O Algarve é o único sítio do país que pára no inverno. Sempre me fez muita confusão a passividade da aceitação deste facto, como se a sazonalidade fosse um problema demasiado complexo para se resolver e sem solução à vista.
As desculpas são muitas, a falta de aviões, de turistas, de condições, de falta de decisão autárquica conjunta.
Como em tudo em Portugal, aponta-se dedos para o nevoeiro e desviam-se responsabilidades.
Há anos que assisto a conferências e debates onde o discurso é já tão reciclado que se tornou transparente e se desfaz ao mínimo contacto.
A recente (cof antiquíssima cof) falta de trabalhadores é um sintoma de algo crónico:
Sazonalidade -> Menos faturação -> Menos poder de contratação -> Pior serviço ->
E infelizmente não se trata de um círculo, mas de uma espiral descendente.
Quem já trabalhou na hotelaria sabe que os horários são desumanos, as responsabilidades dobram costas e vemos casos de esgotamento e depressão como se fosse gripe. Procura-se o lucro espremido de uma omelete sem ovos e nem se dá uma palmadinha nas costas do Chef. Fecha-se no inverno porque se fecha no inverno há 40 anos e se fez as contas e sai mais barato fazer uma corrida no início da época com amendoins nas mãos para contratar para a época. Mas agora nem os macacos aparecem.
“Mas Guilherme, qual é a solução então?”
Não é fácil, mas é simples. O resto do país já o descobriu por necessidade – É não vender só praia.
O Algarve sofre de um mal terrível e destruidor que é a descaracterização. Esse processo arrasador, acredito, ter surgido da genuína humildade do povo português, que julga que o que tem não é bom o suficiente para agradar e atrair.
Foram-se construindo completas monstruosidades em cima da praia, e em cima de tudo. Acabaram-se com os mercados locais e o tradicional passou a ser reacionário.
Só agora começamos a perceber que o valor do típico, no único, na nossa individualidade como povo e cultura. É nisso que devíamos apostar, forte e feio. A cultura não vive do bom tempo.
A cura da sazonalidade está na cultura e valorização do Algarve como uma região com uma história rica e atrativa. É incrível que a maior associação de arqueologia tenha sido fundada por estrangeiros e ainda são o seu principal motor. Falta a valorização do local. E isso passa por haver uma aposta, não só das autarquias, mas também das empresas. Começamos a ver, com as experiências, caminhadas e outras atividades, mas há tanta coisa para explorar.
Aposte-se no que faz de nós um tomate tosco, mas saboroso, como dizia o publicitário Nuno Antunes, a ver se não trazemos gente que queira vir provar.
Por Guilherme Costa
Diretor de Marketing da Eventeam e estratego de Marcas