Sexta-feira, Janeiro 24, 2025
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Gestão de fluxos turísticos, certificações e tecnologia. Como é que os destinos turísticos podem tornar-se “mais verdes”

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A Sustentabilidade foi o tema central da quarta edição do Cascais Tourism Forum, organizado pela ARHCESMO, em Cascais, no passado dia 17 de maio. Profissionais de renome a nível internacional e nacional juntaram-se para falar do tema que está cada vez mais presente na vida das pessoas e das empresas, e ao qual os destinos turísticos não podem estar alheios.

No painel ‘Sustainability in Tourism. Time to Shift’, em que participaram Sérgio Guerreiro, chairman do Market Intelligence Group da European Travel Commission Rosa Costa, diretora regional do Turismo dos Açores, e Bernardo Corrêa de Barros, presidente da Associação do Turismo de Cascais, falou-se do tema da gestão sustentável dos destinos, apontando exemplos do que está a ser feito.

Sérgio Guerreiro, que é também coordenador da Direção de Gestão do Conhecimento e responsável pela área de inovação e empreendedorismo no Turismo de Portugal, trouxe a debate um novo desafio sobre a pressão turística dos destinos, decorrente da pandemia. “Todos nós, enquanto cidadãos, tivemos dois anos em que os destinos foram nossos. Não tivemos concorrência pelos restaurantes, nem pelos espaços turísticos. Agora, que tudo está a voltar ao normal, temos este sentimento de perda ainda mais alicerçado. Esta é uma variável que vai trazer ao tema da pressão turística uma dimensão ainda maior”, defendeu.

“Paisagens verdes vs sustentabilidade”

Paisagens verdejantes e cenários naturais idílicos não são um passe direto para obter o rótulo de destino sustentável. Os Açores são disso exemplo. “A sustentabilidade do destino turístico não passa apenas pelas suas lindas paisagens verdes. Há essa confusão, por vezes, de misturar a paisagem com o facto de ser sustentável”, começou por afirmar Rosa Costa. A responsável explicou que, apesar de este ser um destino verde, por natureza, há muito trabalho a montante. “Há muitos anos que trabalhamos rumo à sustentabilidade”, disse, recordando que, em 2015, por força da abertura do espaço aéreo, os Açores registaram “um crescimento exponencial”, que se estendeu aos últimos cinco anos. “Duplicámos as dormidas. Isso trouxe-nos oportunidades, mas também desafios”, constatou.

Rosa Costa Créditos: Henrique Casinhas

Com um total de 123 geossítios classificados na região e cerca de 35 mil km de áreas marinhas protegidas, quase 25% do território açoriano está já classificado como área protegida, e 38% dos resíduos são tratados, reciclados ou enviados para compostagem, referiu a responsável.

Um dos dos marcos da estratégia “verde” levada a cabo pela região foi a obtenção, em 2019, do segundo nível de prata na certificação internacional como Destino Turístico Sustentável da EarthCheck, de acordo com os critérios do Global Sustainable Tourism Council. O processo foi iniciado em 2017 com o envolvimento do setor público e privado, recordou Rosa Costa, e com a capacitação da comunidade, não só turística, como local. “Não é um projeto para o turismo, é um projeto para todos, que envolve ações muito mais profundas, além daquelas que estão relacionadas com o turismo, e que vão beneficiar quer os residentes, quer os turistas que visitam os Açores”.

O destino está agora a trabalhar para a obtenção do nível ouro desta certificação. Porém, a diretora regional não escondeu os desafios relacionados com a mão de obra e a gestão dos fluxos turísticos: “Temos de conseguir geri-los melhor e, obviamente, temos de mitigar a sazonalidade cada vez mais”. Para Rosa Costa, este é um processo que necessita da criação de apoios às empresas de forma a que “tornem os seus negócios mais sustentáveis”. Mas se os desafios estão identificados, também as oportunidades são evidentes. As alterações de comportamento e intenções de viagens dos consumidores, nomeadamente a procura de destinos não massificados, mais verdes, e ao ar livre, beneficiaram os Açores. “Com a pandemia estas novas tendências potenciam o destino”, referiu, indicando ainda que o destino espera recuperar já este ano o número de dormidas de 2019 (3 milhões).

“Vencemos juntos ou falhamos separadamente”

A frase dita pelo prémio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, nas Conferências do Estoril, deu o mote inicial à intervenção do presidente do Turismo de Cascais. “Na temática da sustentabilidade, ou vencemos juntos ou falhamos separadamente”, afirma Bernardo Corrêa de Barros. “Começamos logo pelos selos, de uma vez por todas, o país tem de agarrar um selo internacional e começar uma real partilha de boas práticas na área da sustentabilidade”, defendeu o responsável, que está disponível para partilhar aquela que é a experiência da entidade que dirige.

Bernardo Corrêa de Barros Créditos: Henrique Casinhas

“O Turismo de Cascais fez um estudo durante a pandemia, que concluiu que 67% dos turistas, quando equacionam o próximo destino, verificam boas práticas de sustentabilidade. Por que é que não partilhamos as boas práticas de sustentabilidade uns dos outros e, no final, adotamos o selo mais reconhecido a nível internacional? Quando os turistas vão verificar os certificados e não os conhecem, temos um problema de comunicação à partida. Estamos disponíveis para partilhar as boas práticas. Ganhamos todos e não falhamos separadamente. Esta temática merece ser alvo de alargada reflexão”, afirmou o presidente do Turismo de Cascais.

Segundo o responsável, o mesmo estudo mostrou que as tendências internacionais pós-covid apontam para uma procura por territórios com uma perceção de menor pressão turística.

“As boas práticas de sustentabilidade têm de ser inequívocas para quem nos está a dar a oportunidade da visita, para que, quando regresse a casa, seja o nosso melhor embaixador. Na área da tecnologia, estamos disponíveis a partilhar um novo projeto, assim que estiver em velocidade cruzeiro”, afirmou o responsável. Bernardo Corrêa de Barros referia-se à implementação da rede de partilha de wifi pública em Cascais, que traz oportunidades para, por exemplo, o campo da gestão de fluxos turísticos.

Sérgio Guerreiro Créditos: Henrique Casinhas

Sérgio Guerreiro trouxe mais uma questão ao debate: “O consumidor também tem de fazer parte desta mudança estratégica”. Embora reconheça que essa é “a parte mais difícil”, o responsável defende uma aposta “em formas inovadoras de comunicar com o cliente que consigam fazer com que todo este ecossistema trabalhe bem”. “Cada vez que há uma crise, há pessoas que choram e outras que vendem lenços. Estamos num momento em que todos já percebemos que é tempo de mudar, hoje em dia temos um envelope financeiro ao dispor dos agentes do setor para fazer esse processo de transformação, é agora que temos de agarrá-lo”.

O responsável deu o exemplo do Plano Turismo + Sustentável 20-23, “como estratégia para a acelerar a adoção da sustentabilidade e vetor competitivo dos nossos destinos”. “Os turistas vão cada vez mais a pugnar por isto e os residentes querem estar connosco neste processo”.

Os quatro eixos de trabalho do plano passam pela estruturação do negócio e adoção massiva das empresas ao conjunto de soluções; a qualificação das pessoas; a promoção de Portugal como um destino sustentável; e, por fim, a monitorização deste caminho.

Por sua vez, as metas do plano apontam para “que 75% das empresas registem boas práticas de gestão eficiente da água, energia e resíduos até ao final de 2023”. A eliminação dos plásticos de uso-único é outra das metas, assim como a formação de 500 mil pessoas na área da sustentabilidade.

“Queremos ter 200 referências internacionais como destino sustentável, isso ajuda-nos a robustecer a nossa presença internacional como um case study”, conclui o Sérgio Guerreiro.

*O TNews foi media sponsor do evento

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