A urgência em reduzir as emissões globais de CO2 gerou investimentos em iniciativas sustentáveis no mercado da aviação. Porém, será que os passageiros devem pagar mais por um bilhete e será que estão dispostos a fazê-lo? Quem coloca esta questão é a Simple Flying.
No início desta semana, a Air France e a KLM anunciaram que estão a aumentar os preços dos bilhetes, com uma sobretaxa até 12 euros, para ajudar a cobrir o custo da alteração para combustível mais sustentável.
Desde 1 de janeiro, que a Air France é obrigada, juntamente com todas as outras transportadoras que reabastecem na França, a usar em média 1% de combustível de aviação sustentável (SAF) nos seus voos. Porém, embora o investimento tenha começado a aumentar, a produção de SAF está longe do necessário para reduzir os preços a níveis compatíveis com os modelos de negócios das companhias aéreas.
O que estão a fazer os governos?
Em setembro de 2021, o governo Biden propôs um crédito fiscal de combustível de aviação sustentável para a Agenda Build Back Better. Também no ano passado, em outubro, o Reino Unido anunciou um compromisso de £180 milhões (216 milhões de euros) para apoiar a produção doméstica de SAF.
Uma revisão da Diretiva Tributária Europeia trará uma taxa de tributação para o combustível de aviação de origem fóssil, aumentando gradualmente de 2023 a 2033, com a SAF mantendo uma taxa de tributação zero.
Isso traz uma questão diferente sobre os preços dos bilhetes, que vão aumentar com esta mudança. Além disso, de acordo com o Simple Flying, isto levanta um dilema ético: as viagens aéreas vão ser acessíveis apenas para aqueles que podem pagar, promovendo maior desigualdade social. Especialistas do setor também temem que isso prejudique outros esforços de sustentabilidade.
“A aviação está comprometida com a descarbonização como uma indústria global. Não precisamos de medidas persuasivas ou punitivas, como impostos, para motivar a mudança. De facto, os impostos desviam dinheiro da indústria que poderia apoiar os investimentos de redução de emissões na renovação da frota e tecnologias limpas”, disse o diretor geral da IATA, Willie Walsh, em resposta ao anúncio.
Quão mais caros vão ser os bilhetes?
Filip Cornelis, diretor de aviação do departamento de transportes da Comissão Europeia, diz que está claro que os preços das viagens subirão como resultado da tentativa de tornar as viagens aéreas mais ecológicas.
“Calculamos que o mandato do SAF por si só aumentará o custo do combustível para as companhias aéreas em cerca de 3% até 2030, com um impacto nos preços das viagens de cerca de 1%”, disse Cornelis em outubro do ano passado, citado pela Euractiv.
Em meados do século, quando a UE passar a exigir que as companhias aéreas usem um mínimo de 63% de SAF, a Comissão Europeia estima que isso resulte num aumento geral no preço das viagens aéreas de 8%.
As pessoas estão dispostas a pagar?
De acordo com um estudo realizado por pesquisadores de Harvard e da Embry-Riddle Aeronautical University, publicado na Technology in Society em 2019, quanto maior a redução nas emissões de gases de efeito estufa do voo, mais os clientes estão dispostos a pagar.
Apesar das viagens de longa distância serem responsáveis pela maior parte das emissões da aviação, os passageiros estão dispostos a pagar um preço mais alto pelas viagens de curta distância, principalmente as mulheres.
Em ambos os casos, até que as iniciativas de incentivo ou castigo sejam concretizadas, resultando no aumento da oferta de SAF e no surgimento de outras tecnologias de descarbonização em escala, alguém terá que pagar o prémio associado a voar de forma mais sustentável.