A pouco mais de um mês da sua realização, o Fórum de Turismo Interno – “Vê Portugal” apresentou-se em Lisboa, com a mesma ambição que originou a sua criação: olhar para o impacto e a possibilidade de crescimento do turismo interno. Organizado pelo Turismo Centro de Portugal, esta que é a oitava edição do evento vai realizar-se em Tomar, entre os dias 6 e 9 de junho de 2022. Foi para falar dos desafios e dos objetivos do fórum, que o Turismo do Centro de Portugal organizou uma conferência de imprensa, esta quarta-feira, dia 27, em Lisboa, com a presença do seu presidente, Pedro Machado, da presidente da Câmara Municipal de Tomar, Anabela Freitas, do vogal da comissão executiva da TCP, Jorge Loureiro, da chefe de Núcleo de Comunicação, Imagem e Relações Públicas da TCP, Adriana Rodrigues e a chefe do Núcleo de Estruturação, Planeamento e Promoção da mesma entidade, Silvia Ribau.
Pedro Machado reafirmou os três grandes objetivos do fórum, que estão espelhados nos oradores convidados para falar nos três dias de fórum.
Atendendo aos dados oficiais da atividade turística nos primeiros meses do ano, o responsável do Turismo do Centro de Portugal não têm dúvidas que o “Vê Portugal” será “um marco no processo de retoma do crescimento do turismo em Portugal”.
“Os dados de fevereiro, março e abril parecem vir confirmar uma tendência de crescimento, já que um número substantivo de dormidas que tivemos foram do mercado nacional. O Centro de Portugal, nos dados do INE de fevereiro de 2022, cresceu, comparativamente a fevereiro de 2019, cerca de 50 mil dormidas, alavancadas no mercado interno. Portanto, o “Vê Portugal” mantém a sua filosofia inicial de olhar de forma atenta para os impactos e a possibilidade de crescimento do turismo interno”, refere o responsável.
Para Pedro Machado, o turismo interno provou ser, nestes dois últimos anos, “uma almofada” que mitigou as “perdas compulsivas, quer em Portugal, quer nos outros países”.
Adicionalmente, o responsável destaca o comportamento do turismo interno “para a procura de destinos e produtos que normalmente não estavam na primeira linha dos consumidores”. “Foi por isso que vimos uma maior procura dos territórios de baixa densidade, pelo turismo de natureza, ecoturismo, enoturismo e o turismo ao ar-livre. Percebeu-se que Portugal foi redescoberto pelos portugueses, nestes dois anos de pandemia. Julgo que o comportamento em 2022 é a confirmação das boas experiências que teve em 2020 e 2021”.
Pedro Machado afirma que quer manter o Centro de Portugal “como o primeiro destino turístico para os portugueses. É uma fasquia que queremos manter permanente, atendendo ao conjunto de características que tivemos nos dois exercícios anteriores”.
Recursos Humanos: “Estamos em pânico relativamente ao serviço que vamos dar”, Jorge Loureiro
Uma das ambições do “Vê Portugal” é debater os “temas quentes do presente e do futuro próximo” do turismo em Portugal, de que é exemplo a falta de recursos humanos no setor. Esta questão “é premente”, no entender de Pedro Machado. Também Jorge Loureiro enfatizou o tema: “Se há hoje questão que é transversal e sobre a qual os empresários estão seriamente preocupados é a questão da falta dos recursos humanos no setor”.
Jorge Loureiro chamou a atenção para a questão da retoma e da falta de mão de obra a curto prazo. “Ainda não estamos com níveis de retoma que ambicionamos e que vamos seguramente ter – muito provavelmente já neste verão de 2022 – , e estamos longe de ter os níveis de recrutamento de 2019, que é o ano de referência”. “Há aqui claramente um elefante na sala, que ainda ninguém sabe verdadeiramente como se vai resolver. A procura está aí e está muito pressionante”, apontou. “No último mês a procura acelerou muito, e estamos em pânico relativamente ao serviço que vamos prestar. Não podemos defraudar todo o investimento que o país fez nos últimos 20 anos, ao nível do serviço”, acrescentou.
Por outro lado, Jorge Loureiro mostrou-se preocupado com o avanço da contratualização de trabalhadores que vêm de fora do país. “É um processo que está muito atrasado, muito burocratizado”, defende. “Veja-se o exemplo da facilitação ao nível dos PALOP’s. Se me perguntarem o que aconteceu até agora? Do ponto de vista prático, não aconteceu rigorosamente nada. Não há um pivô no governo que possa pôr a administração central de acordo relativamente à importação de recursos humanos. Se houve condições para o fazer numa situação de urgência, como foi o da Ucrânia, porque é que esse modelo não é replicado?”, questiona.
A preocupação é partilhada por Pedro Machado, ou seja, a falta de recursos humanos pode dificultar a retoma turística. “À semelhança do que aconteceu na Primavera Árabe, Portugal pode ser o destino preferido de muitos dos turistas internacionais. Significa que o destino consegue conciliar a sua boa hospitalidade e a sua boa oferta de produto – que o covid-19 não pôs em causa, mas teremos um défice de pessoas que garantam duas coisas: serviço e hospitalidade portuguesa. Somos muito competitivos também pela forma como recebemos, esse é o ADN dos portugueses. Portanto, há duas ameaças: a existência de recursos humanos que nos garantam o nível de serviço e, mesmo tendo serviço, há outra preocupação que é garantirmos o nosso ADN”.
Sustentabilidade e Coesão Territorial
Além dos recursos humanos, outros temas estarão em debate no “Vê Portugal”, e alguns até já foram debatidos em edições anteriores. É o caso das competências das Entidades Regionais de Turismo.
“Vamos revisitar alguns temas que tivemos na agenda de 2021, como por exemplo, a discussão da revisão da Lei 33, das competências das Entidades Regionais e do seu ajustamento face àquilo que são hoje as delegações e transferência de novas competências para as Comunidades Intermunicipais e o seu relacionamento inter-pares”, refere Pedro Machado. Aproveitando a presença de membros do Governo e dos vários agentes do setor, esta é uma oportunidade também para “deixar mensagens claras”. “Queremos aproveitar este ‘Vê Portugal’ para também demonstrar que as ERT’s e ARPT’s, em particular as ERT’s foram parceiros decisivos para o processo de recuperação dos fluxos turísticos. Hoje a marca Portugal, quer do ponto de vista interno e externo, alavanca a sua diferenciação essencialmente por aquilo que são as singularidades dos territórios, e quem está mais próximo dos territórios são as ERT’s. Julgamos que ainda temos muito a dar naquilo que é o processo de recuperação e, essencialmente, o processo de crescimento”, defende.
Outros dois temas serão ainda alvo de discussão. São eles a mitigação dos impactos das alterações climáticas, no que diz respeito à atividade turística, e a coesão territorial. A este respeito, Pedro Machado defende que em Portugal ainda “existem fortíssimas assimetrias, o que pressupõe que também tenhamos uma palavra a dizer”. “Numa altura em que estamos discutir o Orçamento de Estado e em que estamos a braços com a execução de um PRR, e o início de um novo Quadro Comunitário 2030, há um conjunto de matérias que dizem respeito à criação de condições, não só para que os destinos sejam mais competitivos, como também mais coesos, tais como a mobilidade, a acessibilidade, o investimento público, a criação de condições fiscais, etc, que permitam que os territórios do interior possam competir com os territórios mais maduros”, conclui.
Por sua vez, a presidente da Câmara Municipal de Tomar, Anabela Freitas, realçou o facto do Fórum “Vê Portugal” ser itinerante, o que constitui uma mais valia para os territórios que o recebem, nomeadamente na questão da coesão territorial, ajudando a que se ultrapasse o problema. A autarca destacou o tema da sustentabilidade que estará em discussão no fórum e aproveitou para convidar os participantes a descobrirem Tomar durante o dias do evento.
O programa já tinha sido divulgado. No entanto, esta quarta-feira foram revelados novos nomes. Este ano, o tema central do evento é “A Era Pós-Covid-19 e o Turismo: Olhos Postos no Futuro!”.
Dos nomes já avançados juntam-se os de Margarida Sousa Uva, Senior Manager na Deloitte; Pedro Pedrosa, CEO na empresa Portugal A2Z Walking & Biking; Bernardo Trindade, presidente da AHP; Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC; Lídia Monteiro, diretora de Apoio à Venda do Turismo de Portugal; Jaime Quesado, economista e gestor, especialista em Inovação, Transformação Digital e Gestão Operacional; e Isabel Damasceno, presidente da CCDRC – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
A principal alteração da edição deste ano do “Vê Portugal” é o aumento da duração do evento, que passa a ser de quatro dias. Este programa alargado deve-se à realização de uma bolsa de negócios e contactos e de uma visita guiada ao território.
Turismo do Centro homenageia personalidades em Jantar Oficial
Já uma tradição instituída em edições anteriores deste fórum, o Jantar Oficial “Vê Portugal”, na noite de dia 7, será um dos momentos altos do programa. Esta é a ocasião em que o Turismo Centro de Portugal homenageia personalidades que se destacaram no setor turístico nacional e regional.
Durante o Jantar Oficial, no Hotel dos Templários, serão também entregues os prémios do Concurso de Empreendedorismo Turístico José Manuel Alves, instituídos pelo Turismo Centro de Portugal e que visam apoiar projetos inovadores no setor do turismo, assim como os Prémios do Concurso de Teses Académicas, de Mestrado e Doutoramento, que incidem sobre o Centro de Portugal. Mais informações sobre estes prémios estão disponíveis em .
A participação no Jantar Gala “Vê Portugal”, tal como no Fórum, é gratuita e limitada, com obrigatoriedade de inscrição e sujeita a confirmação.
O programa completo do Fórum Vê Portugal e a ligação para as inscrições podem ser acedidos no site da Turismo Centro de Portugal, em www.turismodocentro.pt ou em www.facebook.com/forumveportugal.