O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Raúl Martins, afirmou esta quarta-feira, dia 30 de junho, que a retoma do turismo em Portugal “abortou”, devido aos condicionamentos recentes do Reino Unido e da Alemanha. A hotelaria tinha alguma expetativa de um início de retoma este verão, mas a inclusão de Portugal na lista âmbar do Reino Unido e a obrigatoriedade de quarentena aos passageiros não vacinados que cheguem daquele destino, assim como a imposição de quarentena da Alemanha, frustraram as expetativas.
“Não haverá retoma este ano. Este ano será um ano negativo ou, na melhor das hipóteses, um ano com resultado zero”, disse o presidente da AHP na apresentação dos resultados do Inquérito às perspetivas para o verão dos seus associados.
Face a este cenário, mais do que novas medidas de apoio do Governo, Raul Martins diz que é necessário aumentar a disponibilidade de verbas do plano Reativar o Turismo, apresentado em maio. “O decreto-lei foi publicado, mas o enquadramento e as regras de utilização não estão definidas. É importante que essas regras permitam também ter em atenção aquilo que se está a passar em 2021”. O presidente da AHP deu o exemplo: “O decreto está publicado, mas agora têm que ser definidos os critérios que vão permitir ao banco de fomento apoiar as linhas de capitalização, tesouraria e dívida subordinada que são as três vias que existem.”
O responsável adiantou, ainda, que espera que essa definição aconteça a 15 de julho e que possa ser logo posta em prática.
Sobre o certificado digital covid da União Europeia que entra em vigor esta quinta-feira, dia 1 de julho, e comentando as recentes criticas da Comissão Europeia ao comportamento da Alemanha, Raul Martins assegura que o certificado digital “vai funcionar”. “A Alemanha foi criticada pela Comissão Europeia, mas não temos dúvidas de que não terá manterá a sua posição. Acreditamos que o certificado digital vai funcionar”. No entanto, Raul Martins sublinha que Portugal tem de “fazer o trabalho de casa” quanto ao combate à pandemia. Isso implica que os portugueses voltem uma vez mais a respeitar as medidas de distanciamento, ao mesmo tempo que a vacinação aumenta, o que vai fazer com que a imunidade ocorra no fim de agosto.
2021 não será pior do que 2020
Corroborando a afirmação de Raul Martins de que em 2020 não haverá retoma, Cristina Siza Vieira afirma, no entanto, que 2021 “não será um ano pior do que 2020, porque temos um mercado interno que efetivamente vai contrabalançar isto”.
A vice-presidente executiva da AHP apresentou os resultados do inquérito “Perspetivas verão 2021”, realizado junto dos associados, ressalvando por diversas que vezes que o inquérito ocorreu num período antes dos sucessivos encerramentos e “desta quase quarta vaga de pandemia”, ou seja de 7 a 25 de junho.
“Ainda estavamos num cenário razoavelmente otimista, relativamente ao encerramento de Portugal e à obrigatoriedade dos passageiros do Reino Unido sem vacinação fazerem quarentena, que foi uma medida anunciada a 28 de junho. Houve um agravamento que não está refletido neste inquérito”, disse a responsável, lembrando também a quarentena imposta pelo mercado alemão.
De acordo com o inquérito, os empreendimentos turísticos portugueses preveem uma média de reservas de 43% entre o período de junho e outubro e 71% dos inquiridos afirma ter menos de 20% de reservas de grupos.
“Tínhamos uma previsão de reservas de 43 por cento entre junho e outubro. Portanto, se estas reservas se concretizassem, teríamos uma taxa de ocupação de 43 por cento na época alta de Portugal. Acho que pior que isto nem poderíamos imaginar. Os resultados do inquérito eram relativamente otimistas porque contavam ainda assim com o mercado inglês e, portanto, de facto neste momento o pessimismo é maior”.