Quarta-feira, Outubro 16, 2024
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“A questão das estrelas [nos hotéis] está completamente em desuso”

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Paulo Reis Silva, senior partner na Saraiva + Associados, empresa de arquitetura e design, esteve à conversa com Rui Meneses Ferreira, da Kronos Investment Group, grupo de investimento imobiliário em Portugal e Espanha. A talk “Tendências no Turismo Pós-Pandemia”, aconteceu na passada quinta-feira e abordou o impacto dos novos formatos de turismo na arquitetura, planeamento e design.

Rui Meneses Ferreira começa por explicar que um projeto de turismo residencial tem de ser desenhado de forma diferente de projetos para outras atividades, como os escritórios. “Desenhar um projeto de um hotel é diferente e mais difícil do que desenhar um escritório”, defende. Há, de acordo com Rui Meneses Ferreira, um conjunto de especialistas de várias áreas que “têm de se sentar à mesa e partilhar opiniões para definir um programa que tem de ser respeitado”. Desde especialistas de F&B, a especialistas de SPA. “Desta partilha de necessidades, nasce um produto final que está mais preparado e mais adaptado à operação”, referiu.

“A primeira coisa que nós tentamos fazer, quando desenvolvemos um projeto turístico, é identificar quem serão os nossos utilizadores e o que procuram”. O diretor executivo da Kronos sublinha que na hotelaria é muito importante saber quem vai utilizar o projeto, porque a ligação entre a construção e a operação é fundamental, “têm de estar interligados”.

Branded Residences

Outro dos assuntos abordados foram as branded residences, unidades residenciais que fazem parte ou estão anexas a um hotel, que, segundo Rui Meneses Ferreira, garantem serviço e captam outro tipo de investidores. “O programa de fidelização da Marriott deve ter, mais ou menos, 150/160 milhões de aderentes em todo o mundo. Se eu fizer uma branded residence com a Marriott tenho capacidade de chegar a esse tipo de público”.

O diretor executivo da Kronos explica que há números publicados que afirmam que uma branded residence pode vender-se 30% mais cara do que a mesma casa, que não está associada a uma marca. “Eu não acredito nestes 30%, mas acredito que se pode vender mais caro, mais rápido e a outro tipo de clientes”, sublinhou.

“A possibilidade de fazermos branded residences permite, também, às marcas hoteleiras abrir a sua oferta sem esforço de investimento. O que as marcas hoteleiras fazem é juntar ao inventário que já têm e assim aumentam a sua operação”, defendeu.

“A questão das estrelas [nos hotéis] está completamente em desuso”

Rui Meneses Ferreira acredita que a segmentação por estrelas é algo do passado. “Das conversas que eu tenho com marcas hoteleiras é que há uma segmentação, muito clara, do tipo de marca com a faixa etária e com o estilo de vida. Já não tem a ver com estrelas, porque a questão das estrelas está completamente em desuso”, defendeu. “Hoje, tem a ver com marcas que identificam e estão associadas a um certo estilo de vida.”

O diretor executivo da Kronos acredita que existe uma mudança na necessidade dos clientes e que, hoje em dia, a faixa etária dos 30 aos 35 anos está mais preocupada em ter um quarto que seja eficiente do que espaçoso. “Essas pessoas querem estar num espaço social agradável que permite trabalhar, beber alguma coisa e ver pessoas, e o quarto é apenas o local onde vão dormir e tomar banho”.

Outra questão que Rui Meneses Ferreira afirma notar é que os hoteleiros, principalmente em gamas altas, já não se preocupam tanto com o número de quartos, “porque muitos quartos significa muitas pessoas, o que significa mais ruído e perda de exclusividade”, sublinhou. “O que notamos é que a partir de 100/120 quartos deixa de fazer sentido num hotel de 5 estrelas”.

“À medida que subimos de gama, há uma tendência de maior exclusividade e de menos turismo massificado e eu acho que isso veio para ficar”.

Falta de mão-de-obra no turismo e na construção

Rui Meneses Ferreira deteta, também, falta de mão-de-obra na construção, um problema que é comum ao turismo e à hotelaria. “Na construção existe tanta falta de serventes, como falta de engenheiros civis”. No futuro, acredita a mão-de-obra será cada vez mais especializada e que muitas atividades que são exercidas por pessoas, vão passar a ser exercidas por máquinas.

“Nos hotéis, em vez de estar uma empregada de andares a limpar o quarto, estará um robot”. Porém, sublinhou que existem atividades que podem ser automatizadas e outras que não podem.

Para concluir a conversa, o diretor executivo da Kronos diz que acredita que o turismo em Portugal terá um grande crescimento nos próximos anos, por ser um destino turístico com “muita atratividade.” “A guerra na Ucrânia trouxe-nos algumas vantagens por sermos periféricos, mas não só, agora também temos mais tempo livre, devido ao teletrabalho e à semana de quatro dias”, concluiu.

“A procura do ócio e do lazer será maior nos próximos anos. Como é que se fará este matching entre a procura e a capacidade de resposta? Eu creio que terá que ser através de meios automáticos, porque não existem pessoas suficientes”.

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