Domingo, Maio 18, 2025
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Reter talento numa geração sem compromisso mas com expetativas superiores

O tema do recrutamento e retenção de talentos na indústria do turismo esteve em destaque no 33º Congresso da AHP, que decorreu entre dia 16 e 18 de novembro em Fátima. Henrique Castro, diretor geral do Evolution Cascais-Estoril; Carina Oliveira, diretora executiva da Insignare – Associação de Ensino e Formação; e Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, notaram que existe uma mudança de paradigma no mercado de trabalho e que, hoje, os jovens, apesar de desprovidos de um sentimento de compromisso pelo trabalho, são mais exigentes.

Henrique Tiago de Castro, diretor geral do Evolution Cascais-Estoril, disse que o grande desafio que encontra nas equipas com que trabalha “é a falta de compromisso”.

“No Mama Shelter, durante cinco meses, passaram pelas minhas mãos 180 pessoas, mas eu só tinha 100 a colaborar comigo num mês e isso foi um grande desafio, porque eu assinei uma série de contratos, mas as pessoas nunca apareceram”, contou o antigo diretor geral dessa unidade hoteleira em Lisboa, salientando que, no passado, “era algo que nunca acontecia” e que “agora os talentos é que escolhem as empresas”.

Carina Oliveira, diretora executiva da Insignare – Associação de Ensino e Formação, concorda que existe uma “falta de compromisso grande nestas gerações” e que houve uma mudança de paradigma no mercado de trabalho e de educação. Contudo, nota que a geração atual “quer fazer várias coisas ao mesmo tempo”, e deseja conciliar a vida profissional com a vida pessoal. “É uma geração que precisa de ser compreendida, para ir ao encontro das suas expetativas”, defendeu.

“Temos a geração mais qualificada de sempre em Portugal”, relembrou Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa. “Esta geração tem expetativas e exigências que não estávamos habituados nas gerações anteriores”, acrescentou.

Ricardo Costa considera que os salários em Portugal são baixos, no entanto, defende que para as novas gerações “o salário já não é tudo”, explicando que os jovens valorizam “o impacto do seu trabalho na empresa, a diversidade de tarefas, a formação, a equidade, justiça, o ser envolvido, e participar nas decisões da empresa”.

O CEO acredita que não se deve encarar a falta de talento no setor “como um grave problema”, sublinhando que seria pior “termos pessoas e não termos trabalho, ou não termos turismo para o setor da hotelaria”.

“Nós estamos numa situação de quase pleno emprego. O desafio agora, além de atrairmos talento, é qualificarmos as pessoas”, acrescentou Ricardo Costa.

Carina Oliveira contou que 10% dos alunos da Escola de Hotelaria de Fátima fazem estágio no estrangeiro. “Nós passámos a fazer o estágio só no segundo ano, porque os finalistas que iam [para fora do país] não voltavam, tinham propostas de emprego absolutamente fantásticas e aliciantes e nunca mais voltavam, não conseguíamos reter o talento”.

A diretora executiva da Insignare afirma que também existe “o reverso da medalha”. Alunos licenciados em turismo e hotelaria que ingressam no mercado de trabalho e que, “muitas vezes, estão a competir diretamente com alguém que não tem experiência na área e a diferença salarial é zero”.

Qual será a solução para a retenção de talento?

Inquiridos sobre a solução para este problema no setor, Ricardo Costa sublinhou a importância de valorizar os trabalhadores e de subir os salários, fator que considera essencial para conseguirmos “competir com outros países”. Henrique Tiago de Castro, pelo contrário, considera que os salários em Portugal “já começam a ser bastante competitivos”.

Carina Oliveira fechou o painel com uma frase do livro “Hotel, os bastidores”, de Inês Brasão. “[Atualmente] há, sem dúvida, uma desconexão entre a qualidade do que temos e o valor disponível para o recompensar”.

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