Quinta-feira, Maio 1, 2025
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“Vê Portugal”: Presidentes regionais enfatizam importância da colaboração e crescimento sustentável no setor

No âmbito do Fórum de Turismo Interno “Vê Portugal”, que decorre na Covilhã, os presidentes regionais das regiões turísticas de Portugal enfatizaram a necessidade de um crescimento sustentável e colaborativo na indústria turística.

Sob o tema “Turismo Interno – Desafios para Portugal”, o debate contou com a participação de Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, e quatro presidentes de regiões de turismo: Pedro Machado, do Centro de Portugal; Luís Pedro Martins, do Porto e Norte de Portugal; Vítor Silva, do Alentejo; e João Fernandes, do Algarve.

O jornalista Paulo Baldaia, moderador do debate, desafiou os intervenientes a discutir formas de melhorar a estrutura do turismo em Portugal.

Luís Araújo iniciou a discussão destacando que o modelo atual funciona e tem dado resultados comprovados. “A promoção turística do país requer estruturas flexíveis, que respondam às necessidades dos turistas, dos colaboradores, daqueles que cá vivem, das empresas, e isso só se consegue com estruturas ágeis que se foquem na colaboração entre todos. É esse modelo que existe e que tem alcançado resultados muito positivos”, afirmou.

Por sua vez, Luís Pedro Martins afirmou que “o setor do turismo tem conseguido prosseguir o trabalho realizado sem grandes roturas e com estabilidade”. Recordando que “o turismo foi o setor pioneiro na criação de entidades regionais em 2013”, Luís Pedro Martins referiu que “passada uma década, é altura de mudanças. As regiões estão próximas das empresas e, devido a essa proximidade, podem assumir parte do trabalho realizado pelo Turismo de Portugal”. “Estamos no bom caminho e só temos de o aprofundar”, concluiu.

Vítor Silva, em representação do Alentejo, considerou que não é necessário alterar o modelo atual. “Este modelo já provou que funciona e introduzir alterações poderia ser um tiro no pé. Somos o setor económico mais invejado e, com poucos meios, conseguimos fazer crescer as marcas regionais. O modelo funciona, não é preciso mexer”, disse.

João Fernandes reconheceu também que “o modelo está bem conseguido e tem dado cartas”, lembrando que “o Turismo de Portugal é uma referência a nível internacional”. No entanto, destacou a necessidade de “reforçar as competências das Entidades Regionais de Turismo (ERT), num processo contínuo de melhoria”, além de enfatizar a importância de “reforçar o financiamento das ERT, que necessitam de mais recursos”.

Pedro Machado reforçou a ideia de que a estrutura do turismo é funcional, “mas precisa de melhoramentos”. “A Lei 2013 resolveu diversos problemas, como a proliferação de entidades de turismo, que provocava descontinuidade territorial nos produtos turísticos. Mas, entretanto, o mundo mudou. Os visitantes têm agora prioridades diferentes, pelo que há alterações que devem ser feitas agora no reforço das competências das ERT. Estamos bem, mas podemos melhorar”, concluiu.

Aumento de receitas turísticas

Inquirido se “Haverá turismo sustentável se continuarmos a medir o sucesso do setor com base no número de visitantes e dormidas?”, Luís Araújo frisou que “um dos objetivos na estratégia 2027 é o número de receitas turísticas”.

“Temos o objetivo, até 2027, de alcançar 27 mil milhões de euros em receitas e esse é o nosso grande foco”, avançou, recordando que em 2022 registaram-se 21,1 mil milhões de euros em receitas, o que representou um crescimento de 44%.

Luís Araújo frisou que o crescimento das receitas turísticas é uma das prioridades do Turismo de Portugal, “através da estruturação de produto e da criação de redes”. De acordo com o presidente, há segmentos que valorizam este tipo de produtos, nomeadamente os mercados de longa distância.

Quando questionado sobre de que forma é que é possível crescer, Luís Pedro Martins citou o pensamento estratégico do setor em 2023 para ilustrar como o crescimento pode ser alcançado. “Se observarmos os números de 2023, no caso do Porto e Norte, percebemos que algo está a mudar na região”, explicou, destacando que houve um crescimento de 36% no número de hóspedes, um incremento de 40% nas dormidas e um aumento de 54% em proveitos. Portanto, segundo o responsável, pode-se chegar a uma conclusão positiva, uma vez que o crescimento em termos de proveitos supera o crescimento em número de dormidas e de hóspedes.

A chegada de novos mercados de longa-distância à região, como o mercado dos EUA, Canadá, Brasil, e da Coreia do Sul, segundo Luís Pedro Martins, está “a mudar o paradigma”. “Se temos a United Airlines a voar todos os dias para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, qual é a admiração de perceber que o mercado americano passou de sexto lugar para terceiro?”, enfatizou.

Excesso de Turismo?

Vítor Silva salientou que “o turismo implica consumo”, salientando que é preferível um crescimento em valor do que em número de dormidas. No entanto, o responsável ressaltou a necessidade de levar em consideração a inflação ao analisar esses números. O presidente do Turismo do Alentejo expressou preocupação com a transformação do turismo, “que deixou de ser uma atividade sustentável para se tornar predatória”, citando exemplos como Veneza, Paris e Barcelona. No entanto, salientou que no Alentejo ainda há um enorme potencial de crescimento, uma vez que é uma região de baixa densidade e que representa apenas 4% do turismo nacional.

O presidente do Turismo do Alentejo ressaltou a incompatibilidade entre o turismo de massas e a essência de um turismo mais autêntico e espontâneo. Vítor Silva destacou a importância de refletir sobre se continuaremos a tratar o turista como um “mero consumidor de serviços”, defendendo que em vez de encararmos o turista como um ser passivo que simplesmente recebe as experiências que oferecemos, deveríamos considerá-lo como um visitante que também pode compartilhar as suas próprias experiências.

João Fernandes contrapôs, afirmando que a Universidade do Algarve realizou um inquérito a mais de quatro mil pessoas com o intuito de entender a percepção dos residentes sobre o turismo. “Nesses quatro mil inquéritos, não houve um único inquérito com respostas com perfil de turismofobia”, disse.

Por sua vez, Pedro Machado defende que “o grande desafio é recebermos turistas que não querem ser chamados de turistas, não querem ser colados à pegada ecológica, à massificação, não querem ser intrusos”. O responsável sublinha, ainda, que no Centro de Portugal existe ainda o desafio de aumentar a estadia média e “esbater a sazonalidade” da região.

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