Segunda-feira, Maio 19, 2025
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Talent Connect | Antónia Correia: “Desafios atuais do setor estão relacionados com o elevado turnover”

No próximo dia 30 de outubro, a Bolsa de Empregabilidade promove o Talent Connect, uma conferência dedicada aos profissionais de recursos humanos no setor do turismo e que conta com o TNews com media partner. Realizada na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril, a primeira edição visa fomentar a partilha de experiências e o networking entre os participantes. Como tal, conversámos com Antónia Correia, presidente da direção do KIPt e professora na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, sobre os principais desafios que o turismo enfrenta atualmente.

Como vê a evolução do turismo como grande empregador em Portugal nos próximos anos?

O setor do Alojamento e Restauração e Similares empregou 335,2 mil indivíduos em 2023, com uma variação positiva de 11,7% e uma representatividade de 6,6% do total do emprego na economia.

As atividades de alojamento geraram 77,2 milhões e 25,2 biliões de euros em 2023, valores que revelam taxas de variação de 11,8% e 19,5%, respetivamente. Sendo que as receitas turísticas representam 9,6% do PIB nacional.

A prevalência da atividade turística no país é indubitável e não revela sinais de abrandamento. Pelo contrário, estudos sobre as tendências do setor sugerem um crescimento continuado da procura turística com estadas mais prolongadas e mais receitas. O barómetro turístico que o KIPT Colab vai lançar em janeiro aponta crescimentos sustentados das receitas, dormidas e emprego. Ainda este barómetro aponta que, na perspetiva das empresas, o setor vai continuar a crescer e consequentemente o emprego.

Tendências que não acontecem apenas do ponto de vista quantitativo, mas também qualitativo. O ano de 2023, marca uma viragem no setor sem precedentes – Jovens (48% tinha menos de 45 anos), com formação ao nível do ensino secundário ou superior (54%), e 90% trabalha a tempo completo.

Ainda, e contrariando a perceção de que o setor paga mal, refira-se que a remuneração bruta média mensal, por posto de trabalho, no setor do Alojamento e Restauração atingiu os 1.005€ no ano de 2023, um aumento de 8,3% em relação a 2022. Este aumento foi superior ao crescimento da média da economia para o mesmo período, 2,8% (1.523€). 

O turismo é e continuará a ser o setor com maior capacidade de absorção de mão de obra, a montante e a jusante. No entanto, os sinais de maior qualificação e capacitação são para fazer crescer. O Governo e as instituições de ensino estão conscientes desta necessidade, que no fundo antecipa novos desafios que o setor já começa a enfrentar: tecnologia e novos paradigmas de consumo sugerem a especialização e a descentralização geográfica do emprego, como os motes de evolução da profissão em turismo.

Se a tecnologia gera novas profissões mais especializadas e com remunerações mais atrativas, novos padrões de consumo geram procuras em destinos seguros e menos explorados, redistribuindo a população e contribuindo para uma maior coesão territorial. Uma dualidade que só pode ser percebida com muito otimismo.

Quais são as competências mais importantes que os profissionais do turismo precisam desenvolver para se adaptarem às novas exigências do setor? Como as instituições de ensino estão a responder a essas necessidades?

A par do trabalho que o turismo de Portugal tem vindo a desenvolver ao nível do desenvolvimento de competências, o Kipt Colab listou competências e necessidades de formação dos profissionais a três níveis: os estudantes de turismo, os profissionais com formação na área e os profissionais sem formação na área. Ainda que com intensidades diferentes e perceções adaptadas a cada perfil, pode antecipar-se a necessidade de mais competências digitais, desenvolvimento pessoal, turismo e hospitalidade e gestão.

A transformação digital é uma realidade no setor do turismo, as ferramentas de gestão de reservas online, o marketing digital, o big data analysis e inteligência artificial são essenciais para o sucesso. Logo, é fundamental que os profissionais dominem o uso das tecnologias digitais para a gestão eficiente de operações, personalização de serviços e análise de tendências do mercado.

Por outro lado, os profissionais do turismo lidam com uma diversidade cultural muito significativa. Neste sentido, o savoir-faire para conviver, entender e respeitar diferentes culturas, idiomas e costumes é vital para proporcionar um serviço que atenda às expectativas de todos os turistas. A comunicação eficaz e a capacidade de criar empatia são a base de um serviço que assenta na multiculturalidade.  

As mudanças no comportamento dos consumidores e turistas justificam a necessidade de mais competências na área do turismo e hospitalidade e da gestão, assente na crescente valorização da economia das experiências, contrapondo aos produtos turísticos tradicionais.

As instituições de ensino têm adaptado as suas abordagens para preparar os profissionais de turismo para as novas exigências da profissão através de novos modelos de ensino mais proativos (problem-based learning e project based learning), integração de novas unidades curriculares ajustadas às novas tendências e novas tecnologias e ferramentas digitais, bem como planos de estágios nacionais e internacionais.

No entanto, segundo o Barómetro do Turismo do KIPT (Barturs, 2024), apesar de esforços e dinamismo das universidades e politécnicos para tornar atrativo o setor profissional do Turismo e Hotelaria (T&H), o número de estudantes inscritos em T&H e o número de diplomados apresenta decréscimos (5 e 15%, respetivamente, nos anos de 2023) que comprometem a qualificação que as novas tendências exigem.  

Esta desistência da formação em T&H contraria a tendência de qualificação crescente que o setor carece e coloca novos desafios na atração e retenção de talentos.

Quais os principais desafios que o setor enfrenta atualmente em termos de captação e retenção de talentos, e que oportunidades identifica para melhorar a experiência dos trabalhadores no turismo?

Os principais desafios que o setor do turismo enfrenta atualmente em termos de captação e retenção de talentos estão relacionados com o elevado turnover do setor, particularmente em áreas como a hotelaria/alojamento e restauração, fruto de uma diabolização mediática e do preconceito social associado à profissão, o que dificulta a retenção de talentos.

Os impactos de crises globais como a pandemia de COVID-19, por exemplo, reduziu drasticamente a procura pelo mercado de trabalho do T&H e deixou muitos trabalhadores inseguros quanto à estabilidade do setor.

No entanto, um estudo realizado pelo KIPT CoLAB (2024) destaca a necessidade de estratégias diferenciadas na gestão de carreiras no setor do T&H, considerando as ambições e realizações de cada colaborador. Na generalidade, os profissionais não qualificados no setor do T&H valorizam o setor, mas enfrentam insatisfação salarial e menos oportunidades de progressão na carreira, enquanto os profissionais qualificados e estudantes na área do T&H mostram maior motivação e priorizam o prestígio social e formação. A emigração é uma opção para alguns profissionais, nomeadamente os estudantes, e o compromisso com o setor compatibiliza com os profissionais experientes. Urge, atualizar currículos académicos, planos de formação e melhorar práticas de gestão e liderança para atrair e reter talentos. Fundamental “… gerir com paixão e com o coração”.

Por outro lado, a imigração parece um fenómeno capaz de criar dinâmicas ao setor e efetivar a tão desejada atração e retenção de talentos. Deste modo, um estudo realizado pelo KIPT CoLAB (2024) sobre “Imigrantes no turismo e hotelaria em Portugal” analisou os fluxos migratórios, motivações, expectativas e condições de vida dos imigrantes no setor do T&H. Os dados destacam como principais motivações para a imigração para Portugal os melhores salários, afinidade cultural, melhores oportunidades profissionais e a qualidade de vida que Portugal oferece comparativamente com os países de origem. As expectativas focam o desenvolvimento profissional, enquanto a atitude em relação à imigração reforça a satisfação com a vida em Portugal. O estudo conclui que entender essas dinâmicas é essencial para formular políticas que promovam a integração e a retenção de imigrantes, ajudando a fortalecer o desenvolvimento socioeconómico de Portugal e o setor do T&H, respetivamente.

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