Sem uma definição clara de qual o montante para a promoção em 2021 e sem prazos definidos de transferência, a Câmara Municipal de Cascais e a Associação de Turismo de Cascais decidiram suspender o plano de promoção para este ano e aguardam resposta do Turismo de Portugal. Apesar desta suspensão, o presidente da associação, Bernardo Corrêa de Barros, em entrevista ao TNews, refere quais os caminhos para a captação de turistas, já definidos no plano de promoção, e que apontam para uma comunicação dirigida.
Qual é a estratégia da Associação de Turismo de Cascais para acelerar a retoma turística, à medida que a pandemia for sendo controlada e existir mais mobilidade?
Bernardo Corrêa de Barros – Cascais apresentou ao Turismo de Portugal um plano de promoção que, neste momento, encontra-se suspenso. O plano que apresentámos no final de 2020 é arrojado, disruptivo, assente na informação, na academia e no que será o futuro do turismo no nosso entendimento. Não está 100% suspenso, porque a equipa continua a trabalhar todos os dias com os associados, mas em termos de promoção internacional encontra-se suspenso. Esta situação deve-se às incertezas que o Turismo de Portugal transmitiu ao presidente da Câmara Municipal de Cascais e também a Associação de Turismo de Cascais. No entanto, a retoma estava muito assente no que consideramos que será o futuro da comunicação internacional e o futuro da captação de turistas para o nosso território.
Que se centra no quê?
Acreditamos num modelo completamente diferente do que tem sido seguido até agora, aproveitando as novas tecnologias e informação que nos é dada pelas várias ferramentas que hoje estão disponíveis no mercado. Na agregação de informação, analisando as tendências internacionais e fazendo uma comunicação dirigida quase homem a homem. Hoje, é possível analisar as pesquisas, os gastos dos turistas e uma série de tendências que fornecem informação crucial para conseguirmos comunicar quase diretamente para aquela pessoa. Hoje sei que quem pesquisa Cascais em Madrid privilegia, em primeiro lugar, gastronomia, em segundo lugar, alojamento, e em terceiro lugar, praias. Portanto, não vamos comunicar para Madrid, ou para Espanha, como um todo. Comunicamos, sim, para Madrid a dizer que em Cascais temos uma gastronomia extraordinária assente, por exemplo, no melhor peixe do mundo, com um alojamento condizente às expectativas do madrileno, e com um território espraiado, sustentável, com praias magníficas e com um parque natural. É uma mudança de paradigma. Aquela tendência que havia anteriormente de comprarmos pacotes de google ads, ou de outra ferramenta qualquer, e comunicarmos para um país, já não é assim. As tendências internacionais mostram que Portugal, e Cascais não é exceção, fazem o match perfeito com tudo aquilo que é procurado neste pós- pandemia, ou seja, um território espraiado, longe dos grandes centros urbanos, um território que dá a sensação de segurança. Cascais tem sido exemplar a nível nacional com o investimento que a Câmara Municipal tem feito nesta guerra ao covid-19. Depois, também há uma procura internacional na qual o turista procura contribuir com a comunidade local. Aí somos, claramente, beneficiados, porque não temos o território pejado de cadeias e restaurantes internacionais ou cadeias de fast food. Mantemos a nossa identidade. Portanto, a estratégia é uma comunicação afunilada, muito estreitada, quase ao indivíduo, potenciando as mais-valias que o nosso território tem, assente na academia, na pesquisa, na comunicação, na disrupção e no smart tourism.
Apesar desta estratégia de comunicação muito cirúrgica e afunilada, definiram mercados alvo? Quais são?
Continuamos a apostar nos mercados que tendencialmente vêm para Cascais, sendo que também isso a pandemia veio modificar. Em 2020, por exemplo, o nosso principal foi Espanha, quando era o Reino Unido. O nosso segundo mercado passou a ser França e o nosso terceiro mercado mudou. O Reino Unido passou para o terceiro lugar. Os Estados Unidos passaram a ter uma importância que não tinham e um lugar de maior destaque. Itália que não aparecia no top 10, passou a aparecer no Top 10. Fazemos uma avaliação dos mercados, consoante as fronteiras fecham ou abrem e consoante o nível de risco. Não compramos pacotes em antecipação, fazemos sim uma comunicação dirigida ao mercado que está disponível naquele momento. Portanto, se o Reino Unido estiver fechado, não vou gastar dinheiro no Reino Unido. Acreditamos que Espanha é um mercado alvo, naturalmente pela proximidade, França logo a seguir, e o Reino Unido, agora com esta abertura, acreditamos que continuará a ter um lugar de destaque.
Quais as razões para que o plano de promoção do Turismo de Cascais esteja suspenso?
A metodologia de atribuição das verbas é a seguinte: o Turismo de Portugal atribui um budget no final de cada ano consoante as previsões das verbas do jogo para o ano seguinte.A Câmara de Cascais delega as verbas de imposto de jogo na Associação Turismo de Cascais, que apresenta um plano ao Turismo Portugal. Esse plano é validado em Comissão de Obras, depois de uma reunião de direção do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, e essa validação é normalmente um pró-forma. Cascais recebe as verbas depois de executar e pagar a promoção. Acontece que, no final do ano de 2020, fizemos tudo o que tínhamos de fazer, mas, a 4 de janeiro de 2021, o Turismo de Portugal comunicou-nos que as verbas de 2020, executadas e pagas como é exigido pelas regras do Turismo de Portugal, sofreram um corte de 300 mil. Ficámos com um buraco financeiro de 300 mil. Acontece que, em reunião da Comissão de Obras para este ano, que só aconteceu a 5 de maio, já depois de Cascais ter começado a investir para a atração de turistas para o nosso território, fizemos duas perguntas simples, para não correr o risco de acontecer o que aconteceu com os verbas 2020 e ficar com um prejuízo de 300 mil euros. Perguntámos qual é a verba efetiva que vamos ter e qual é o prazo das transferências das mesmas. Duas perguntas simples.
Qual foi a resposta?
O Turismo de Portugal não sabe responder. Ou seja, Cascais teria que investir 2,5 milhões de euros, executar, pagar apresentar um relatório final, para depois, provavelmente também a 4 de janeiro de 2022, o Turismo de Portugal nos dizer: “Não, os senhores afinal não tiveram 2,5 milhões de euros. Afinal, os senhores tiveram 500 mil euros”. Imagine o buraco financeiro e o prejuízo que ficaria para os associados do Turismo de Cascais que teriam que fazer face a esse prejuízo. E, no limite, o presidente da Câmara Municipal e a direção do Turismo de Cascais poderiam ser julgados por gestão danosa. Naturalmente, o senhor presidente da Câmara disse que não ia aceitar gerir dessa forma e o plano de promoção apresentado ao Turismo de Portugal ficaria suspenso até nos darem garantias de verbas e de prazos de execução. Demos soluções. O Governo tem nos seus cofres, desde há muito, verbas cativas correspondentes a Cascais em cerca de 15 milhões de euros. Sugerimos ao Governo a utilização dessas mesmas verbas e a passagem de equipamentos, que estão na esfera do Estado e altamente desaproveitados, que poderiam passar para Cascais como contrapartida. Portanto, foram dadas várias soluções, mas o que queremos é prazos e uma previsão, porque não há gestão sem budget e sem planeamento.
A situação que vivemos é gravíssima. Acresce que o Governo tomou uma decisão unilateral, relativamente às contrapartidas do jogo. Como sabe, as concessões de jogo prevêem contrapartidas para os territórios onde foram inseridos os casinos. O Governo anunciou que, em 2021, os casinos teriam isenção da contrapartida mínima, que para Cascais representa cerca de 8 milhões de euros, e anunciou já que vai isentar essas contrapartidas mínimas também para 2022. Quer isto dizer que, provavelmente, a concessão vai ser estendida mais um ano. Naturalmente, essa é uma decisão do Governo. O que Governo não pode é, unilateralmente, isentar de verbas que são do território onde os casinos estão inseridos, sem consultar, pelo menos, os seus parceiros que, neste caso, será a Câmara Municipal de Cascais e a Associação Turismo de Cascais. Estão a mexer em verbas que são nossas. A lei diz que o decisor pode decidir isentar, mas tem que compensar de alguma forma os territórios onde as concessões de jogo estão inseridas.
Qual é a previsão de resolução deste conflito?
Estamos a aguardar que o Turismo e Portugal e que o Governo se pronuncie face ao pedido que foi feito pelo presidente Carlos Carreiras, ou seja apresentem-nos um budget que seja real e prazos de transferência. Em 2019, tínhamos 8 milhões de euros de verbas de jogo.
Combate à pandemia
Cascais, desde logo, teve uma estratégia de combate à pandemia (recebeu equipamento médico, criação de centros de testes, testagem em massa dos residentes, testagem dos profissionais de turismo, oferta de máscaras). Essa estratégia contribuirá para criação de uma perceção de destino seguro e de confiança?
Não tenho dúvida nenhuma que sim. Aliás fizemos um estudo recentemente para avaliar o que será o turismo pós-pandemia. Nesse estudo, 75% dos inquiridos pondera viajar para a Europa do Sul. 52% considera viajar para Portugal. Também é referido no estudo, por uma larga percentagem, que a perceção de segurança é fundamental para a tomada de decisão, assim como a flexibilidade da reserva. O mesmo estudo diz que é fator de exclusão destinos onde não existe essa perceção de segurança ou onde medidas mitigatórias, tais como distanciamento social e o uso de máscaras, são fator de exclusão. Cascais tem feito uma guerra desde a primeira hora ao covid-19. Fizemos tudo o que referiu, mas fizemos mais. Desde dia 2 de abril, estamos a testar toda a hotelaria, todo o comércio e serviços, de 15 em 15 dias. Para quê? Para aumentar essa perceção de segurança internacional, mas mais do que isso, para dar confiança aos trabalhadores da hotelaria e dos serviços, que também eles estão seguros e de que suas famílias, por essa via também, estão seguras. Portanto, é uma confiança que funciona dos dois lados. A segurança a quem trabalha e a segurança a quem nos visita. Se julgo que vamos ser beneficiados por isso? Penso que sim, tal como somos beneficiados com o fator que tem sido muito publicitado lá fora que é a segurança de Portugal. Somos o terceiro país mais seguro do mundo e somos beneficiados por isso.
Criaram uma série de medidas, que não sendo especificamente para o turismo, também podem ser usufruídas pelos turistas: transportes públicos gratuitos, museus gratuitos durante a pandemia. No caso dos museus, essa medida mantém-se? Que outras iniciativas existem para estimular o consumo/visita de turistas?
Com os museus sim, assim como o estacionamento nos parques geridos pela Câmara Municipal de Cascais, que são muitos, continuam gratuitos. Tivemos um programa de visitas guiadas suportadas pelo Turismo de Cascais com guias turísticos, que foram também os mais afetados durante toda esta pandemia. Portanto, continuamos a apostar numa oferta qualificada e nestas pequenas coisas, que na realidade são muito grandes para quem nos visita.
A pandemia travou o investimento privado no turismo em Cascais ou mantém-se?
Sim, o investimento privado nacional e internacional mantém-se. Existe um reforço enorme na procura de espaços para novos hotéis. O mundo continua a olhar para nós como um destino que tem todo potencial para crescer. Isto, porque tem havido um trabalho imenso na qualificação de Cascais em todas as vertentes, social, económica, e ambiental, que fazem de Cascais um território seguro. Aliado a isto, há um investimento que tem feito também nas smart cities. Cascais é um exemplo internacional de smart cities e, daí, estarmos a investir também muito em smart tourism. Smart tourism é muito mais do que ter informação disponível. Todos estes investimentos feitos no território fazem com que Cascais esteja na linha da frente para investimentos na área do turismo.
Temos uma série de hotéis novos previstos para Cascais. Como já foi falado, a cadeia Hilton vai abrir um hotel em Cascais, a cadeia holandesa The Student Hotel também abrirá em Cascais, abrirá uma segunda unidade no Ritz-Carlton, assim como vai abrir um Sofitel. Portanto, as cadeias internacionais, cada vez mais, olham para Cascais enquanto um território futuro. Os números assim o têm dito. Continuávamos a crescer em RevPar e em preço médio, sempre na qualidade. Não nos interessa crescer em número de dormidas, sem o preço médio e a RevPar aumentarem. Aumentar a RevPar representa maior rentabilidade para o operador, maior investimento, mais emprego.
Que projetos existem de requalificação de espaços em Cascais?
Requalificar não significa apenas novos projetos ou novas construções. Quando falo em requalificar, falo também na aposta no Parque Natural e um imagem de território sustentável, que passa pelas praias, que passa pela criação de zonas marítimas produtivas. Portanto, há uma série de intangíveis que não passam pela construção em si. A marina está a sofrer uma grande requalificação, a entrada de Cascais também está a sofrer uma grande requalificação com o novo projeto que está a nascer no que era o Jumbo, assim como estamos a construir mais quilómetros de ciclovia. Também é uma tendência internacional e a pedonalidade é fundamental, não só para quem nos visita, mas especialmente para nós. Construímos um território para os cascalenses e acreditamos que isso é uma externalidade positiva para quem nos visita. Portanto, esta autenticidade que é muito característica em Cascais, acreditamos que é uma mais-valia para quem nos visita.
Tem-se dito que a pandemia não destruiu a oferta turística do país, mas o tecido empresarial turístico vai sobreviver? Os apoios públicos foram suficientes, no caso de Cascais?
Além dos estímulos a quem nos visita que falámos há pouco, Cascais permitiu o aumento de esplanadas, isentou uma série de taxas municipais e isso é apoio direto à economia. Penso que os apoios de Cascais foram condizentes com as necessidades. Considero que o apoio governamental foi escasso, deixou os empresários com graves crises de tesouraria e aumentou, naturalmente, o desemprego. Mas acredito que a retoma será muito mais rápida do que o esperado. Sou um confiante militante, tenho altos níveis de confiança e acredito que vamos recuperar muito rapidamente e que a atividade económica vai voltar a prosperar.
Não há empresas a fechar em Cascais?
Naturalmente, já houve algumas empresas que fecharam. Felizmente, poucas. Muitas reinventaram-se, voltaram a pensar no seu negócio. Tiveram, naturalmente, que se adaptar ao que nos afetou a todos. Acho que o espírito nesta fase já é de confiança. Penso que já passaram pelo pior e têm noção disso, e que a partir de agora está assente o alento que a retoma virá.
Esses apoios que referiu mantêm-se?
Até ao final de 2021.
Considera que os profissionais de turismo deveriam ser vacinados?
Defendi, há dois meses, que os profissionais do turismo deveriam ser vacinados. Se um dos desígnios do país é o turismo, então tem que haver uma forte aposta nesta indústria, que é a maior indústria exportadora portuguesa. Portanto, sou um defensor acérrimo da vacinação dos profissionais de turismo para aumentar a confiança de quem trabalha e a confiança de quem nos visita.
Quando é que Cascais poderá voltar receber a eventos internacionais e com público?
Cascais não parou de receber eventos internacionais
Mas com público?
Também já tivemos eventos internacionais com público e vamos voltar a ter, ainda este ano, eventos internacionais com público: o Iron Man em que somos o segundo destino mundial a ter as duas provas do Iron man (o half distance e o full distance). Temos vários eventos internacionais na área do conhecimento que vão acontecer e ter público. O World Padel Tour que também vai acontecer e, que à partida, também terá público. Portanto, temos uma série de eventos internacionais previstos ainda para 2021.
Nenhum destes eventos está em risco por causa desta falta de resolução do problema das verbas para a promoção?
Os eventos internacionais que já estão contratualizados, vão acontecer.
Então o que está em causa é trazer outros eventos para Cascais?
Assim como toda a promoção internacional e investimentos futuros. Coisas tão simples como, recebemos um pedido do jornalista para vir a Cascais e não termos capacidade para garantir a sua vinda.
Quantos turistas recebia Cascais antes da pandemia?
Em 2020, tivemos uma quebra de 54% relativamente a 2019, a RevPar caiu 61 por cento, preço médio caiu 13%, a taxa de ocupação caiu 37 pontos percentuais. Em 2020, tivemos um total de 300 mil turistas e estes 300 mil era o número de portugueses que visitava Cascais em 2019. Tínhamos mais de 2 milhões de dormidas.
Quais as previsões para este ano?
Estamos com uma expetativa muito alta relativamente ao mercado do Reino Unido, mercado espanhol e francês. Mas só isto não chega. Estamos muito confiantes que o certificado verde digital vai ser implementado e que as negociações com os respetivos Governos dos 27 seja uma negociação que leve a uma unificação das regras à entrada e à saída para que possa haver efetivamente uma retoma. Acreditamos, e os números assim o têm indicado, analisando as reservas, que será um verão simpático, não será ao nível de 2019, mas que será um verão com boas taxas de ocupação.
Não posso falar em números porque é fazer futurologia. Se o Reino Unido e a estirpe indiana causarem o fecho de Inglaterra, naturalmente alterará taxas de ocupação e números de dormidas em Portugal.
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