caminho, desafiando o status quo, serão os novos alquimistas do turismo, transformando não apenas destinos, mas também vidas.
Em suma, podemos refletir, na minha modesta visão (importante existir choque de ideias e conceitos para ter inovação), o seguinte: na arte mais sofisticada do turismo, o presente e o futuro passam por um ponto crítico de interseção: a análise de grandes quantidades de dados e o cruzamento/análise dessas informações com as conexões humanas mais profundas. No turismo contemporâneo, onde a competição e o caos comercial imperam, as margens tornam-se cada vez mais apertadas, e a criação de valor exige um pensamento estratégico que vá além do tradicional no mundo B2B. Surge a necessidade de um novo paradigma nesta visão que possuo da nossa indústria da felicidade e paz, um laboratório de criação de experiências, o Destination Alchemist Lab, que transforma não apenas destinos como o antigo conceito DMC, mas também a maneira como interagimos com os viajantes, através de uma fusão inteligente entre dados, tecnologia e humanismo.
Nesta dimensão, o turismo moderno requer um entendimento profundo dos desejos emocionais do turista, algo que só pode ser alcançado quando existe a fusão da capacidade tecnológica com o toque humano. A análise de grandes quantidades de informação permite conhecer não apenas as preferências explícitas, mas também as necessidades implícitas de cada turista, gerando insights/dados estatísticos cruciais que podem ser usados para criar histórias imersivas e personalizadas, além de criar a ULTRA ESPECIALIZAÇÃO dos destinos, unidades hoteleiras, experiências e serviços a montante ou a jusante, gerando diferenciação e valor acrescentado. A chave da caixa de Pandora é saber interpretar os dados, não como números estáticos, mas como sinais de conexão emocional, antecipando desejos e necessidades que muitas vezes nem o próprio turista sabe que possui.
O marketing, neste novo enquadramento, estará profundamente enraizado nesta fusão de dados e conexão emocional. O marketing, que sempre foi uma ferramenta importante, será transformado em uma arte de criar valor no momento exato da comercialização internacional dos produtos turísticos portugueses. O que antes era uma mera promoção de destinos e serviços será, agora, uma narrativa imersiva e envolvente, onde cada produto turístico é inserido dentro de uma história maior, que toca a alma e a mente do turista. Essa abordagem cria um vínculo emocional duradouro, que não apenas atrai o turista, mas o transforma em um embaixador/a fiel da marca PORTUGAL.
Num mundo onde reina o caos e o barulho, esta é somente a visão de um profissional do turismo que visualiza um setor diferenciado nos próximos 5 a 10 anos. Será, porventura, um tema que possa ajudar a refletir a distribuição turística e todas as suas camadas de complexidade.
Por André Oliveira
Exerceu diversos cargos na área de vendas de grupos internacionais e nacionais, criação de projetos empreendorismo, fundador do VOIGHT, e atualmente é diretor de vendas da Ontravel Solutions S.A, representante em Portugal do maior Tour Operador do UK: Jet2Holidays & Jet2.com. É licenciado em Marketing Turístico pela Universidade do Algarve, possui uma Pós-Graduação em Direção Hoteleira (EHTA), além de especializações em Harvard Business School, London Business School e Wharton, Cornell em Gestão Estratégica, Corporate Finance e asset management.