Com o teletrabalho a dar mostras de que veio para ficar, Paulo Palha e Joana Balaguer têm uma proposta que eleva esta tendência: a Krow. Idealizada em tempo de pandemia, esta iniciativa propõe um modelo de trabalho remoto, que abre as portas dos hotéis, para que estes se transformem em escritórios “por um dia”.
O percurso de Paulo Palha na criação de startups iniciou-se no final de 2009, com a The Most Perfect View, uma curadoria de hotéis com as melhores vistas do mundo. Em 2018 avançou com a Travideo, uma curadoria, neste caso de vídeos de viagens inspiradores que agrega conteúdos de realizadores, viajantes, organismos de turismo internacionais e hotéis.
No presente ano, a The Most Perfect View é um projeto consolidado, cobrindo mais de 90 destinos e com uma audiência internacional. No caso da Travideo, continua a fazer o seu caminho, apesar da pandemia ter colocado desafios inesperados.

A experiência dos dois projetos que antecederam a criação da Krow foram, segundo Paulo Palha, “repletos de aprendizagens, o que, cumulativamente, dá mais ferramentas para encarar o futuro com mais confiança e cometer menos erros”.
Krow, a cada dia um novo escritório
A Krow – um anagrama da palavra “Work” – é uma iniciativa conjunta de Paulo Palha e da mulher, a atriz e empresária Joana Balaguer. O projeto surge num contexto de pandemia que, consequentemente, veio acelerar um conjunto de mudanças que já estavam em marcha.
“Por um lado, vemos o trabalho remoto em franco crescimento, mas ainda o associamos, na maioria das vezes, a ‘trabalhar de casa’, algo a que nem todos se adaptam. Por outro, temos hotéis a enfrentar desafios sem precedentes e a sentirem a necessidade de captar novas oportunidades de negócio. Pensámos existir aqui um match”, expressa Paulo Palha.

O projeto funciona de forma muito simples. O utilizador acede à web app da Krow, subscreve um plano mensal e, a partir desse momento, pode trabalhar em qualquer uma das localizações Krow, bastando para isso fazer “check-in” ao chegar. O mesmo se aplica a equipas.
Um dos principais traços distintivos é a possibilidade de trabalhar em locais diferentes todos os dias. “Costumamos dizer que não acordamos todos os dias da mesma forma e proporcionar a liberdade ao trabalhador de poder exercer a sua atividade com vista sobre a Serra de Sintra (por exemplo no Penha Longa Resort), a olhar para o Tejo a partir de um palácio (Vila Galé Collection Palácio dos Arcos) ou a partir de um lounge sofisticado na Avenida da Liberdade (Sofitel Lisbon Liberdade) é algo que é bastante valorizado”. Existe também o caso em que os profissionais precisam de visitar diferentes localidades e, nessas situações em que a flexibilidade é protagonista, “o conceito assenta que nem uma luva”.
Neste momento o projeto conta com 12 unidades hoteleiras na sua rede, mas Paulo Palha assume sentir um enorme interesse, por parte dos hotéis, pela proposta de valor do Krow. “Em setembro de 2022 antevemos uma Krow com projecção ibérica, sabendo que o caminho que temos pela frente se fará com um passo certeiro de cada vez”, antecipa Paulo Palha.
Construção de uma comunidade
A principal queixa de quem trabalha remotamente em casa é o isolamento social. Nesse sentido, os fundadores acreditam que a criação de um “efeito comunidade”, em que os membros possam interagir entre si, podendo suportar-se mutuamente e até gerar novas oportunidades comerciais, é um fator importante.
Nesse sentido, “o membro Krow irá encontrar as nossas canecas amarelas espalhadas pelas diferentes localizações, sendo encorajado a cumprimentar (nem que seja com um simples “bom dia”) qualquer outro membro Krow que esteja na posse de uma destas canecas. Por vezes uma breve troca de palavras pode levar a cenários com consequências tão positivas quanto imprevistas”, expressa Paulo Palha.

Existem alguns exemplos de conceitos que revelam pontos de contacto com o da Krow, mas não necessariamente iguais. “Apostamos em criar “lifestyle offices”, uma filosofia que nos guia no sentido de entender o trabalho como uma parte integrante do estilo de vida de cada um e não a peça central em que tudo gira à sua volta. É uma mudança de paradigma que aposta na felicidade do indivíduo, o que por seu turno o tornará mais produtivo no também no trabalho”, esclarece o empresário.
Vantagens para os hotéis
Segundo Paulo Palha, “em particular em hotéis urbanos, existem dois momentos do dia em que temos um pico de pessoas: no horário do pequeno-almoço e ao final da tarde quando as pessoas regressam para se prepararem para o jantar”. É no intervalo entre esses momentos, “curiosamente o horário em que a maior parte das pessoas trabalha”, que existe um maior desperdício de recursos por parte do hotel: mesas e cadeiras vazias, ligação WiFi com pouca utilização, staff de restaurante e bar com menos trabalho, luzes e climatização ligadas, entre outros.

Nesse sentido, os fundadores da Krow lançam a questão: “Porque não convidar a comunidade local a frequentar o hotel, oxigenando-o?”. Seguem-se pelo princípio de que “um cliente que passa a porta para o lado de dentro, é uma nova oportunidade comercial”. Assim sendo, Paulo Palha discorre que o trabalho da Krow é ajudar os hotéis a captarem este segmento crescente de trabalhadores remotos que estão insatisfeitos com ter que trabalhar de casa, isolados.
“A estratégia da Krow assenta no desenvolvimento de produtos que, de forma individual ou em cross-sell, estimulem receitas adicionais de food & beverage, fomentem a utilização de salas de reunião, serviços de wellness (ginásio/spa) e até alojamento”, acrescenta Paulo Palha.
Concomitantemente, caso os hotéis se tenham de adaptar para receber o projeto, com ergonomia apropriada para trabalhar, este é um investimento de marketing (custo de aquisição do cliente) feito pelo hotel, mas que a Krow ajuda através de um mecanismo de comparticipação. Paralelamente, os membros Krow beneficiam de café, chá e água em regime de cortesia durante a sua visita.
Portugal: um bom país para começar?
Este é um estilo de trabalho aplicado, com sucesso, em muitos outros países, mas para Portugal é ainda um mercado pouco explorado.
“Em Portugal, por vezes assistimos à colisão de dois mundos: por um lado um conservadorismo que chega a ser paralisante, mas, por outro, uma enorme vontade de inovar que nos envaidece a todos. Já existem vários exemplos de organizações portuguesas que demonstram uma enorme convergência com as novas tendências do trabalho: é para essas que nos dirigimos com a proposta de valor da Krow”, revela Paulo Palha.
O principal desafio é, de acordo com o co-fundador, conseguir manter o conhecimento sobre as reais expectativas e necessidades de quem está a trabalhar remotamente e como as mesmas vão evoluindo de forma dinâmica, o que vai implicar estarem sempre próximos dos seus membros. Este desafio acaba por ser, simultaneamente, um dos principais motivos para terem optado não possuir um escritório físico tradicional. “O nosso escritório são as nossas localizações parceiras e os nossos membros os nossos coworkers”.
Concluindo, Paulo Palha destaca “a possibilidade de escolher a partir de um “menu” onde vai trabalhar, a consistência da experiência em cada visita (o conjunto de benefícios transversais em todas as localizações) e o acesso a uma comunidade de pessoas com o mesmo alinhamento mental”, como os pontos fortes que fazem da Krow um projeto promissor.