Numa altura em que muitos países enfrentam, mais uma vez, uma onda de calor que bate recordes, existe uma preocupação na área do turismo em relação aos viajantes poderem aproveitar as férias anuais em alturas diferentes do ano, ou em locais diferentes dos anteriores, afirma a Belvera Partners, um fornecedor de tecnologia para o turismo, em comunicado.
“Para este ano, talvez seja ainda muito cedo para avaliar, mas olhando para os nossos próprios dados com base no nosso Índice de Perceção Climática Mabrian – que utiliza técnicas avançadas de processamento de linguagem natural, inteligência artificial e aprendizagem automática para analisar os meios de comunicação social em tempo real – do verão passado em França, Grécia e Espanha, os turistas estavam, em média, menos satisfeitos com o clima que no ano anterior (que foi muito mais fresco)”, salienta Carlos Cendra, da Mabrian, especialista em informações sobre viagens.
Em contrapartida, alguns dados da Mabrian mostram que os turistas do Reino Unido, no verão anterior, apresentam uma melhor perceção globalmente do clima face a 2021. Concluíram também que os viajantes insatisfeitos com o clima são mais propensos a classificar os seus hotéis, e os destinos em geral, com índices de aprovação mais baixos.
Partindo do pressuposto de que a tendência para um clima mais quente vai continuar – e todas as provas científicas apontam nesse sentido – então quanto tempo irá demorar até termos de repensar toda a nossa abordagem às “férias de verão” enquanto indústria?
Martin Eade da Vibe, fornecedor de tecnologia de motores de reserva, considera que há duas respostas: “Os viajantes podem começar a visitar locais fisicamente mais frescos durante os meses de verão ou podem começar a mudar a altura em que os visitam, por exemplo, chegando muito mais cedo ou muito mais tarde na estação”. O seu palpite é que vamos assistir a uma mistura destas situações e, como tal, os fornecedores de viagens e os vendedores com produtos nos locais mais frescos já devem estar a pensar em impulsionar o seu marketing quando ocorrem ondas de calor.
Entretanto, Gareth Matthews, diretor de marketing da Didatravel, comenta que “apesar de ainda não estarmos a assistir a nenhuma mudança imediata nos nossos padrões de reserva, se o aumento das temperaturas levar a mudanças no futuro, isso não significará necessariamente que os britânicos ou os alemães comecem a passar férias nas praias dinamarquesas, em vez disso, poderá significar que reservem mais o norte de França ou o norte de Espanha – ambos razoavelmente e fiavelmente quentes no verão – pelo que, a médio e longo prazo, a indústria poderá começar a concentrar-se mais nestas regiões”.
“Certamente, dentro das propriedades hoteleiras em regiões mais quentes, é muito provável que vejamos mudanças em termos de ar condicionado, mudança de espaços públicos cobertos e talvez operações de F&B que começam mais cedo no dia ou vão mais tarde na noite para evitar os períodos mais quentes”, aponta Sebastien Leitner, VP de parcerias da Cloudbeds, um fornecedor de tecnologia para hotéis independentes.
Os produtos de seguros de viagem que se mantêm relevantes para o ambiente atual com opções de personalização continuarão a impulsionar a inovação, comenta Katie Crowe da seguradora de viagens. Katie acredita que os produtos de benefício único desagregados, orientados para a tecnologia serão capazes de abordar corretamente estes padrões futuros. Os subscritores de seguros poderão estabelecer preços mais exatos de acordo com o risco, enquanto os clientes constroem as suas apólices com base nas suas necessidades reais.
Para os prestadores de serviços no destino, tais como excursões e atividades, isto também pode ser uma “faca de dois gumes”, salienta Douglas Quinby, da empresa de eventos e pesquisa no destino Arival. “Se fizer passeios de barco de pesca no Alasca, isto pode ser uma boa notícia, mas se for um guia turístico em Roma, não é claramente. Este terá de reagir e pensar na forma como adapta o seu produto e comercializa os seus serviços.” O responsável salienta, ainda, que os preços, a programação e até a contratação de pessoal podem ser afetados, uma vez que o mesmo número de viajantes começa a visitar o país durante períodos mais longos, aumentando assim os custos.
Do ponto de vista tecnológico, isto introduz muitas necessidades e, por conseguinte, oportunidades também para os intermediários de viagens. Por exemplo, os filtros de pesquisa nos websites de viagens poderiam começar a ter uma opção de “temperatura média” ou incluir uma funcionalidade de aconselhamento meteorológico para orientar as pessoas sobre o que esperar.
Entretanto, do ponto de vista da gestão de receitas, Alex Barros, da plataforma de gestão de receitas BEONx, considera que os preços praticados durante anos na “época alta” terão certamente de ser repensados: “talvez possamos associar os preços às temperaturas e não a intervalos de datas”, salientando que “há também a oportunidade de fazer upsell e cross-sell de produtos e serviços que respondam à necessidade de se manter fresco, como passes de acesso a piscinas ou atividades em recintos fechados”.