Sábado, Março 22, 2025
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A importância das experiências no turismo

“a homogeneização das experiências turísticas empobrece a oferta, retira a identidade dos destinos e reduz o impacto emocional das viagens”

O turismo evoluiu. Hoje, mais do que simplesmente visitar destinos, os viajantes procuram experiências autênticas, que os liguem verdadeiramente à cultura e identidade local. A experiência tornou-se o principal fator de diferenciação num mercado globalizado, onde a oferta de destinos é vasta e diversificada, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais homogénea.

O escritor Eça de Queirós já antecipava esta necessidade de autenticidade quando afirmou:

“Com a mania francesa e burguesa de reduzir todas as regiões e todas as raças ao mesmo tipo de civilização, o mundo ia tornar-se numa monotonia abominável. Dentro em breve um touriste faria enormes sacrifícios, despesas sem fim, para ir a Tumbuctu – para quê? Para encontrar lá pretos de chapéu alto, a ler o Jornal dos Debates.”

Esta reflexão mantém-se atual: a homogeneização das experiências turísticas empobrece a oferta, retira a identidade dos destinos e reduz o impacto emocional das viagens. Se os viajantes encontrarem sempre as mesmas lojas, os mesmos restaurantes, os mesmos super alimentos e as mesmas atividades em qualquer parte do mundo, onde fica o encanto da descoberta? O que os fará escolher um destino em detrimento de outro? será que nos resta o preço como fator de distinção.?

O turismo não pode ser apenas uma transação comercial, onde se vende um serviço padronizado. Quer dizer, até pode, mas estaremos mais longe do sucesso. Tem de ser uma experiência memorável, onde cada detalhe contribui para a sensação de pertença e descoberta.

Autenticidade como diferenciação

Portugal tem o privilégio de oferecer uma identidade cultural única, marcada pela diversidade das suas regiões, tradições, gastronomia e hospitalidade. Desde os vinhedos do Douro às aldeias históricas da Beira Interior, das tradições piscatórias da Costa Vicentina às tradições do Alentejo, há uma riqueza de experiências que não podem ser replicadas em nenhum outro lugar do mundo.

Para que o turismo nacional continue a crescer de forma sustentada e sustentável, é essencial preservar e valorizar estas características. A diferenciação não está apenas nos monumentos ou nas paisagens, mas na forma como os visitantes são recebidos e integrados no modo de vida local. Uma refeição confecionada por habitantes da região, uma caminhada guiada por quem conhece cada recanto da terra, um passeio de bicicleta por trilhos inexplorados, uma oficina de artesanato com quem mantém vivas técnicas ancestrais – são estas experiências que ficam na memória e que criam uma verdadeira ligação ao destino.

O verdadeiro luxo do turismo moderno não está nos serviços padronizados, mas na possibilidade de viver como um local, sentir o destino em toda a sua essência e criar memórias únicas. Os viajantes de hoje procuram algo mais profundo do que simplesmente visitar um local; querem compreendê-lo, senti-lo e levá-lo consigo na bagagem emocional da viagem.

Impacto económico das experiências autênticas

Os números comprovam que os viajantes que valorizam experiências autênticas são os que mais gastam e os que mais regressam. Estes clientes não procuram apenas um local para dormir, mas momentos inesquecíveis que os façam querer voltar e partilhar a experiência com os amigos. São também os que melhor avaliam os destinos, contribuindo para uma reputação digital mais forte e, consequentemente, atraindo novos visitantes.

Estudos indicam que um turista que participa em atividades locais tende a gastar significativamente mais do que aquele que se limita a consumir os serviços básicos de alojamento e restauração. Este impacto é visível no apoio a pequenos negócios, como produtores regionais, guias turísticos, artesãos e restaurantes familiares. Um destino que aposta na autenticidade não só se destaca num mercado altamente competitivo, como também gera um ciclo virtuoso de desenvolvimento local, criando empregos e promovendo o bem-estar das comunidades.

Além disso, turistas satisfeitos tornam-se os melhores embaixadores de um destino. As suas recomendações espontâneas nas redes sociais, blogs e plataformas de avaliação têm um peso enorme na decisão de outros viajantes. Num mundo onde as opiniões online influenciam diretamente as escolhas de consumo, investir em experiências diferenciadas e autênticas traduz-se num crescimento sustentável e na fidelização de clientes.

O futuro do turismo é experiencial

Estamos num ponto de viragem no setor do turismo. A era dos pacotes turísticos massificados (ainda mainstream) começa a dar lugar a viagens personalizadas e significativas. O turista de hoje quer autenticidade por detrás dos lugares que visita.

Ao mesmo tempo, as novas gerações de viajantes, mais conscientes e exigentes, procuram destinos que respeitem a cultura e a sustentabilidade. O turismo de experiências tem um papel fundamental neste novo paradigma, promovendo uma abordagem responsável e equilibrada. Em vez de um consumo passivo, a tendência é para um envolvimento ativo com os destinos e suas populações, em que o turista deixa uma pegada positiva e não apenas um rastro de consumo indiferenciado.

As marcas e destinos que souberem interpretar esta mudança e transformar a autenticidade num fator central da sua oferta ganharão uma vantagem competitiva indiscutível. Portugal tem todos os ingredientes para ser um dos principais destinos do mundo nesta nova dimensão do turismo – basta que saibamos valorizar aquilo que nos torna únicos e distintos.

O desafio está lançado: será que estamos preparados para fazer do turismo uma verdadeira celebração da autenticidade?

E vocês, qual foi a experiência mais autêntica que já viveram numa viagem?

Por Nuno Constantino

CEO do Grupo Wotels

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