O TNews estreia uma nova rubrica. Revelamos histórias peculiares e inéditas dos profissionais de turismo vividas durante uma viagem e agora contadas na primeira pessoa.
Por Paulo Almeida, diretor comercial da Solférias
Felizmente quase todas as minhas viagens têm corrido bem. Lembro-me de uma fam trip que fiz há muitos anos com agentes de viagens à neve, ainda trabalhava na Andaltour. O destino era Baqueira e Boi Taull nos Pirenéus catalães. Fizemos a viagem, na altura com a Spanair, via Madrid para Barcelona. Em Madrid, umas agentes perderam-se no aeroporto e, consequentemente, perderam o voo Madrid-Barcelona (sorte que a Spanair tinha um voo umas horas depois). Esperei por elas em Madrid e lá conseguimos embarcar no voo seguinte. Chegámos a Barcelona e o grupo estava à nossa espera. Rumámos a Baqueira Beret já com umas horas de atraso e lembro-me que era o primeiro ano que “publicámos” aquela estância de esqui. Havia gente que vinha do Porto e, como a Spanair só voava de Lisboa, tinham saído de casa à 1h da manhã. Com tudo o que tinha acontecido, pensei que estavam todos cansados. Pois… enganei-me. Depois do jantar quiseram todos ir sair e lá fomos descobrir o único bar que estava aberto em Baqueira. Estávamos no início da temporada e um domingo, não se passava nada, mas lá fomos beber um copo. Ao voltar para o hotel, quiseram todos (ou uns quantos) ir ver o meu quarto, tinham-me atribuído uma suite com jacuzzi e, claro está, às tantas da manhã ainda foram para o jacuzzi. Estava KO e fui dormir, quando saíram fizeram todos questão de se despedirem de mim à cama. Lá ficámos em Baqueira- Beret os dias previstos, éramos uns 15 e sendo o primeiro ano que publicávamos esse destino, não estava muito familiarizado, mas correu às mil maravilhas.
Depois rumámos a Boi Taüll, onde já tinha estado algumas vezes e conhecia bem o diretor comercial da estância. O programa era chegar a Boi Taüll, fazer check-in, visitar os hotéis e as igrejas que tinham sido consideradas património mundial da UNESCO, e nos dias seguintes ter aulas e esquiar. Em Boi Taüll nada podia correr mal (pensava eu). Assim que cheguei, fui direto ao hotel, informei a rececionista que estava com um grupo da fam trip. Ela responde que não sabia de nada, que não tinham quartos para nós e que o hotel estava cheio, pedi-lhe para falar com o diretor comercial que tinha a sede em Barcelona e, após algum tempo, ela responde que ele estava incontactável, éramos 15…e não só não tínhamos quartos, como não havia programa. O grupo começou a ver a minha cara de preocupado e acabei por contar-lhes o que se estava a passar. O único preocupado era mesmo eu, o resto da malta continuava “na boa”, uns diziam que podíamos voltar para Baqueira, outros que devíamos ir para Barcelona curtir a noite.
Além de não haver quartos, ninguém tinha conhecimento da nossa fam trip. No local, falei com o responsável do resort e expliquei o que se passava, ele muito atenciosamente disse que quartos não tinha, mas, como era hora de almoço, o melhor era irmos almoçar. Providenciou tudo e lá fomos. Continuei a insistir para falar com o meu contacto, mas sem sucesso. Continuávamos sem quartos. Pedi ao simpático senhor, cujo nome não me lembro, para vermos os outros hotéis do resort e, entretanto, já estava a fazer contactos para voltar para Baqueira, pois tinha que arranjar uma solução para o grupo. Ainda por cima, era dezembro e escurece cedo, ainda para mais no meio das montanhas. O motorista, muito simpático, dizia que não havia problema nenhum e que podíamos voltar – ele tinha um amigo com um hotel, já nem me lembro bem onde, mas algures entre Boi Taüll e Barcelona e que podíamos ir lá dormir. Também liguei para um amigo que tinha um hotel em Barcelona e, por isso, já tínhamos algumas alternativas.
Estávamos a acabar as visitas e prestes a ir para Barcelona, quando o senhor simpático do resort disse-me que já estava tudo resolvido, que tínhamos os quartos, os forfaits para irmos esquiar, as duas noites de alojamento e as refeições, tudo como estava no programa. Apesar de ser um enorme alívio, lembro-me que, na altura, já estávamos todos a achar piada irmos para Barcelona. O resto da viagem correu sem percalços, sendo que em Boi Taull houve quem se tenha aventurado nas pistas e ficou com algumas (muitas) nódoas negras e acabou por descer a pista com os esquis às costas. Foi mais uma risada.
No regresso, o voo saía de Barcelona cedo e tínhamos que sair às 3h ou 4h da manhã do hotel, claro que fomos de direta do “Bar Punt de Trobada” que, em português, quer dizer “Ponto de Encontro” para o aeroporto, havia neve na estrada e acho que ninguém conseguiu dormir. Fizemos o voo Barcelona- Madrid e depois o Madrid-Lisboa, mas desta vez ninguém se perdeu. Chegámos a Lisboa por volta das 18h e eu fui direto para Granada para o almoço de Natal da Andaltour, que era no dia seguinte. Resumindo, íamos perdendo umas agentes em Madrid, não tínhamos quartos nem ninguém sabia da nossa fam trip em Boi Taüll, o que provocou algum stress, mas foi uma viagem muito gira com um grupo fantástico.