“Estava a correr tudo tão bem, 2020 ia ser o melhor ano de sempre” – quem é que, no setor da hotelaria e turismo, disse ou se fartou de ouvir esta frase durante o ano passado? De facto, a Organização Mundial do Turismo previa que em 2020 o turismo continuaria a crescer e a ser um dos mais importantes setores da economia mundial.
Em Portugal, 2020 arrancou com a esperança de ser um dos melhores anos de sempre para acabar a revelar-se um dos piores. De acordo com dados da UE, Portugal foi o sexto país da Comunidade Europeia com maior queda total de dormidas em relação ao ano anterior. Quedas que rondam os 61% e que, no caso do mercado externo, chegam aos 74%.
Neste cenário, os profissionais do setor tiveram de se reinventar, tomar decisões muito difíceis e, nalguns casos, dizer adeus a colegas de profissão. Depois de vários meses em contexto pandémico, tornou-se óbvio que existia uma falta de confiança e frustração generalizada que nos levou, muitas vezes, a olhar de uma maneira saudosista para o passado.
Ainda assim, a resiliência foi palavra de honra para todos os profissionais do setor da hotelaria e turismo que, mais uma vez, provaram ter o que é preciso para ultrapassar qualquer dificuldade. A prova disto é que, no ano de 2020, assistimos a incríveis reinvenções de negócio: desde check-ins não presenciais a programas especiais para pessoas a trabalhar fora de casa, passando por uma transformação digital generalizada.
No futuro, conseguimos prever que vamos continuar a lidar com a mesma incerteza de uma crise sanitária, restrições à mobilidade, falta de confiança para viajar, entre muitos outros entraves. Por isso mesmo, a palavra de honra continuará a ser a mesma, repetida quantas vezes forem necessárias, continuando a mostrar a resiliência e vontade de reinvenção já revelada no ano que passou.
De acordo com a Siteminder, em 2020, o canal direto foi o segundo maior gerador de reservas para os alojamentos nacionais, logo a seguir à Booking.com. Esta foi uma tendência da qual todos os negócios podem tirar partido, se agirem já, de forma a otimizarem resultados diretos. Também a Bloomberg já noticiou, em fevereiro deste ano, que as viagens de longo curso poderão não retomar até 2023. Estará na hora, portanto, de se repensarem estratégias e objetivos. É vital olhar para dentro de portas e fazer uma análise profunda acerca da estratégia, procedimentos e equipa e identificar possíveis pontos de melhoria.
A conclusão é uma: não se pode manter a mesma estratégia quando tudo à nossa volta mudou. O foco deve estar agora no futuro e no que vem depois daquele que iria ser “o melhor ano de sempre”.
Por Francisca Cruz
É co-fundadora da Good to Great Consulting, uma consultora dedicada a ajudar negócios do setor do turismo nas áreas de revenue management, distribuição, website, redes sociais, gestão e formação de RH, entre outras.