O problema que todos descobrimos após a pandemia é a falta de mão de obra disponível qualificada ou mesmo sem qualificação.
Estamos habituados, todos como portugueses que somos, a passar anos a desvalorizar um problema e depois quando a sua dimensão já não é possível esconder, reagimos com uma algazarra como se a nossa vida, enquanto sociedade, dependesse da resolução daquele problema, que uma semana antes todos negariam.
No setor do turismo, aquando da desregulamentação das profissões e se terminaram com as carteiras profissionais, iniciou-se um trajeto de destruição da imagem pública das profissões desta área. Este processo, não teve efeitos imediatos, no entanto a degradação das equipas, tem vindo a fazer-se sentir há vários anos, tendo este sido acelerada pela pandemia.
Apesar do número de alunos ser cada vez maior a receber formação nas várias componentes do turismo, a verdade é que não conseguimos fixar os jovens. A taxa de empregabilidade está perto dos 100%, mas talvez por falha do sistema de ensino, os alunos trazem uma expectativa à chegada ao mercado de trabalho, que as empresas não estão preparadas para responder.
A geração de que faço parte, sempre viu a atividade profissional, como mais do que uma profissão. É uma opção de vida que abraçamos no modelo 24-7-365. A nova geração que está a chegar ao mercado, tem uma opinião diferente, não concorda nem está disponível para abrir mão do seu tempo privado, em prol do tempo profissional. Com isto não ponho em causa, a sua competência, acrescento ainda que acredito muito da sua capacidade técnica, dado que muitos deles, são uma geração do Mundo.
Então, o paradigma que as empresas terão, será como fixar os jovens, no setor. Sabemos que os ordenados não são atrativos e que a médio prazo, apesar de algumas correções, não existe de uma forma global, possibilidades de assistirmos a uma subida generalizada com valores expressivos dos vencimentos, por isso deveremos começar, por saber vender a nossa imagem, como um setor atrativo.
Para isso, temos que começar por reinventarmos os horários, dignificar a imagem pública de quem trabalha no sector, ligar a formação ao mercado de trabalho integrando as escolas e universidades nos órgãos representativos do setor, criar projetos de inovação que junte a academia às empresas, estimular a produtividade através de prémios financeiros, entre outras medidas que vão ao encontro daquilo que esta nova geração procura.
Temos de parar com a sangria de deixar sair a mão de obra qualificada para outros países, que se aproveitam de uma das gerações com mais formação que alguma vez existiu em Portugal. Não nos podemos esquecer que não estamos só a exportar talentos, estamos também a investir em formação, que não será aproveitada, para fazer crescer a nossa economia. Em contrário, importamos mão de obra sem qualquer qualidade e que assim que adquire formação/conhecimento/atestado de residência, desaparece pelo espaço europeu.
2022, será o Ano em que podemos fazer a diferença. Assim, haja vontade dos políticos, dos empresários, da academia e dos trabalhadores. Se todos se juntarem numa cadeia de união, podemos chegar ao fim, mostrando ao País porque é que o nosso setor está em décimo lugar em termos de competitividade.
Cordiais saudações hoteleiras.
Por Raúl Ribeiro Ferreira
É docente do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona e presidente da Associação dos Diretores de Hotel de Portugal (ADHP)