Domingo, Novembro 9, 2025
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Países reinventam o turismo para fugir ao cliché da “bucket list”

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Nos últimos anos, a ideia de criar uma bucket list, uma lista de locais e experiências a viver antes de morrer, popularizou-se, impulsionada tanto pelo cinema como pelas redes sociais. Mas a crescente uniformização dos destinos escolhidos levanta agora questões sobre o impacto do fenómeno no turismo global.

Segundo a BBC, o termo ganhou notoriedade após o filme The Bucket List (2007), com Jack Nicholson e Morgan Freeman, e rapidamente se tornou uma tendência mundial. Hoje, porém, em vez de refletirem sonhos pessoais, muitas listas parecem cópias umas das outras, moldadas por algoritmos e conteúdos virais.

“Percorrer o Instagram ou o TikTok é ver sempre os mesmos sítios e ângulos repetidos”, explica Grace Beard, editora de viagens da Time Out, citada pela BBC. “O problema é que as expectativas raramente correspondem à realidade. Em vez de uma vista icónica, o mais provável é encontrar uma fila de turistas à espera da mesma fotografia.”

Itália: 99% por descobrir

Em resposta a este excesso de concentração turística, a agência Visit Italy lançou a campanha “99% de Itália”, sublinhando que 70% dos visitantes internacionais se concentram em apenas 1% do território. O objetivo é incentivar os viajantes a explorarem aldeias medievais menos conhecidas, como Serra San Quirico ou Sorano, em vez de sobrecarregarem cidades como Veneza ou Florença.

“Queremos inverter a narrativa. Enquanto alguns destinos se tornam frágeis e congestionados, grande parte do país permanece invisível e sem oportunidades”, afirma Ruben Santopietro, fundador da iniciativa.

Japão aposta no “undertourism”

Também no Japão, operadores turísticos procuram equilibrar o fluxo de visitantes. A InsideJapanTours, especializada em receber viajantes britânicos, desenhou um plano estratégico de “undertourism” em colaboração com comunidades locais. A ideia passa por promover regiões pouco visitadas, como Toyama, combinando-as com destinos tradicionais como Tóquio e Quioto.

“Não é preciso passar duas semanas fora dos grandes centros. Pequenas mudanças no itinerário já fazem uma grande diferença”, explica Rob Moran, responsável pela sustentabilidade da agência.

Tailândia aposta em voos gratuitos para diversificar turismo

Tailândia também está a avançar com medidas para redistribuir o fluxo de visitantes. O governo anunciou o programa “Buy International, Free Thailand Domestic Flights”, que prevê oferecer voos domésticos gratuitos a turistas internacionais, com o objetivo de atrair pelo menos 200 mil viajantes até ao final de 2025.

Segundo o ministro do Turismo, Sorawong Thienthong, o projeto — com um orçamento de 700 milhões de baht (cerca de 18,6 milhões de euros) — deverá arrancar já em setembro. Cada visitante poderá usufruir de dois bilhetes de ida e volta para destinos estratégicos no país, em cidades classificadas como património mundial pela UNESCO e fora dos circuitos tradicionais como Banguecoque ou Phuket.

A iniciativa, que conta com a participação de seis companhias aéreas locais, pretende não só diversificar o turismo, mas também reforçar a economia nacional durante a época alta de viagens.

Faroé: turismo mistério

Já nas Ilhas Faroé, onde o risco de excesso turístico ainda é incipiente, o governo local decidiu antecipar o problema. O projeto Self-Navigating Car oferece percursos surpresa, definidos por habitantes locais, afastando visitantes das rotas mais populares.

“A ideia é espalhar os turistas e, ao mesmo tempo, alinhar com a tendência das viagens sem decisões prévias”, explica Súsanna Sorensen, da Visit Faroe Islands.

Um novo olhar sobre viajar

A reflexão é partilhada por vários especialistas: será que a obsessão por listas e fotografias não estará a esvaziar a essência das viagens?

“Estamos a colecionar imagens em vez de memórias”, conclui Santopietro, citado pela BBC. “Ao movermo-nos sem realmente ouvir os lugares, perde-se a autenticidade – tanto para quem recebe como para quem viaja. Talvez esteja na hora de repensar não só os destinos, mas a forma como olhamos para eles.”

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