O HOSPES, o programa corporativo de responsabilidade social e de sustentabilidade ambiental da AHP, passará a designar-se HEART porque “a hotelaria também é coração”. O rebranding da marca foi apresentado esta quarta-feira, dia 27, no Centro Cultural de Belém (CCB).
A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) apresentou ao público a nova marca do seu programa de cariz social e ambiental, o HEART (acrónimo para Hospitality, Environment and Responsible Tourism). Organizado no restaurante Único do CCB, o evento contou com a participação de Bernardo Trindade, presidente da AHP, Luís Araújo, ex-presidente do Turismo de Portugal, e Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP.
Cristina Siza Vieira destacou que “era necessário, sem perder o coração que está no centro das nossas ações, evoluir para uma nova marca”, ainda que “mantendo aquilo que são os seus princípios basilares: as doações, os 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e a economia circular”.
A AHP considerava que ainda existiam “outras ações fundamentais” que, agora, passam a integrar a missão do HEART, disse. Tendo em conta que “os imigrantes representam cerca de 30% da hotelaria”, a capacitação e integração passará a ser um dos objetivos do programa, visto que “esta necessidade de inclusão e formação é fundamental”.
Outra ação promovida pelo HEART será o voluntariado corporativo, estando a ser desenvolvido “um protocolo, ainda a ser afinado, com a Cruz Vermelha Portuguesa”. Por fim, a vice-presidente executiva destacou o emprego inclusivo, sendo que, “além da Semear, temos cinco outras instituições com quem trabalhamos para preparar as empresas turísticas para a integração de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência ou que precisem de uma segunda oportunidade”.
Para a responsável, “a hotelaria também é coração” e, neste sentido, o nome “HEART diz tudo sobre aquilo que estamos a fazer no mundo”, visando “dar a conhecer a pegada positiva” da hotelaria. Cristina Siza Vieira terminou a sua intervenção com uma ideia: “imaginem que escalávamos [o programa] de 347 [unidades hoteleiras] e chegávamos a todos os nossos associados. Isto significa ultrapassar a visão individualista de cada hotel. Em rede somos muitos mais e trabalhamos muito melhor”.
Já Bernardo Trindade afirmou, durante o seu discurso, que “aquilo que a AHP fez nos últimos 11 anos foi perceber que a nossa representação institucional é a representação dos hotéis, mas os hotéis são muito mais do que simplesmente vender quartos de hotel”. Para o presidente da AHP, “os hotéis têm responsabilidades de criar riqueza, de remunerar, de criar emprego e de pagar impostos; mas, além de tudo isto, têm mais uma: olhar e integrar a comunidade em que nos inserimos”.
“Se cada um dos nossos associados puder praticar através da doação, da reutilização e das boas práticas em termos de sustentabilidade, estamos a cumprir o objetivo”, frisou Bernardo Trindade, que deixou claro que a AHP tem “a ambição de desenvolver muito mais”.
Atualmente, a ação social do programa estende-se a 187 IPSS através do contributo de 347 unidades hoteleiras. Desde a sua criação, em 2013, até 2024, o HOSPES, agora HEART, conta com um total de 278 mil bens doados e reintroduzidos na economia social, que permitiu às IPSS poupar cerca de 6,5 milhões de euros. Além disto, foram poupados 774.292.317 litros de água, de acordo com a vice-presidente executiva da AHP.
Quanto aos bens que já não são reaproveitáveis, a AHP desenvolveu protocolos com várias instituições, culminando na reciclagem de um total de 74 toneladas entre 2013 e 2024: 34,4 toneladas de equipamentos elétricos e eletrónicos, 27 de papel, 11 de óleos alimentares e 1,4 de têxteis.
Do HOSPES para o HEART: 11 anos de ‘give back’ dos hotéis
Lançado em 2013 para assinalar o 100.º aniversário da AHP, o HOSPES nasceu com a iniciativa “um colchão, um coração”, que promovia a doação destes bens usados de unidades hoteleiras associadas a instituições de ação social. “É um ciclo de reciprocidade”, explicou Cristina Siza Vieira, assente na introdução de colchões usados de hotéis, mas em bom estado de conservação, “na economia social”.
“Começámos por dizer logo que só trabalhamos com IPSS; têm que estar certificadas” para ser “um operador da mudança”, sublinhou a vice-presidente executiva. “A nossa principal responsabilidade é para com as empresas do turismo”. Entre os princípios defendidos pelo programa estão “trabalhar em rede; reduzir, reutilizar e reciclar; e medir a pegada que estamos a deixar à comunidade”.
Ao longo dos anos, o programa corporativo tem-se alargado à doação de outros itens, incluindo cortinados, almofadas, móveis, eletrodomésticos e atoalhados. “As doações cresceram não apenas em número, mas também em tipologias”, contou Cristina Siza Vieira.
Com a evolução do HOSPES, foi necessário inovar a nível tecnológico. “Com o apoio do Turismo de Portugal, construímos uma plataforma que permite às IPSS registarem as suas necessidades, como aos hotéis registarem a sua disponibilidade”, apontou a responsável, indicando que a iniciativa foi avançada na altura pelo então presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo.
Enquanto intermediário entre hotéis e as IPSS, uma das principais dificuldades da AHP, disse, “é gerir as necessidades perante as ofertas por, até hoje, em 11 anos, 347 hotéis a 187 IPSS”. Cristina Siza Vieira frisou que “há cerca de duas mil IPSS em Portugal. A taxa de pobreza em Portugal é cerca de 17%. Imaginem o que é escalar este projeto a mais IPSS e a muitos mais hotéis”.
“É a nossa responsabilidade ultrapassar o objetivo quase individualista de cada hotel”, acrescentou Cristina Siza Vieira, defendendo que, “se entrarmos em escala e em rede, temos muito mais para dar. Num momento em que as relações de turismo versus comunidades estão um bocadinho abrasivas, é importante mostrar o give back dos hotéis”.