O Tinder estendeu o seu alcance por todo o planeta. Parece-lhe bem? Então, “swipe right” 1.
Na verdade, o que lhe trago já não é bem uma notícia mas sim uma observação de como correm as coisas desde que a aplicação de relacionamentos fez “match” com o global. No início do maior shut down da História, declarado pela Organização Mundial de Saúde, em Março de 2020, a aplicação abriu as portas do Modo Global e Passaporte, permitindo o seu acesso gratuito durante todo o mês de Abril. O momento em que é lançado este serviço surge como uma espécie de consolo para os utilizadores Tinder não se sentirem tão isolados e desconectados, durante a quarentena, mas, na verdade, era algo que a empresa estadounidense já queria proporcionar aos seus utilizadores para satisfazer o seu manifesto desejo de encontrar pessoas de diferentes culturas e geografias. O que explica o seu sucesso imediato: durante Abril do ano passado, 25% dos membros, de todo o mundo, testaram o serviço Passport e documentaram as suas experiências no #tinderpassport no TikTok.
Resultado: 72 milhões de visualizações registadas nos primeiros momentos, número que foi engordando a olhos vistos, nos dias que se seguiram. Passado um ano e alguns avanços no controle da pandemia, o Tinder torna novamente gratuito a opção Passport, durante todo o mês de Abril, desta vez com a premissa da possibilidade de encontros presenciais, após o match multicultural descoberto online. E sabe que mais? Nem todos os “matchers” se encontraram após a abertura de fronteiras e a possibilidade de viajar com passaporte de vacinação.
O Romantismo pode combinar com o Tinder?
Antes de mais, permita-me que lhe esclareça as diferenças entre o Global e o serviço Passaporte da aplicação Tinder. O Modo Global é uma opção gratuita que pode ser activada no menu Definições da conta. Com este serviço on, os filtros geográficos desaparecem do perfil e aumenta a aventura de poder ver e ser visto, de admirar e ser admirado. Um aumento de probabilidades muito satisfatório. Mas, claro, que a versão paga deste alcance global permite outros voos. Mais altos e precisos. Quando não é excepcionalmente gratuito, a opção Passaporte do Tinder está disponível para os subscritores dos serviços Get Tinder Plus, Tinder Gold, or Tinder Platinum. Com este passaporte amoroso, pode escolher a cidade exacta onde quer explorar conexões. Basta ir às Configurações do Menu, clicar no seu local, adicionar um novo local e colocar um pin na geografia que mais lhe apetece no momento. Questiono-me sobre qual seria a sua cidade? Partilho consigo as que os utilizadores do Tinder mais preferem: Los Angeles, Nova Iorque, Paris, Miami, Tóquio, Seul, Estocolmo, Amsterdão e Moscovo. Que tal, alguma destas era a sua opção? Posso lhe dizer que não me surpreende esta listagem de preferências. Umas materializam cosmopolitismo e movida, outras simbolizam belezas-fetiche, como são o caso das cidades asiáticas, do Norte da Europa e da Rússia.
Mas será que tudo, nesta aplicação de encontros e aventuras, se resume à estética, status e quantidade de matches? Posso lhe dizer que não, mas também. O que se deve muito à forma como a empresa apresenta o serviço. O vídeo promo do Tinder Passaporte apresenta uma jovem loura, da Geração Z, numa dança alegre com uma mala de viagem e a seguinte legenda: “Me on my way to go visit all the states that my 20 boyfriends i met online during quarantine live”. O TikTok dá-nos vários exemplos desta “escola de pensamento”. Um homem procura pelo país mais rico do mundo para procurar o homem da sua vida. Percebe que é Luxemburgo e começa a procurar o seu Santo Graal pelo caminho dos “matches”. A animada apresentação dá-se ao som da música “Make His Pockets Hurt”, de Lil Kayla. Dou-lhe também o exemplo de uma jovem mulher coreana, a viver no Canadá, que apresenta todas as suas conquistas online em Seul, ao ritmo de uma dança vitoriosa. Será que é por todas as suas conexões se enquadrarem no arquétipo de beleza-padrão “lindos de morrer”? É bem possível. Muitos outros exemplos se repetem nestas escolhas e objectivos de relacionamentos, o que não é reprovável, afinal, a Liberdade é uma palavra que fica sempre bem em qualquer ocasião. Mas posso lhe dizer que, pessoalmente, dá-me muita esperança perceber que também há muitas pessoas a procurarem a conexão profunda e autêntica com o Outro. Como o exemplo de um casal – ela mexicana e ele francês – emocionado quando ela lhe lê os postais que ele lhe tinha enviado de Paris. É também de Paris que chegam rosas à morada mexicana, no outro lado do Oceano Atlântico, e até uma tour filmada pelas ruas da cidade do Amor, como se a namorada platónica caminhasse ao seu lado. Vejo também outro casal, de países antípodas, a rirem muito um com outro, cúmplices e felizes, acompanhando-se em rotinas e confissões através de chamadas de vídeo. Também é isto que se vive no Tinder: conexões autênticas e promissoras. Muitas são as pessoas deixam nas caixas de comentários das redes sociais da aplicação que desejam encontrar alguém que as compreenda e aceite como elas são. Penso que, no fundo, é o que todos queremos para nós.
Seja qual for o desejo que move cada perfil Tinder, considero que aumentar a probabilidade de fazer “matches” românticos mas também libidinosos ou, mesmo, materiais, para um registo multicultural, em qualquer ponto do globo, só pode ser uma muito boa opção.
1 Se não conhece a aplicação de encontros Tinder, faço aqui alusão à forma como os utilizadores mostram o seu interesse por alguém que vêem na foto: Se lhes agrada, deslizam o écran no sentido da direita, se não for o caso, os pretendentes sugeridos saem fora de cena ao deslizar o écran para a esquerda.
Por Rodrigo Oliveira
É diretor geral e fundador da Zyrgon Network Group, agência de marketing e comunicação digital