O crescimento da TAP no Brasil passa pelo reforço de rotas existentes e não pela abertura de novas ligações, já que, para isso, seriam necessárias novas aeronaves, afirma Carlos Antunes, diretor da companhia para as Américas.
Num encontro com a imprensa portuguesa à margem do Festuris – Festival de Turismo de Gramado, que decorre até este domingo, dia 12, Carlos Antunes reconheceu que “sem aviões novos não conseguimos lançar novas rotas, o que temos vindo a fazer é reforçar a rotas existentes”. Limitada “pelo acordo que fez com a Comissão Europeia” no que diz respeito ao aumento da frota, a transportadora tem vindo a trocar alguns aviões de menor capacidade por aviões de maior capacidade, “os narrow body por wide body, para conseguir fazer esta operação intercontinental”, refere o responsável.
Em setembro deste ano, a TAP anunciou que iria aumentar o número de frequências entre Portugal e o Brasil no próximo ano, passando de 80 para 91 partidas semanais. No entanto, nenhum destes voos adicionais terá origem numa nova rota para o Brasil.
Ainda assim, Carlos Antunes realça que o Brasil é o mercado intercontinental da TAP com o maior crescimento no verão de 2024. Recife ganha mais três frequências semanais a partir de Lisboa, passando de sete para dez. Já o Rio de Janeiro ganha mais duas frequências semanais, passando de dez para 12. São Paulo, Belém, Brasília, Natal, Maceió, Porto Alegre e Salvador também terão mais um voo semanal de e para Portugal.
O responsável sublinha ainda as ligações ao Porto, tanto de São Paulo (3 frequências semanais), como do Rio de Janeiro (duas frequências semanais), que vão manter-se o ano todo. “O Porto é uma grande aposta da empresa e é onde podemos crescer, tendo em consideração alguns constrangimentos da capacidade de Lisboa. Conseguimos manter os três voos por semana para São Paulo e os dois do Rio ao longo do ano todo. Isso é uma grande vitória”, refere.
Rota Lisboa-Porto Alegre cresce 51%
A participar no Festival de Turismo de Gramado, no Estado do Rio Grande do Sul, um dos tópicos da conversa com Carlos Antunes foi a ligação a Porto Alegre, com o responsável a destacar o crescimento de 51% de passageiros transportados este ano, relativamente a 2022.
“De 2022 para agora, já crescemos em 51% em volume de passageiros transportados na rota de Lisboa-Porta Alegre”, adianta. A companhia reativou esta rota no final de março de 2022, mantendo os três voos semanais, mas no verão de 2024 passará a quatro.
“Ainda não está no nível das cinco ou seis frequências que tínhamos, é uma rota cara, muitas horas de voos, mas também nos interessa aumentar o número de voos por causa da optimização recursos, nomeadamente as tripulações, e poder oferecer ao cliente maior flexibilidade nas suas viagens”.
Questionado se esta é uma ligação procurada pelos portugueses, Carlos Antunes revela que “não há muitos portugueses nesta rota. O primeiro mercado é o Brasil e depois Itália.”
Canal agências traz maior “valor agregado”
Dependendo da sazonalidade, Carlos Antunes revela que as vendas através dos canais das agências “andam muito perto” das vendas online da companhia. “Depois da pandemia, sentimos uma maior pressão da procura por parte do canal das agências de viagens, porque as pessoas durante a pandemia precisavam de aconselhamento”, refere. Apesar de, em volume de passageiros as agências igualarem os canais diretos da companhia (site e call center), Carlos Antunes realça que “em valor agregado, é o canal mais importante”. “Vendem tarifas mais altas, vendem o pacote, organizam o roteiro, seja em lazer, ou em trabalho, vemos o ressurgimento do bleisure” . Outra tendência “interessante” que surgiu após a pandemia, revelada pelo diretor da TAP para as Américas, é o “aumento muito expressivo da quantidade de crianças que viajam em executiva”, o que levou a companhia a refazer a sua oferta nesta classe, representando agora quase 40%.
Os principais destinos de procura do mercado brasileiro são Portugal, seguido de Espanha, França e Itália. Outro indicador fornecido por Carlos Antunes diz respeito ao programa Portugal Stopover, lançado em fevereiro. “Os passageiros do Brasil são os que mais fazem stopover em Lisboa. Os últimos dados até setembro, indicam que o Brasil representa 47% do total de passageiros do programa”.
Quanto aos desafios da TAP no Brasil, o responsável identifica “o aumento muito grande de capacidade dos nossos concorrentes”. “Estamos no Brasil há 50 anos, e muitos dos nossos concorrentes entram e saem, tivemos agora um número significativo de aumento de voo da LATAM, da ITA, da Air Europa, e muitos outros, o grande desafio é conseguirmos ter tarifas atrativas que que paguem as contas, que nos permitam competir, que entreguem a rentabilidade que o nosso acionista requer, que mantenham a coerência do plano de reestruturação e nos mantenham atrativos para um processo de privatização, contamos muito com os agentes de viagens nessa missão, por isso é que estamos no Festuris, que é um grande showroom dos nossos produtos”.
Ainda sobre a concorrência, Carlos Antunes admite que, se a TAP não abrir novas rotas, poderá estar a abrir portas a outras companhias. “Onde há procura e não há oferta, alguém põe a oferta”, conclui. “Hoje somos a principal companhia aérea internacional no Brasil e a principal europeia, com a nossa cobertura e com a rede dos parceiros de codeshare, GOL e Azul”, afirma, dizendo ainda que brevemente, “espera adicionar a LATAM como parceiro doméstico”. Por outro lado, acrescenta, “acreditamos que o nosso diferencial é essa capilaridade que temos no Brasil, ter Belo Horizonte, Brasília, Belém, Natal, que outros não têm”.
Quanto a destinos para os quais a TAP poderia voar no Brasil, Carlos Antunes lembra que “há um namoro entre a TAP e Florianópolis” e também “conversamos com Curitiba”. Para o responsável, “são cidades que não estão servidas por voos internacionais diretos para Europa ou para outro continente, e onde poderíamos continuar a desenvolver a nossa estratégia, é voar de destinos principais e secundários de um lado, para vários destinos secundários em França, Espanha, Itália, com um one stop ou um one stopover em Lisboa, isso dá-nos um diferencial competitivo muito importante”.