Um estudo conduzido pela Mabrian analisou as implicações das alterações climáticas no turismo mediterrânico, focando-se principalmente em Itália, Espanha e Grécia. Comparando indicadores de tendência turística desses destinos, o estudo revela como as mudanças climáticas afetam a perceção dos turistas e a saúde geral dessas regiões.
As economias de Itália, Espanha e Grécia estão intrinsecamente ligadas à saúde das suas indústrias turísticas. Em Itália, o setor representa 13% do PIB, em Espanha, 12%, e na Grécia, uma percentagem ainda maior, 21%.
A sazonalidade do turismo é evidente, destacando-se o verão como uma componente crucial, sobretudo em Itália, onde os meses de junho e setembro absorvem 50% das despesas internacionais. Em Espanha, 47% das despesas internacionais concentram-se no período estival, enquanto os meses de janeiro a abril representam apenas 21% do total. Já em Itália, os quatro meses de inverno contribuem com 20% das despesas internacionais.
O estudo da Mabrian destaca que produtos turísticos fortemente dependentes do clima, como atividades ao ar livre, representam uma parte significativa das preferências dos turistas. Em Itália, por exemplo, 11% das menções nas redes sociais em 2022 referiam-se ao produto sol e mar, indicando a importância do clima para a atração de visitantes. Esta percentagem revela-se superior à registada em 2019, quando o produto sol e mar representou 9% do total de menções nas redes sociais.
Além disso, a análise revela que os produtos turísticos fortemente dependentes das condições climáticas e do bom tempo estão entre os cinco interesses mais discutidos. As atividades ligadas à natureza e ao desporto representam, respetivamente, 16% e 17% das menções.
Na Grécia, a dependência destes produtos é ainda mais pronunciada, uma vez que a natureza, as praias e os desportos representam 54% das menções nas redes sociais. Em Espanha, as referências a elementos como natureza, desporto, sol e mar atingem os 42% das menções nas redes sociais em 2022.
“Em última análise, estes países cativam visitantes não só devido à sua rica cultura, património e gastronomia, mas também por serem uma excelente escolha para quem procura calor e sol”, sublinha a Mabrian.
A influência do clima
Com ondas de calor intensas e tempestades devastadoras tornando-se mais frequentes, a percepção do clima torna-se um fator crucial na decisão dos turistas. A Mabrian destaca a importância de compreender como os turistas avaliam o clima, o que pode afetar a satisfação geral com o destino.
A percepção do clima tornou-se um tema recorrente nas avaliações turísticas dos viajantes, que expressam tanto comentários positivos quanto negativos com base em fatores como temperaturas extremas que podem limitar certas atividades. Em Itália, por exemplo, enquanto nos meses de julho e agosto de 2021 a perceção do clima atingiu uma média de 89 em 100, em 2022 registou-se uma média de 86, sendo o verão deste último ano o mais quente da história italiana.
Esta tendência é também evidente em Espanha e na Grécia, onde a perceção do clima diminuiu, em média, 2,6 e 5,4 pontos, respetivamente, entre 2021 e 2022. As percepções mais negativas durante verões extremos levantam uma preocupação: o perigo potencial para os destinos turísticos.
No entanto, até o momento, não há evidências de que a queda na perceção do clima esteja a afetar a procura real destes países. Em 2022, a satisfação global dos visitantes em Itália superou a de 2021, apoiada por uma perceção positiva dos produtos oferecidos, elevada satisfação com a hospitalidade e um sentimento de segurança. Este padrão repetiu-se em Espanha e na Grécia, indicando que, por enquanto, a diminuição da perceção do clima é atenuada por outros indicadores positivos.
Analisando as pesquisas de voos, a Mabrian observa um aumento significativo do interesse dos italianos em destinos no Norte da Europa, indicando uma possível mudança nas preferências de férias. Por exemplo, para viagens entre julho e agosto de 2023, as pesquisas de voos aumentaram 13% para a Suécia e diminuíram 22% para Espanha. Contudo, fatores como inflação e aumentos nos preços dos hotéis e voos também desempenham um papel na escolha do destino.
O estudo conclui que a perceção do clima está fortemente ligada a eventos meteorológicos extremos. Embora as mudanças na perceção do clima sejam mais pronunciadas nos destinos mediterrânicos, a satisfação geral dos viajantes e a procura pelos destinos ainda não foram impactadas.
