“Passa a Palavra” é uma iniciativa da Universidade Europeia que comemora os 60 anos da área de Turismo e Hospitalidade. O objetivo é partilhar testemunhos inspiradores de profissionais que atuam no setor do turismo e hotelaria. O TNews junta-se a este movimento, destacando a importância das pessoas, e publicará quinzenalmente um desses testemunhos.
Daniel Mota é diretor hoteleiro e trabalha há 40 anos na área do Turismo e Hotelaria. É o sexto convidado do “Passa a Palavra”.
Qual a coisa que mais gosta no seu trabalho?
Da adrenalina que a gestão de um Hotel gera no dia-a-dia, tornando-o viciante.
Que conselho daria aos jovens para trabalhar na área do Turismo e Hotelaria?
Se gosta de Hotelaria, nunca terá de trabalhar um único dia.
Tem uma história “caricata” que possa partilhar?
Era eu Chefe de Recepção num hotel 5* na Suíça, quando, num determinado dia, sou informado de que um cliente, acompanhado de duas senhoras e um outro senhor, fez check-in sem reserva (Walk-In em 2 quartos), e que tinha dado ao recepcionista 100 francos suíços de gorjeta (talvez o equivalente a 120/130€ nos dias de hoje). Achei a situação generosa, mas sobretudo curiosa dado não serem muito comuns as gratificações tão generosas. Estiveram, nesta vez, alojados por duas noites. Ao longo desta curta estadia, o cliente principal solicitou vários serviços à recepção (pediu um kit de lavagem de dentes, várias fotocópias, etc.). Em cada um destes pedidos, gratificava sempre quem o atendia com 100 francos. No dia da saída, ao liquidar a conta deixou, mais uma vez, 100 francos. Esta situação repetiu-se nas semanas que se seguiram, e as gratificações continuaram também. Entretanto, eu próprio tive oportunidade de o conhecer e ganhar alguma da sua confiança. Tanto assim foi, que acabou por me confidenciar a razão das suas estadias: ele estava preso numa prisão a 50 quilómetros a sul do hotel, e o seu pai, doente, estava internado num hospital localizado numa cidade a cerca de 50 quilómetros a norte do hotel. Assim, sempre que conseguia uma precária para visitar o pai, ele alojava-se mais os seus amigos / amigas no nosso hotel que ficava a meio caminho. O mais curioso foi a razão para estar preso: tinha feito uma falcatrua de milhões de francos, o que o levou a ser condenado a alguns anos de prisão. Disse-me que nunca tentou esconder ou negar o que fez para obter a menor pena possível, na certeza de que quando saísse da prisão, poderia ir para uma ilha e viver à sombra das bananeiras. Será que o crime, afinal, compensa? – Sabendo que eu era português do Algarve, chegou a perguntar-me se eu não queria investir com ele no Algarve. Respondi-lhe que não podia, naturalmente. Nunca mais esquecerei esta história aqui muito resumida, mas muito caricata.