Sexta-feira, Maio 17, 2024
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Fórum Vê Portugal: “Não há nenhuma empresa que não queira pagar bem e melhor aos seus colaboradores”

A secretária geral da AHRESP, Ana Jacinto, voltou a defender esta terça-feira, dia 7 de junho, uma diminuição da carga fiscal sobre os custos laborais como forma de ajudar as empresas a remunerarem melhor os seus trabalhadores.

Ana Jacinto, que participava no painel “O capital humano nas organizações: impactos e mudanças”, na 8ª edição do Fórum de Turismo Interno Vê Portugal, não tem dúvidas que “não há nenhuma empresa que não queira pagar bem e melhor aos seus colaboradores”. Para Ana Jacinto, a grande questão está em saber se “as empresas têm capacidade financeira para pagar melhor?” e deu o exemplo: “Se um empresário pagar 1000 euros ao trabalhador, o trabalhador leva para casa cerca 770 euros, e a empresa tem um custo de 1200 euros. Enquanto for assim, é difícil que as empresas consigam pagar mais e melhor, além de estarem descapitalizadas por causa da pandemia. É preciso diminuir a carga fiscal dos custos laborais. Não há volta a dar, o Estado também tem aqui uma grande responsabilidade”.

A falta de mão de obra no setor do turismo continua a fazer correr muita tinta e é, atualmente, “um dos temas mais preocupantes em cima da mesa”. No entanto, não é novo, lembra Ana Jacinto. “ A AHRESP já tinha feito uma reflexão sobre o tema, antes da pandemia, e, no final de 2018, já precisámos de 40 mil pessoas no setor. Esse número não se resolveu, até se tem agravado. As organizações apontam para uma falta de 86 mil pessoas. Em 2021, o setor perdeu 76 mil postos de trabalho e todos os dias aumentamos o número de desencorajados – aquelas pessoas que não estão inscritas no Centro de Emprego e também não estão à procura de trabalho”, constata.

“O país está envelhecido. Em 2028, se nada for feito, a população portuguesa passará de 10 milhões para a 8 milhões e passaremos a ter 300 idosos por 100 jovens, não vemos políticas estratégicas para inverter isso”

O problema “não é fácil e está a assumir proporções preocupantes”, assume Ana Jacinto, para quem é necessário fazer “rapidamente alguma coisa”. A responsável defende que o problema tem de ser visto sob três dimensões. A primeira tem a ver com a demografia. “O país está envelhecido. Em 2028, se nada for feito, a população portuguesa passará de 10 milhões para a 8 milhões e passaremos a ter 300 idosos por 100 jovens, não vemos políticas estratégicas para inverter isso”. A segunda dimensão tem que ver com a formação e a qualificação. “O presidente do Turismo de Portugal referiu, a propósito da Estratégia 2027, que 60% das pessoas que trabalham no setor têm o ensino básico”, lembra a responsável. A terceira dimensão tem a ver com a “atratividade dos nossos setores”. “Ao falar da atração dos nossos setores, a maioria das pessoas pensa logo que as empresas pagam pouco. Não há nenhum empresário que não queira pagar melhor e reter o talento”, defende.

Para a AHRESP, uma das conclusões mais relevantes nesta matéria dos recursos humanos levantadas por um estudo recente da associação é a conciliação entre a vida pessoal e profissional. “É o aspeto mais relevante para os profissionais que estão a iniciar a sua carreira. Aqui é que temos um molho de brócolos, o setor é penoso, é duro, trabalhamos 24 horas, sábados, domingos, feriados. Temos de caminhar para evoluirmos nesta matéria e ninguém pode ficar de fora. Tem de ser um trabalho conjunto das empresas, das estruturas representativas dos trabalhadores, do Estado, e, infelizmente, aquilo que vejo é um recuo em vez de avançarmos”, considera. Ana Jacinto referia-se ao que sucedeu em sede de Concertação Social. “O que vejo são retrocessos, veja-se o que aconteceu recentemente na Concertação Social com a agenda para o trabalho digno. A verdade é que recuámos. Aquilo que foi aprovado não permite às empresas do turismo criar mecanismos de flexibilidade e ajustar os tempos de trabalho. Não vale a pena só acusarmos: o setor é duro, tem uma dificuldade de organização dos horários de trabalho, paga deficientemente, temos de evoluir, aquilo que notámos é que há sempre retrocessos, é muito difícil sair desta espiral”, lamenta.

“As empresas têm dificuldade em fazer planos de carreiras e engajamento com os trabalhadores”

Ana Jacinto levantou ainda o tema dos benefícios das empresas aos colaboradores: “Aqui sim há uma responsabilidade das empresas. As empresas têm dificuldade em fazer planos de carreiras e engajamento com os trabalhadores. Algumas já dão benefícios que ajudam a reter os trabalhadores”, observa. Para a responsável, claramente, “o salário emocional tem de ser cultivado”.

Por fim, a secretária geral da AHRESP falou da emigração como uma das soluções para mitigar a falta de mão de obra e apontou responsabilidades ao Estado. “Vamos continuar a ter um problema de falta de trabalhadores, precisamos de trabalhadores emigrantes. Fizemos acordos com a Índia, com os países da CPLP, com Marrocos, mas a verdade é que continuamos sem perceber o que se passou, porque os empresários continuam a relatar que não conseguem trazer trabalhadores”, constata. Apesar de defender esta solução, Ana Jacinto alerta para o facto desta emigração ter de ser organizada. “As pessoas tem de ter uma residência, escolas para os filhos e serem acolhidas”.

Escolas do Turismo de Portugal estão a perder alunos nacionais

O que é o futuro das escolas? Foi com esta pergunta que a Ana Paula Pais, Diretora Coordenadora da Direção de Formação no Turismo de Portugal, iniciou a sua apresentação.

A responsável confirma um problema de atração de talento que está a acontecer também nas Escolas do Turismo de Portugal. “Temos tido perda de jovens, só não temos menos alunos, porque temos compensado com alunos internacionais, temos uma diminuição de alunos nacionais que nos procura”, refere.

Ana Paula Pais, Diretora Coordenadora da Direção de Formação no Turismo de Portugal, durante a sua intervenção no Vê Portugal

Como cativar os jovens? A solução, defende Ana Paula Pais, pode começar por uma transformação do setor da educação “num ambiente mais centrado no indivíduo, no bom sentido do termo”. A criação de percursos escolares individualizados, diversificados e personificados, assim como a junção entre níveis de ensino podem ser as soluções, a par de uma mudança da escola como a vemos atualmente. “A escola tem mudar, tem de mudar os seus ambientes, deixar de existir exclusivamente dentro das suas paredes”, defende.

Ana Paula Pais enumerou ainda outros desafios como o reforço da colaboração entre as empresas e as escolas. “A escola tem de entrar numa colaboração permanente com as empresas, temos um longo caminho a fazer, há ainda pequeníssimas experiências do género”, constata.

“Temos tido perda de jovens, só não temos menos alunos, porque temos compensado com alunos internacionais”

Por sua vez, outro dos desafios é a integração do digital. “É difícil fazer a literacia digital fora do contexto profissional, as pessoas têm de fazer essa formação no posto de trabalho”, refere. Por último, a responsável pela formação no Turismo de Portugal defende uma aproximação ao trabalho dos jovens antes dos 18 anos. “Temos algo para melhorar muito que é o emprego de pessoas que ainda estão a estudar, antes dos 18 anos, temos experiências no estrangeiro muito interessantes”.

“As empresas precisam de ver a formação como uma rotina, todos os dias tem de haver um espacinho para a formação”

Ana Paula Pais terminou a apresentação enumerando as mudanças que estão em curso no Turismo de Portugal, no que à formação diz respeito. “Temos processos de captação de talento noutros destinos, temos cada vez mais jovens a estudar nosso país, Portugal pode fazer um trabalho de investimento como sendo um destino para estudar turismo e depois ter capacidade para reter esses jovens. Temos projetos em curso de formação dos profissionais, procuramos compatibilizar a formação online com a formação presencial e estamos a trabalhar em novas metodologias. Do lado das empresas, as empresas precisam de ver a formação como uma rotina, todos os dias tem de haver um espacinho para a formação”.

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