As Caves do Solar de São Domingos, produtor histórico da Bairrada que está a celebrar 88 anos de existência, investiram 500 mil euros num espaço de enoturismo, pensado para responder às atuais exigências dos visitantes. Em entrevista ao TNews, Alexandrino Amorim, administrador do grupo, afirma que, nos dias de hoje, os viajantes procuram experiências mais imersivas e diferenciadoras, acrescentando que “não basta provar um vinho, querem conhecer a sua origem, história e processos”.
Com inauguração prevista para o final de 2026, a nova área distinguir-se-á pelo seu visual moderno, vocacionado para provas e eventos, mas também pela sua ligação direta com as galerias subterrâneas, um dos elementos mais distintivos da casa. O responsável acredita que o enoturismo é uma “poderosa ferramenta de valorização territorial, porque gera impacto direto na economia local sem estar afeto a uma sazonalidade”.
Fundada em 1937 por Elpídio Martins Semedo, a empresa Caves do Solar de São Domingos foi, desde 1970, dirigida por Lopo de Sousa Freitas, responsável pelo grande desenvolvimento da casa ocorrido ao longo das últimas décadas. Inicialmente vocacionada para a produção de espumantes, trabalha atualmente com uma ampla gama de produtos, desde aguardentes velhas e bagaceiras até vinhos tranquilos.
“Hoje, as Caves do Solar de São Domingos albergam mais de três milhões de garrafas de espumante, produzidas através do método clássico, largos milhares de vinhos engarrafados e centenas de quartolas em carvalho francês para as aguardentes vínicas”, revelou Alexandrino Amorim.


Desde a sua origem, as Caves São Domingos têm registado “uma evolução notável”, disse o responsável, sublinhando que “a adaptação seria uma constante e que equipamentos, processos e instalações teriam de ser melhorados de forma contínua”.
“Se, em 2006, estávamos a inaugurar um moderno centro de vinificação, capaz de receber 1.000 toneladas de uvas provenientes das propriedades da casa e de viticultores exclusivos, em 2025 estamos a trabalhar num novo projeto de enoturismo, por acreditarmos na importância deste segmento de negócio para a empresa e para a região”, acrescentou.
Questionado sobre o elemento diferenciador das Caves São Domingos, Alexandrino Amorim destacou as galerias escavadas diretamente na rocha, que transportam qualquer visitante “para um cenário inesquecível e longínquo”. Além disso, identificou o processo de produção de Espumante São Domingos Bruto, que requer um longo tempo de maturação, de 24 a 120 meses, e a percentagem mínima de açúcar adicionado durante a produção.
“Hoje, as Caves do Solar de São Domingos albergam mais de três milhões de garrafas de espumante, produzidas através do método clássico, largos milhares de vinhos engarrafados e centenas de quartolas em carvalho francês para as aguardentes vínicas”
Projetos para os próximos anos
Nos últimos cinco anos, as Caves do Solar de São Domingos investiram cerca de 2,5 milhões de euros na modernização da adega, visando aprimorar o produto final, otimizar recursos e acrescentar valor à marca e à região.
“2022 marcou o início de dois anos de profunda renovação na empresa, assinalada pela aquisição de diversos equipamentos voltados para a melhoria da qualidade dos vinhos, bem como para os processos de embalamento e logística”, disse Alexandrino Amorim.
As principais mudanças foram a aquisição de um filtro tangencial, a instalação de 70 giro-paletes e a incorporação de uma nova capsuladora específica para garrafas de espumante, ampliando a capacidade e a precisão do engarrafamento.
Além disso, adquiriram uma nova prensa de 30 toneladas e um gerador de azoto e investiram na infraestrutura, com a colocação de um novo telhado na área de logística. A sustentabilidade foi também reforçada com a conclusão da segunda das três fases de painéis fotovoltaicos.
No campo, a aquisição de novas áreas de vinha e as plantações elevaram a área cultivada para 30 hectares.
“Acreditamos que estes e tantos outros investimentos que foram ocorrendo ao longo dos nossos 88 anos de existência são, em grande medida, responsáveis por sermos hoje um dos principais agentes económicos da região da Bairrada”, salienta.
Questionado sobre quais serão as próximas apostas, Alexandrino Amorim disse que estão focados em três áreas: reforço da capacidade produtiva, consolidando o objetivo de duplicar a produção de espumantes nos próximos anos; investimento no enoturismo, com a criação do novo espaço de provas e eventos; e valorização da sustentabilidade, tanto ambiental, através da modernização energética e da gestão eficiente de recursos, como social, com a valorização da comunidade e dos parceiros locais.
“No caso da Bairrada, o espumante e o leitão formam uma dupla que, bem comunicada, tem potencial para se tornar num ícone turístico internacional”
Principais desafios do setor vínico em Portugal e na Bairrada
Sobre os principais desafios do setor vínico em Portugal, Alexandrino Amorim enumerou vários, nomeadamente “a adaptação às alterações climáticas, que exigem novas práticas vitícolas e grande capacidade de resposta, a pressão dos custos de produção e a crescente competitividade nos mercados internacionais”.
Já na Bairrada, identificou a necessidade de afirmar o território como região de excelência para espumantes de qualidade, comunicando de forma clara a diferenciação e autenticidade dos nossos produtos, “que a nosso ver poderia ser um caminho feito através da casta Baga, típica da nossa região”.
“Também o rejuvenescimento da procura e a atração de novos consumidores são aspetos que temos de trabalhar coletivamente, enquanto setor”, apela.
Contudo, nem tudo são desafios. O responsável afirma que o enoturismo é uma “poderosa ferramenta de valorização territorial, porque gera impacto direto na economia local sem estar afeto a uma sazonalidade”.



“O enoturismo atrai visitantes que consomem no alojamento, restauração e comércio, cria emprego e promove os produtos endógenos. Mas há também um valor intangível: o de projetar a identidade cultural da região, reforçando a ligação entre o vinho, a gastronomia, a hospitalidade e a paisagem.”
No caso da Bairrada, acrescenta, “o espumante e o leitão formam uma dupla que, bem comunicada, tem potencial para se tornar num ícone turístico internacional”.
Olhando para o futuro, Alexandrino Amorim acredita que o enoturismo terá um papel cada vez mais central na promoção dos vinhos portugueses. “O futuro passa por experiências integradas, que combinam vinho, gastronomia, cultura, património e natureza.”
O responsável idealiza um setor profissionalizado, inovador e colaborativo, onde cada produtor contribui para criar uma oferta diversificada e qualificada, capaz de atrair visitantes de todo o mundo.
“Para a Bairrada, o futuro do enoturismo deverá assentar na afirmação do espumante como produto-âncora e na criação de experiências únicas que só aqui podem ser vividas”, conclui.
“O futuro passa por experiências integradas, que combinam vinho, gastronomia, cultura, património e natureza”







Muitos parabéns, continuem com muito sucesso. Abraço