O turismo europeu manteve um “forte impulso” nos primeiros meses do ano, o que demonstra uma “notável resiliência” do setor face ao cenário de incerteza económica e das tensões geopolíticas, revela o mais recente estudo da European Travel Commission (ETC).
O relatório “European Tourism: Trends & Prospects” do primeiro trimestre da European Travel Commission (ETC) revela que as chegadas de turistas internacionais cresceram 4,9% entre janeiro e março face ao mesmo período de 2024, enquanto o número de dormidas subiu 2,2%.
“Após um robusto ano de 2024 — quando as chegadas ultrapassaram os níveis pré-pandémicos em 6,2% e as dormidas em 6,4% — o setor continuou a capitalizar as mudanças no comportamento dos viajantes. A procura por destinos com boa relação qualidade/preço e viagens fora de época continua forte, refletindo a contínua sensibilidade dos viajantes aos preços. Embora o desempenho até agora em 2025 tenha sido estável, a perspetiva económica tornou-se mais incerta. Espera-se que o aumento dos preços, as tensões geopolíticas persistentes e a introdução de novas tarifas nos EUA influenciem o sentimento dos viajantes e os hábitos de consumo à medida que o ano avança”, analisa a ETC.
No que diz respeito aos gastos com viagens, a estimativa mais recente para 2025 aponta que os viajantes deverão gastar cerca de 14% mais em toda a Europa do que no ano passado. Uma vez que o crescimento dos gastos está projetado para ultrapassar o aumento das viagens, a ETC acredita que isto poderá refletir um gasto médio mais elevado por visita.
Arranque do ano impulsionado pelos destinos de inverno
Os destinos de inverno apresentaram um “ótimo desempenho” do início do ano, com aumentos anuais nas chegadas a países como a Eslováquia (+14,3%) e a Noruega (+13,2%). Foi também a Noruega que obteve as estadias mais longas durante este período, com as dormidas a crescer 15,3% face a 2024 e mais de um terço em relação a 2019.
Já a Itália, aliada à sua reputação como um destino de esqui com “uma boa relação qualidade/preço”, registou um aumento mais acentuado das dormidas (+8%) em comparação com outros mercados alpinos, incluindo a Áustria (-3,5%) e a Suíça (+4,5%).
Europa de Leste recupera com maior confiança e conectividade
Os destinos da Europa Central e Oriental continuaram a recuperar do seu desempenho mais lento dos últimos anos. A Polónia (+16,2%), a Letónia (+27,8%) e a Hungria (+18,2%), que tiveram uma recuperação prolongada devido à perceção da sua proximidade com a guerra na Ucrânia, demonstraram uma recuperação moderada nas viagens no primeiro trimestre de 2024.
A Roménia (+11,7%) e a Bulgária (+1,4%) também beneficiaram da sua adesão à Área Schengen em janeiro, com a deslocação transfronteiriça mais fácil a motivar o interesse renovado dos visitantes.
Destinos mediterrânicos destacam-se com procura fora de época alta
O sul da Europa manteve-se como “um grande atrativo” no primeiro trimestre, uma vez que a procura de temperaturas mais quentes no inverno por parte de alguns mercados emissores do norte e oeste da Europa apoiou as viagens no Mediterrâneo e no sul da Europa.
Espanha recebeu mais de 10 milhões de estrangeiros em apenas dois meses, o que representa um aumento de quase dois milhões em relação a 2019. Outros destinos mediterrânicos tiveram um forte crescimento anual nas viagens, incluindo Chipre (+15,4%) e Malta (+12,6%). Segundo a ETC, esta tendência foi impulsionada pelo “crescente interesse” em viagens fora dos meses de pico do verão e pelo aumento da capacidade aérea para Malta.
Estes números refletem a tendência das “cool-cations”, uma vez que os viajantes estão a procurar cada vez mais evitar os meses mais quentes. Além disto, é demonstrativo do “sucesso” dos destinos na diversificação das suas ofertas turísticas para fortalecer o setor durante a época baixa.
Custo-benefício é fator crucial para viajantes
De acordo com o relatório, os preços acessíveis continuam a ser uma das prioridades dos viajantes, visto que os custos dos serviços relacionados com o turismo continuam “muito acima” dos níveis pré-pandemia.
A maioria das categorias registou aumentos “notáveis” no que diz respeito aos preços, com destaque para os pacotes de férias nacionais e internacionais, que aumentaram 12% e 10%, respetivamente, comparativamente ao ano passado. Além de suscitar uma maior procura por destinos mais acessíveis, isto poderá levar a estadias mais curtas.
Com a relação do custo-benefício a pautar as escolhas do destino, países como a Roménia viram o seu número de chegadas de turistas internacionais a aumentar. Já destinos vistos como mais caros, nomeadamente a Islândia (-5,7%) e o Mónaco (0,8%), estagnaram ou diminuíram em comparação com o mesmo período de 2024.
Novas tarifas dos EUA podem prejudicar a procura
“As tarifas comerciais dos EUA recentemente anunciadas aumentaram a incerteza nas viagens transatlânticas, com a Europa a preparar-se para uma possível queda no número de visitantes americanos este ano”, alerta o relatório da ETC.
Ainda que a Europa continue a ser um dos principais destinos de longa distância, as flutuações da taxa de câmbio euro/dólar dos EUA, juntamente com a subida dos custos de viagem, podem levar ao enfraquecimento da procura por destinos norte-americanos. “Este declínio é importante porque os EUA eram responsáveis por 9% das viagens globais antes da pandemia e, no ano passado, os americanos representaram mais de um terço das chegadas de longa distância da Europa”, destaca.
Apesar destes obstáculos, as viagens dos EUA para a Europa tiveram um “bom desempenho” no primeiro trimestre, com mais de 80% dos destinos a registarem um crescimento anual.
Este cenário poderá também levar ao surgimento de “alguns efeitos compensatórios”, incluindo uma mudança nas viagens para os EUA — principalmente a partir da China — e um aumento nas viagens de curta distância dentro da Europa.