Foi para falar do futuro do turismo, depois da crise mais violenta de que há memória no setor, que se juntaram esta manhã os principais grupos hoteleiros portugueses e o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, no painel que deu o pontapé de saída do congresso nacional da Associação da Hotelaria de Portugal, a decorrer em Albufeira.
Primeiro a intervir, o presidente da Hoti Hotéis, Manuel Proença, disse que a pandemia foi como um acidente, do qual é “preciso curar as feridas e voltar à retoma com mais força e com a dinâmica que tínhamos em 2019”.
Se na primeira fase do confinamento a prioridade foi reduzir custos, agora os hotéis estão a retomar, mas com grandes desafios, como falta de mão de obra.
“Onde é que estão as pessoas? Precisamos de pessoas para trabalhar e não há”, afirmou Manuel Proença. No entanto, o responsável da Hoti Hotéis diz acreditar que o turismo “terá sempre um grande futuro, é preciso curar as feridas”, garantindo existir vontade no grupo de crescer, sem desistir de nenhum projeto.
Para o presidente da Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, “o turismo foi, é e será um dos pilares do desenvolvimento em Portugal. Temos plena consciência que este setor tem limites, se crescermos excessivamente perdemos toda a graça, como destino turístico”.
Esta crise teve, no caso da Vila Galé, “o tratamento que tiveram outras crises”, embora seja evidente que esta foi a mais “violenta e pesada” de que há memória. Para Jorge Rebelo de Almeida, é fundamental, mesmo que surjam novas vagas, “continuar a fazer coisas, ter coragem e determinação. “A vacinação foi um êxito. Temos outros êxitos, somos o 4o país do mundo e o 2º da Europa em segurança. A vacinação está a latejar um bocadinho e era bom que o almirante regrasse”, afirmou.
Sobre os apoios durante a pandemia, Rebelo de Almeida considerou, ao contrário da anterior crise, que o governo apoiou mais as empresas. “Acho que hoje este setor teve um apoio relevante. Na última crise que me recordo, há 10 anos, não tivemos grandes apoios. Desta vez, o governo teve de facto essa preocupação. A estabilidade que ainda hoje temos deve-se muito a uma intervenção oportuna e a uma disponibilidade para ouvir as empresas e estabelecer um regime de parceria”. No entanto, o presidente da Vila Galé lamentou a instabilidade política. “Era só mesmo o que nos faltava, depois da pandemia, da crise do aumento dos combustíveis, era esta crise política. Mais uma vez chegamos à conclusão que, se calhar, temos que ser nós a dar corda aos sapatos para resolvermos os nossos problemas, sem esperarmos que haja orçamento e novo governo”.
No grupo Pestana, sobreviveu-se a esta crise com uma estratégia dividida em dois pilares, como descreveu José Theotónio, CEO dos Pestana Hotel Group.
“Em primeiro lugar tivemos de meter as mãos nos bolsos para preservar a liquidez. Foi fundamental para passar 18 meses praticamente de saldos negativos de caixa. Felizmente vínhamos de períodos positivos e o sistema financeiro não estava tão degrado como na última crise”, considerou.
A segunda questão, apontou, resumiu-se a “cuidar dos feridos”. “Nas nossas organizações, que são de capital intensivo, temos muitas pessoas que não podem estar em teletrabalho, foram para casa e viveram-se climas de incerteza muito grandes. As organizações tiveram que continuar a apoiar essas pessoas e a manter essa ligação à organização”.
Passada a primeira e segunda a fase da “maior crise de sempre”, o CEO do grupo Pestana apontou o caminho: preparar a retoma. “Pensávamos que vinha mais cedo do que veio. Tivemos um lamiré no verão passado, mas depois voltou tudo para trás. Demorou muito mais. A partir de junho houve um início da recuperação. O objetivo era ter a empresa preparada e ganhar competitividade para quando voltasse a retoma”, concluiu.