Revelamos histórias peculiares e inéditas dos profissionais de turismo vividas durante uma viagem e agora contadas na primeira pessoa.
Por João Pinto Coelho, diretor comercial do Grupo Onyria Resorts
Sempre me falaram maravilhas de Berlim, na internet esta cidade é descrita como “cidade multicultural, com uma cena cultural e artística vibrante, cheia de história e arquitetura impressionante. Além disso, a cidade oferece uma vida noturna agitada e gastronomia diversificada.” Não concordava, na verdade, não morria de amores por Berlim, achava mesmo uma seca.
Depois de mais de 10 anos a ir a Berlim à Feira ITB, esta cidade apenas me fazia pensar numa feira gigantesca com pavilhões enormes e transfers entre pavilhões, agenda carregada de reuniões e muito trânsito à chegada e saída.
Em 2015, a minha irmã, seis anos mais velha, inscreveu-se numa maratona pela quarta vez. Já tinha corrido maratonas em alguns países e desta vez escolheu Berlim. Quando me contou, perguntei logo: “Há tantos sítios bonitos, porquê Berlim?”. Respondeu-me com os vários argumentos: É um percurso muito rápido e plano, atrai 40.000 corredores de todo o mundo em busca de recordes pessoais e até mesmo mundiais; é uma maratona com atmosfera única, com mais de um milhão de pessoas a assistir ao longo do percurso e a incentivar; é cidade histórica e vibrante, blá blá… Ao terceiro argumento, penso que já nem a estava a ouvir, até porque acho a palavra “vibrante” no mínimo irritante. Mas as duas primeiras ideias eram, sim, muito excitantes.
A minha irmã com cinco filhos, já tinha feito muitas maratonas. Eu, mais novo, sem filhos, tinha feito ZERO Maratonas.
Este era o local perfeito para a minha primeira maratona. É o percurso mais rápido do mundo, sem subidas. Queria fazer um bom tempo, e acima de tudo, reduzir ao mínimo as hipóteses de fazer figura de parvo e não acabar.
Entusiasmei-me e treinei afincadamente durante quatro meses. Corri muitos quilómetros de madrugada, de noite e até à hora do almoço. Mudei a alimentação, passei a comer vegetais (antes detestava), reduzi drasticamente nos hambúrgueres e coca-colas, tomei suplementos Não bebi álcool durante quatro (longos) meses. Na noite anterior à Maratona, quase não dormi, o típico nervoso miudinho.
Chegou o dia, é agora ou nunca.
Quando há muitos quilómetros para fazer, um truque importante: fazer um quilómetro de cada vez, aproveitar as vistas e distrair-me com o que se passa ao redor.
No fundo, era fazer o que nunca tinha feito nas anteriores visitas em que passava a vida em reuniões, em taxis e a olhar viciadamente para telemóvel.
Foi um dia inesquecível, lado a lado com mais de 40 mil corredores do mundo inteiro.
O percurso passa por locais emblemáticos como as Portas de Brandemburgo, a Torre de TV e o Muro de Berlim que admito que, com vergonha, nunca tinha tentado visitar.
Vi Berlim de uma forma bem diferente. Adorei.
Na euforia do momento, achei que a cidade tinha mudado, quando era óbvio que eu é que precisava de mudar para ver o que já lá estava.
É o que acontece em quase todas as viagens, a beleza está sempre lá mas nem sempre a conseguimos ver.
PS1– O vencedor foi o Lendário etíope, Eliud Kipchoge (estabelecendo na época o segundo melhor tempo da história) hoje unanimemente considerado o GOAT !
PS2– Sim, admito, Berlim é vibrante!
Grande João!!
Tenho que ir fazer uma maratona contigo, pois a Berlim que eu conheço era a que tu conhecias… 🙂
Efetivamente é tudo um questão de escolhas na vida…
Existe beleza e tristeza em tudo. O segredo está onde queremos nos focar. 🙂
Grande abaço