A SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo, considera que o estudo apresentado pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP) sobre o novo aeroporto de Lisboa “é omisso” e “sem soluções”.
Para Pedro Castro, diretor da SkyExpert, o estudo apresentado na passada quinta-feira, 14, desconsidera o impacto positivo decorrente da “criação cada vez maior de voos diretos para os restantes aeroportos do país” que, defende Pedro Castro, também ocorre como consequência do alegado “congestionamento” de Lisboa. Para o diretor, “a questão não se coloca apenas nos termos simplistas apresentados: ou tenho slot em Lisboa ou então vou para Madrid. A riqueza pode continuar em Portugal mas sair de Lisboa.
Pedro Castro dá os exemplos da Ryanair e da EasyJet: “A Ryanair desistiu da sua expansão em Lisboa, mas baseou dois aviões na Madeira, investiu 200 mil dólares, criou 10 novas rotas para diversos destinos e gerou 60 empregos diretos numa ilha onde, até Março, não existiam companhias baseadas. A easyJet vai abrir 4 rotas diretas entre a Europa e o Funchal, servindo mercados que antigamente tinham de mudar de avião em Lisboa para lá chegar ou que simplesmente escolhiam outros destinos por falta de acesso direto. No Continente, do aeroporto de Faro voa-se sem escalas para mais de 20 cidades no Reino Unido”.
“Por outro lado”, prossegue, “este estudo é totalmente omisso sobre dois assuntos-chave: “a agenda climática e da sustentabilidade; e como resolver a situação nos anos em que, supostamente, iremos perder tanto dinheiro à espera do novo aeroporto?”
Começando pelo último ponto, o diretor fez questão de recordar que em Portugal “nunca uma obra desta envergadura ficou pronta no prazo e respeitando o orçamento previsto”. Discorda igualmente “da opinião pessoal do presidente da CTP expressa à margem do estudo sobre a impossibilidade de aumentar a capacidade da Portela”. “É tecnicamente errado, existem estudos da ANA sobre isso e a NAV concretizou há poucos dias, e depois de anos, um projeto para melhor gestão do espaço aéreo nesse sentido”.
Pedro Castro avança com outras sugestões. “De acordo com um estudo recente do Jornal de Notícias existem 100 slots diários atribuídos à TAP que não estão a ser usados para nenhum voo, mas que ocupam esse espaço. Qual o posicionamento da CTP sobre essa realidade? Já a debateu com os decisores políticos?”, questiona.
Por sua vez, o diretor avança que sublinha que existem “26 slots diários usados exclusivamente para as ligações Lisboa-Porto e Lisboa-Faro, ligações aéreas que, noutros países, já não existem. Estaria a CTP disposta a apoiar o fim destas ligações domésticas totalmente irrelevantes para o turismo?”
Por último, enumera que existem “cerca de 70 slots diários da TAP usados em rotas com rácios de transferência para voos internacionais superiores a 80%: Dakar, Banjul, Conacri, Abidjã, Acra e Tanger para citar alguns desses destinos. Qual o interesse que a CTP vê na manutenção de rotas sem impacto
para a indústria que representa?”
Para Pedro Castro, “se houvesse vontade genuína de resolver o problema do turismo, a agenda da CTP deveria ser resolver estes problemas, até demonstrando o “valor económico” de um passageiro em trânsito e de um passageiro que desembarca em Portugal. São mais de 6 milhões de passageiros a usarem a Portela sem grande benefício; com um outro tipo de dinâmica e intervenção da CTP, talvez tivéssemos o tal slot para o voo da Qatar Airways mencionado.”
Sobre a agenda climática, Pedro Castro resume a sua posição com esta nota: “Os campos de golfe e parte da Quinta do Lago arderam. Quando o país tiver 2 aeroportos na sua capital e o resto reduzido a cinzas, a CTP e seus associados vão vender o quê?”
Recorde-se que a SkyExpert vai realizar no próximo dia 19 de 1ulho às 18h00 no Museu do Oriente (Lisboa) um debate multidisciplinar sobre a construção de um novo aeroporto de Lisboa.