O operador turístico TUI, vai apoiar a formação de 350 jovens sem ocupação nas ilhas do Sal e da Boa Vista, em parceria com a Escola Hotelaria Turismo Cabo Verde (EHTCV), anunciou esta segunda-feira a instituição cabo-verdiana.
Em comunicado, a EHTCV explica que a TUI Academy Cabo Verde resulta de uma parceria com a TUI Care Foundation, instituição do operador turístico TUI, para “promover o desenvolvimento de competências para o exercício de atividades profissionais nas áreas da hotelaria, restauração e turismo”.
“A formação é adaptada de acordo com a realidade prática da vida profissional no setor do turismo. São incutidos nos formandos valores profissionais, para que desenvolvam também atitudes e comportamentos específicos. A EHTCV tem ação conjunta com a TUI Care Foundation, que é uma fundação que apoia projetos que criam novas oportunidades e contribuem para comunidades prósperas em todo o mundo”, sublinha a instituição.
O projeto pretende proporcionar aos jovens “sem ocupação”, provenientes de famílias “mais vulneráveis” daquelas duas ilhas, acesso a formação certificada, “visando a obtenção de oportunidade de inserção no mercado de trabalho, designadamente em hotelaria, restauração e turismo”.
A primeira edição desta formação arranca esta segunda-feira, 12 de dezembro, em Santa Maria, ilha do Sal, e conta com 60 formandos, sendo 30 para a área de cozinha e 30 para a restauração, nível III.
Só o grupo hoteleiro espanhol RIU – que detém 3,6% do capital social do operador TUI – recebe anualmente 300 mil turistas nos seis hotéis que opera nas ilhas do Sal e da Boa Vista, totalizando 4.479 quartos, sendo o maior empregador privado do arquipélago, com quase 2.500 trabalhadores.
O presidente da Câmara do Turismo de Cabo Verde disse em agosto que antevê problemas de falta de quadros nos hotéis face ao anunciado recrutamento de milhares de trabalhadores para Portugal, salientando que a formação profissional no arquipélago não está preparada para “essa razia”.
Em entrevista à agência Lusa, Jorge Spencer Lima não escondeu a preocupação com o cenário que se antevê, depois de em julho último uma missão da Região de Turismo do Algarve já ter estado no arquipélago à procura de trabalhadores, anunciando que tem cerca de 5.000 vagas por preencher.
“Vejo com preocupação porque o que poderia ser um ato normal deixa de ser porque não foi preparado, por ser um processo que vai esvaziar os hotéis de quadros, sem alternativas. Porque o sistema de ensino que forma quadros em Cabo Verde ainda não está preparado para essa razia”, afirmou Jorge Spencer Lima.
Para o empresário e dirigente do setor, a perspetiva é de “haver problemas de quadros” a breve prazo, num setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego em Cabo Verde, sobretudo em áreas da cozinha ou restauração, sem que o país tenha “base para substituição” dos que partem.
“Pode criar problemas no funcionamento dos hotéis e na qualidade do serviço que é prestado. As pessoas são livres para emigrarem quando entenderem e para onde entenderem. O que não faz sentido é o próprio Governo de Cabo Verde estar a apoiar esse tipo de recrutamento sem preparar o país para essa eventualidade”, disse ainda Spencer Lima.
A prioridade, acrescentou, deve passar por reforçar o sistema de formação profissional: “A emigração vai ser uma fatalidade, já começou e não é a primeira vez. A questão é que o nosso sistema não está preparado para formar mais quadros, que possam substituir aqueles que vão emigrar, tem de ser essa a via, porque nós não vamos poder impedir as pessoas de emigrarem. As pessoas são livres. Mas o sistema tem de funcionar, sai um, tem de ter dois preparados, que não é o caso neste momento. Esse é que é o verdadeiro problema”.
O número de trabalhadores ao serviço nos estabelecimentos hoteleiros de Cabo Verde cresceu cinco vezes em 2021, para 8.400, indicam dados divulgados em junho pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) cabo-verdiano.
Segundo o Inventário Anual de Estabelecimento Hoteleiros, esses estabelecimentos empregavam diretamente 1.577 trabalhadores no final de 2020 (após um máximo de 9.417 em 2018), registo que assim subiu fortemente (432,7%) no final do ano passado, devido à reabertura progressiva das unidades de alojamento, após as restrições impostas pela pandemia de covid-19.
No final de 2021, segundo o mesmo inventário, Cabo Verde contava com 292 estabelecimentos de alojamento hoteleiro, número que compara com os 124 no ano anterior e os 284 em 2019.