Domingo, Maio 18, 2025
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Entrevista: “Convenção da ARAC reflete transformação profunda que o setor da mobilidade está a atravessar”

A uma semana da realização da sua V Convenção Nacional, Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos), partilha a sua visão sobre a relevância deste evento e os principais tópicos que moldarão o futuro da locação de veículos no país. Na opinião do responsável, a convenção de 18 de outubro não apenas reflete a adaptação do setor às novas exigências do mercado, mas também apresenta uma oportunidade única para fortalecer parcerias e promover práticas sustentáveis que impulsionam o desenvolvimento da mobilidade em Portugal.

Qual é a importância da V Convenção Nacional da ARAC para o setor de locação de veículos em Portugal?

A Convenção Nacional da ARAC é o principal fórum em Portugal dedicado ao setor de locação de veículos e mobilidade, reunindo empresas e stakeholders das mais diversas áreas. Este evento anual destaca-se por promover um diálogo essencial entre empresas de locação de veículos, parceiros do turismo, indústria automóvel, área financeira, e entidades públicas e privadas que atuam nos setores de turismo, mobilidade e transportes.

Essa interação permite que todos os participantes se atualizem quanto às tendências, inovações tecnológicas e práticas sustentáveis, além de discutir regulamentações e políticas públicas que impactam o setor. Assim, o evento não só reflete as necessidades atuais da mobilidade como motor do desenvolvimento, mas também avalia o futuro do setor em Portugal.

A mensagem que desejo transmitir, também em nome da organização, é clara: não falte a mais esta Convenção Nacional da ARAC. Este será um dia de trabalho essencial, onde se moldará o futuro da mobilidade e da locação em Portugal.

Como a ARAC avalia o estado atual do setor de locação de veículos?

O estado atual da locação de veículos em Portugal e no mundo, nas suas diversas vertentes (rent-a-car, rent-a-cargo, carsharing, renting e aluguer de longa duração), reflete o impacto de transformações tecnológicas, transição energética e mudanças nos hábitos de consumo, especialmente após a pandemia de COVID-19. Esses setores têm-se adaptado para atender às novas exigências de sustentabilidade, digitalização e flexibilidade no uso de veículos.

No rent-a-car, que constitui uma atividade fundamental do turismo, o setor tem visto um aumento na procura por veículos mais sustentáveis, como os veículos elétricos. Portugal, devido à sua dependência do turismo, tem investido muito neste setor, o que se reflete numa frota que gradualmente adota novas tecnologias. Globalmente, há uma tendência similar, com grandes empresas de rent-a-car, mas também médias empresas, a expandirem as suas frotas de veículos elétricos e híbridos.

No entanto, o setor enfrenta desafios com a infraestrutura de carregamento, claramente insuficiente, e as limitações de autonomia dos veículos elétricos, especialmente para turistas que precisam de veículos para longas distâncias. A procura por processos digitais de contratação, como reservas e assinaturas de contratos via apps, também tem impulsionado a inovação no atendimento, otimizando a experiência do cliente.

” O setor tem visto um aumento na procura por veículos mais sustentáveis, como os veículos elétricos. Portugal, devido à sua dependência do turismo, tem investido muito neste setor, o que se reflete numa frota que gradualmente adota novas tecnologias”

A escolha do tema “Locação – Motor da nova mobilidade” para a convenção de 2024 reflete uma transformação no setor? Quais são as principais mudanças que tem observado?

A escolha do lema “Locação – Motor da Nova Mobilidade” para a V Convenção Nacional da ARAC reflete precisamente a transformação profunda que o setor da mobilidade está a atravessar. A locação de meios de mobilidade, seja de veículos automóveis, bicicletas, scooters ou outras formas inovadoras de mobilidade, desempenha um papel central nessa revolução. A interdependência entre mobilidade e turismo, como observado por Thomas Cook, é um ponto crucial: sem soluções eficazes e acessíveis de transporte, o turismo não pode florescer ou sequer existir.

Esta abordagem da ARAC evidencia como a locação de veículos está não apenas adaptando-se às novas exigências do turismo moderno, mas também impulsionando mudanças significativas. A sustentabilidade, a digitalização e a mobilidade partilhada são tendências que moldam o futuro deste setor, criando uma oferta cada vez mais integrada com as necessidades do turista moderno. Ao alinhar essas transformações com a atividade turística, a convenção destaca como o setor de locação é um pilar fundamental para o desenvolvimento de produtos turísticos completos e competitivos.

Essa relação íntima entre turismo e evolução dos transportes mostra-se crucial, pois os turistas de hoje procuram flexibilidade, comodidade e, cada vez mais, soluções de transporte ecológicas. Assim, a locação de veículos, seja para viagens curtas ou longas, tem o potencial de fornecer exatamente o que é necessário para que os destinos turísticos atendam a essa procura em constante mudança.

O aluguer de veículos sem condutor vai muito além do rent-a-car destinado ao turismo, abrangendo várias áreas de negócios e segmentos que estão a crescer exponencialmente. Para as empresas, optar pelo aluguer de viaturas em vez de investir na compra ou na locação financeira tem-se mostrado uma escolha estratégica. Essa opção permite que as empresas se concentrem nas suas atividades principais, enquanto a gestão e manutenção de frotas é delegada a profissionais especializados. Isso resulta em maior eficiência operacional, evitando custos associados à compra e manutenção de veículos.

O setor de aluguer de veículos sem condutor destaca-se pela sua versatilidade, atendendo a diversas frentes de negócios com soluções adaptadas às necessidades tanto de empresas quanto de particulares. Além do rent-a-car tradicional associado ao turismo, o setor abrange:

Aluguer para empresas: Atualmente, a maioria das empresas prefere alugar veículos em vez de adquiri-los, optando por serviços de rent-a-car, rent-a-cargo e gestão de frotas que garantem manutenção, seguros e suporte operacional. Essa solução permite que se concentrem no seu core business, delegando a gestão de veículos a profissionais especializados.

Aluguer para particulares: O aumento da incerteza quanto à depreciação dos veículos, os altos custos de seguros e manutenção, e a utilização esporádica de veículos levam cada vez mais pessoas a optar por alugueres pontuais, priorizando o uso em vez da propriedade. Isto está alinhado com uma mudança de mentalidade que privilegia o acesso à mobilidade em detrimento da propriedade.

Renting: Um modelo que combina o financiamento e a gestão operacional dos veículos, o renting é uma solução que tem captado uma crescente base de clientes, especialmente empresas, por permitir o uso de viaturas sem preocupações com manutenção e custos adicionais inesperados.

Veículos de substituição para seguradoras: Outro segmento vital é o fornecimento de veículos de substituição em parceria com seguradoras. Em caso de acidentes, as seguradoras disponibilizam veículos de substituição aos segurados e terceiros lesados, assegurando que a mobilidade não seja interrompida enquanto os carros estão em reparação.

Estes exemplos mostram como a atividade de aluguer de veículos sem condutor tem uma função essencial em diversas áreas, garantindo flexibilidade, comodidade e soluções economicamente viáveis para diferentes perfis de clientes e situações.

VEÍCULOS ELétricos: “o setor enfrenta desafios com a infraestrutura de carregamento, claramente insuficiente, e as limitações de autonomia dos veículos elétricos, especialmente para turistas que precisam de veículos para longas distâncias”

A digitalização tem um papel crescente na locação de veículos. Quais as tecnologias que considera mais impactantes para o setor?

As ferramentas de IA generativa estão a transformar rapidamente a indústria do turismo, tanto do ponto de vista do cliente como do ponto de vista das empresas. Para os turistas, estas tecnologias são usadas para otimizar o planeamento de viagens, ajudando-os a comparar custos, criar itinerários personalizados, escolher alojamentos e experiências, adaptando-se perfeitamente às suas necessidades e preferências. Isso reflete uma personalização sem precedentes, oferecendo aos viajantes uma experiência mais rica e eficiente desde o momento em que começam a planear suas viagens.

Por outro lado, as empresas ligadas ao turismo têm adotado essas ferramentas principalmente ao nível operacional, utilizando IA para automatizar processos, melhorar as estratégias de marketing e segmentar os clientes de forma mais precisa. A digitalização generalizada do setor tem permitido uma otimização de recursos, ajudando as empresas a aumentar a eficiência e a melhorar a qualidade do serviço prestado, enquanto reduzem custos operacionais.

O metaverso e as ferramentas de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) estão a criar formas de interagir com os clientes. Embora as experiências virtuais não substituam o turismo real, elas oferecem aos stakeholders uma oportunidade única para apresentar os seus produtos de forma mais eficaz e interativa. Empresas de turismo podem usar estas ferramentas para mostrar aos clientes os destinos, alojamentos ou outros produtos turísticos, como o rent-a-car, apresentando uma ideia do que podem esperar e ajudando a tomar decisões mais informadas.

O aluguer de veículos sem condutor, combinado com a crescente eletrificação da frota, representa um marco da mobilidade do século XXI, onde a automação e os meios digitais desempenham um papel crucial. A digitalização dos processos de contratação permitirá uma experiência de levantamento e entrega de veículos mais ágil e eficiente, sem a necessidade de intervenção humana. No entanto, esse modelo também garante flexibilidade, uma vez que os clientes podem solicitar assistência humana sempre que necessário, garantindo um equilíbrio entre tecnologia e interação personalizada.

Essa tendência não responde apenas à procura por conveniência e rapidez, mas também fortalece a confiança no sistema, permitindo que os clientes escolham o nível de assistência que desejam, de acordo com suas preferências.

Em síntese, as ferramentas de IA generativa, o metaverso e os contratos eletrónicos estão a redefinir o futuro da mobilidade e do turismo, com foco em personalização, eficiência e sustentabilidade.

“A digitalização generalizada do setor tem permitido uma otimização de recursos, ajudando as empresas a aumentar a eficiência e a melhorar a qualidade do serviço prestado, enquanto reduzem custos operacionais”

A ARAC destaca a transição energética como um grande desafio. Como as empresas de locação estão a preparar-se para essa mudança?

A transição energética tornou-se uma necessidade urgente no século XXI, sendo impulsionada tanto pelos efeitos das alterações climáticas quanto pela pressão geopolítica, como o rescaldo da pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia, que exacerbaram os desafios globais em torno da produção e consumo de energia. Nesse contexto, os veículos elétricos e autónomos emergem como pilares essenciais para a construção de um futuro mais sustentável e ecologicamente responsável.

O Regulamento Euro 7, adotado pelo Conselho Europeu a 12 de abril de 2024, é um marco dessa transição, ao definir limites rigorosos para as emissões de veículos rodoviários e exigir maior durabilidade das baterias, abrangendo tanto veículos ligeiros como pesados. Este regulamento complementa o Regulamento (UE) 2023/851, que introduz a meta de redução de 100% das emissões de CO2 para novos automóveis ligeiros de passageiros e comerciais ligeiros a partir de 2035, proibindo a venda de veículos novos a combustão no mercado interno a partir dessa data.

A indústria automóvel está a ajustar-se a essa transformação, e embora os veículos a combustão continuem disponíveis no mercado até 2035, a tendência aponta para a eletrificação das frotas. Isso trará benefícios ambientais e energéticos significativos, como a redução de emissões de poluentes, a diminuição da pegada de carbono e um consumo energético mais eficiente. Esses avanços estão alinhados com a Estratégia de Mobilidade Sustentável e Inteligente da União Europeia, que visa a criação de uma Europa mais limpa e sustentável.

A transição para veículos elétricos e autónomos representa um passo fundamental para enfrentar os desafios globais, promovendo sustentabilidade e eficiência energética.

“A criação de uma rede nacional de carregadores rápidos é crucial. Atualmente, a autonomia média dos veículos elétricos é de cerca de 300 km, o que limita a mobilidade em viagens longas. Uma rede insuficiente de postos de carregamento torna essas viagens incertas e complicadas, sobretudo fora das áreas urbanas”

Qual é a posição da ARAC sobre a crescente adoção de veículos elétricos e autónomos? Acredita que isso será uma tendência duradoura?

O fim da venda de veículos a combustão em 2035, aprovado pela Comissão do Meio Ambiente do Parlamento Europeu, reforça a urgência desta mudança. Contudo, para que a mobilidade elétrica se torne uma realidade mais ampla, será necessário superar obstáculos como:

Infraestrutura de carregamento: A criação de uma rede nacional de carregadores rápidos é crucial. Atualmente, a autonomia média dos veículos elétricos é de cerca de 300 km, o que limita a mobilidade em viagens longas. Uma rede insuficiente de postos de carregamento torna essas viagens incertas e complicadas, sobretudo fora das áreas urbanas.

Aumento da potência dos pontos de carregamento: A necessidade de potência elétrica suficiente para garantir carregamentos rápidos (idealmente em menos de 45 minutos para 70% da bateria) é essencial. As áreas de serviço são vistas como um ponto estratégico para a instalação massiva de carregadores, mas o reforço da infraestrutura elétrica é necessário para que isso ocorra de forma eficaz.

Incentivos e plano de “choque”: Será fundamental um plano de aceleração da instalação de postos de carregamento e a eliminação de entraves como a falta de potência nos ramais elétricos. Só assim se conseguirá cumprir as normativas europeias e acelerar o processo de eletrificação.

No setor de rent-a-car, os veículos elétricos já são uma realidade, com cerca de 3 mil unidades disponíveis para aluguer e a previsão de que, nos próximos cinco anos, 40% da frota seja composta por este tipo de veículos. No entanto, o sucesso desta transição depende de três fatores cruciais:

Autonomia dos veículos: Para os clientes de rent-a-car, especialmente turistas e profissionais que necessitam de deslocações rápidas e eficientes, a autonomia limitada dos veículos atuais é um problema. É essencial que as viaturas ofereçam autonomias adequadas entre carregamentos.
Disponibilidade de postos de carregamento: Para que os veículos possam ser utilizados sem restrições, é necessário um aumento massivo da rede de carregadores, de forma a não prejudicar a experiência do cliente, seja ele um turista com tempo limitado ou um profissional que precisa de mobilidade contínua.

Tempo de carregamento: Reduzir o tempo de carregamento para níveis mais competitivos com os veículos a combustão é crucial. Os atuais 45 minutos para uma carga de 70% ainda são vistos como uma limitação significativa para a expansão do uso de veículos elétricos em grande escala.

Além disso, o esforço financeiro para a troca de frotas e veículos por modelos elétricos ainda representa um desafio significativo, tanto para empresas quanto para particulares, que terão de enfrentar os custos de aquisição e adaptação à nova realidade elétrica. Esses são fatores fundamentais para garantir o crescimento sustentável e rápido do parque automóvel elétrico no país, assegurando uma transição energética eficaz e alinhada com os objetivos de mobilidade sustentável e combate às alterações climáticas.

Como vê a relação entre o setor de locação de veículos e o crescimento do turismo em Portugal, especialmente após os desafios da pandemia?

A relação entre o setor de locação de veículos e o crescimento do turismo em Portugal é bastante sinérgica, especialmente após os desafios impostos pela pandemia. O turismo em Portugal é um dos principais motores da economia, e o setor de locação de veículos desempenha um papel crucial na facilitação da mobilidade dos turistas, proporcionando liberdade de movimentação e acesso a destinos que podem ser mais remotos ou menos servidos por transporte público.

Após a pandemia, com a reabertura das fronteiras e a recuperação do turismo, a procura por soluções de mobilidade flexíveis, como o rent-a-car, aumentou significativamente. Isso verifica-se porque muitos turistas, em busca de mais segurança e privacidade, passaram a preferir opções de transporte individualizado em vez de transporte coletivo, uma tendência que já vinha se consolidando antes, mas que foi acelerada pela pandemia.

Quais são os principais desafios que antecipa para o setor nos próximos anos?

O setor de locação de veículos enfrentará desafios significativos nos próximos anos, como a necessidade de adaptação à mobilidade verde, que exige investimentos em frotas eletrificadas, e a insuficiência da infraestrutura de carregamento. Além disso, a digitalização dos processos e a cibersegurança serão cruciais, enquanto as mudanças regulatórias e a flutuação da procura, influenciada pela recuperação do turismo pós-pandemia, também representarão obstáculos.

Por outro lado, surgem oportunidades, como a vantagem competitiva para empresas que investirem em veículos elétricos, o crescimento do car sharing e a possibilidade de integrar soluções de mobilidade inovadoras, incluindo veículos autónomos. Modelos de aluguer de longo prazo podem fidelizar clientes, e parcerias estratégicas no turismo de experiência podem expandir o alcance das empresas. A chave para o sucesso será a adaptação rápida às mudanças tecnológicas e de mercado, priorizando sustentabilidade e experiência do cliente.

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