O termo “desintoxicação digital” ou “digital detox” refere-se a um período de tempo em que um indivíduo se abstém de usar meios digitais, como telemóveis, computadores, tablets ou redes sociais. Em conversa com Ana Jorge, professora e investigadora da Universidade Lusófona, foi possível perceber como o turismo está a implementar este tipo experiência para benefício dos hóspedes.
Ana Jorge é coordenadora, em Portugal, do projeto de investigação Dis/Connect, em cooperação com um projeto da Noruega denominado Digitox, que desenvolve uma pesquisa crítica sobre as questões do minimalismo digital.
No seguimento da sua investigação, a professora e investigadora desvenda os principais objetivos da prática de um digital detox: abrir espaço a momentos de maior qualidade e aprender a fazer uma utilização do digital “mais consciente e intencional”. Para Ana Jorge, “o importante é que as pessoas consigam encontrar estratégias de regulação que permitam colocar o digital ao serviço da vida e não colocar a vida ao serviço do digital”.
Surgem então duas formas de realizar um digital detox: através de programas específicos, como o Offline Portugal e o Deal with Culture, ou em zonas com rede muito limitada, como a Quinta do Convento da Franqueira, em Barcelos, ou o Moinho do Maneio, em Penamacor.
Digital detox, uma prática para todos?
Ana Jorge faz questão de salientar que este tipo de experiências são “um luxo para aqueles que se podem desligar sem problemas, e um privilégio, porque fazer isto como turismo não está acessível a todos”.
“O que nós encontrámos, e que também está presente na pesquisas feitas noutros países pelos nossos parceiros na Noruega, é que nem todas as pessoas se podem ‘dar ao luxo’ de se desligarem do digital, porque ou dependem de alguém ou alguém depende de si. Por isso, a oportunidade de desligar do digital ou de ir para uma zona onde não haja internet ou rede móvel, não é igual para todos”, clarifica a professora.
Assim sendo, Ana Jorge traça o perfil geral de quem procura este tipo de experiência: pessoas sozinhas, que não querem passar tanto tempo no digital e que procuram um projeto de vida com mais propósito, usando o seu tempo de forma mais útil.
Melhores cenários para a reconexão pessoal
Nesta perspetiva de turismo em locais sem rede, existem espaços que constituem melhores cenários para a realização de uma desintoxicação digital. A proximidade à natureza ou à praia e a existência de sentimentos nostálgicos constituem características ideais para a prática destas experiências.
Ana Jorge apresenta a Vila da Cerdeira, uma antiga aldeia de Xisto na Serra da Lousã, como exemplo de um lugar marcado pela nostalgia e que foi recuperado para a criação de alojamentos onde a prática de retiros de digital detox é muito comum. O programa Feed Your Soul, um retiro de yoga na Cerdeira, é a materialização dessa ambição de criar da nostalgia e da natureza um espaço para o reencontro com o eu.
Por outro lado, o projeto Offline Portugal surge num cenário de proximidade à praia, tal como Peniche ou Aljezur, onde é possível realizar atividades como o surf e o yoga, que tornam a experiência de desintoxicação digital mais rica.
“Os melhores cenários estão muito ligados a ambientes tranquilos e com atividades físicas, que vão desde caminhadas na serra até ao surf”, acrescenta Ana Jorge.
No entanto, a professora lembra que optar por ser um alojamento com fracas ligações também pode ser um entrave. “Falámos com alguns empreendimentos com ligação móvel e internet limitadas, como é o caso da Quinta de Entre Sebes, em Cabeceiras de Basto, que, ao avisarem as pessoas dessa limitação, tiveram quem cancelasse a reserva”, revela Ana Jorge.
Talvez a resposta a este problema seja o equilíbrio entre o offline e o online, como afirma a professora, “olhando da perspetiva dos operadores turísticos, oferecer alguma possibilidade de ligação à internet tranquiliza as pessoas para a questão de que, se precisarem, vão estar contactáveis”. Sendo esta uma questão que pode gerar alguma ansiedade nos clientes, Ana Jorge acredita que “acaba por ser benéfico para os hotéis e alojamentos ter zonas limitadas de acesso à internet, para que as pessoas se possam ligar por um bocadinho e, depois, permanecerem em detox o resto do tempo”.
Depois da estadia a desintoxicação continua
Depois de embarcarem nesta experiência, “muitas pessoas afirmam ter ganho tempo para fazer atividades que estavam em suspenso, como ler sem interrupções ou durante mais tempo”, conta Ana Jorge. Há ainda quem destaque as vantagens de estar consigo próprio, a desfrutar do silêncio. “Não estarem com contacto ao digital liberta-os da pressão do tempo”, acrescenta.
Apesar de mostrar oferecer melhorias na vida dos participantes, Ana Jorge lembra que “o detox digital são experiências culturais que não resolvem a ideia de que a nossa sociedade está cada vez mais assente nessa premissa do contacto entre as pessoas através do digital”.
Na hora de regressar a casa, o uso consciente e intencional dos meios digitais deve continuar a estar presente, caso se queira continuar a viver um “estilo de vida digital” mais regulado e intencional. “A pessoa pode criar estratégias, depois destas experiências, para melhorar a sua relação com o digital, como não levar o telemóvel para o quarto ou escolher uma hora do dia para ler e responder os e-mails”, conclui a professora.
Alem disso a desconexão e’ mais saudável.
Tem sempre mais estudos médicos indicando que estar coletados o tempo tudo, com o wifi o telemóvel ligado, provoca problemas de saude. E’ suficiente comprovar como melhora a qualidade do sono nas áreas sem antenas, telefones ligados e redes wifi.
E’ uma situação parecida com o fumo de cigarro ate’ 50 anos, todo lugar (hotéis, restaurantes, bares, aviões) permitiam fumar no interior, agora que som de dominio publico os danos que fazem ja’ e’ ‘não fumar’ em todo lugar fechado.
Ter quartos ‘sem wifi’ outra area com quartos com wifi e wifi nas áreas comuns va’ a ser o bom compromisso entre estar contatados no caso precisar e dormir num lugar sano.