Habitação, mobilidade e imigração são os principais desafios apontados por Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), e por Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo, na atração e retenção de profissionais no setor de turismo e hotelaria. Os executivos participaram na 1º conferência de Recursos Humanos no setor do Turismo, uma iniciativa organizada pela Universidade Autónoma de Lisboa em parceria com o TNews, que decorreu na passada terça-feira, dia 24.
Para Adolfo Mesquita Nunes, a questão do talento tem a ver com a qualidade de vida de um colaborador: “Se um empresário aumentar o ordenado do seu trabalhador em 200 euros e boa parte desse aumento ficar para o Estado, aumentar esse salário não vai ter um contributo decisivo na atração de talento, da mesma forma que se um empresário aumentar o ordenado do seu trabalhador em 200 euros, mas paralelamente o preço da habitação aumentar 300 euros, esse aumento não vai fazer nada pela captação de talento”, frisa. Segundo o responsável, para combater esta questão, é necessário haver uma ação global e não só dirigida para os recursos humanos.
Por outro lado, Bernardo Trindade destacou a questão da imigração sobretudo como um desafio para o setor: “Nós empregamos cerca de 500 mil pessoas no setor do turismo, das quais 125 mil não são portuguesas, isto significa que existe aqui um grande desafio para o setor. Devemos coordenar e criar condições para que estes trabalhadores consigam garantir um bom serviço aos clientes, até mesmo aos mais exigentes. Para isso, temos que desenvolver o tema da integração, garantindo, acima de tudo, que essas pessoas tenham condições para aprender a língua portuguesa”.
Quanto à questão da habitação, o presidente da AHP apontou para uma possível alteração da atual Lei dos Solos, com o objetivo de transformar terrenos com vocação agrícola em possíveis habitações. “A AHP apresentou no ano passado e voltará a apresentar este ano uma proposta que visa tratar a habitação como tratamos a alimentação, até um determinado limite. Este montante está isento de tributos, podendo ser usado na questão da habitação”, salienta.
Outra matéria que está a preocupar algumas regiões do país, nomeadamente o Algarve, é a questão dos transportes, diz Bernardo Trindade, afirmando que a rede de transportes é “absolutamente desastrada”.
Para Adolfo Mesquita, esta questão também se coloca: “Se o trabalhador não tiver transportes públicos para ir trabalhar, o mesmo não vai aceitar um trabalho naquela empresa”.
Na sua intervenção, Adolfo Mesquita considerou que o turismo tem desafios cíclicos. “Na minha altura, a questão do talento não era o problema, posso até dizer que este desafio era algo que o setor estava a vencer. O talento não é um desafio do turismo, é um desafio da economia global, que só se vence com políticas transversais e não com pequenos remendos”.
“A nossa economia tem de conseguir criar valor. É muito mais estrutural do que propriamente dizer que vamos ter um aumento de salários. Esse valor foi totalmente desarticulado e o desemprego jovem acontece porque a economia está fraca e não tem capacidade para suportar esse aumento”, termina o executivo.
O encontro, dividido em 3 painéis, contou com a presença de especialistas e representantes do setor em Portugal, entre eles Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo, e Gonçalo Rebelo de Almeida, Gestor para a área de Turismo e Hospitalidade do Grupo Autónoma e ex-CEO do grupo Vila Galé.