Atingir a neutralidade de carbono e as emissões líquidas zero até 2050 é um processo longo e dispendioso que exige investimentos em tecnologia e inovação. Segundo um relatório encomendado por diversas organizações e associações do setor aéreo europeu, incluindo a Airlines for Europe (A4E) e a ACI Europe, o custo estimado para a indústria da aviação europeia ultrapassa 800 mil milhões de euros. O maior gasto seria com a produção de combustíveis mais limpos para substituir os de origem fóssil.
Para alcançar emissões líquidas zero, seriam necessários “esforços adicionais consideráveis, em comparação com as operações comerciais normais”, especificados em quatro pontos, segundo o relatório. A implementação desses pontos custaria 820 mil milhões de euros durante um período de 32 anos, entre 2018 e 2050.
A indústria da aviação é altamente poluente, emitindo carbono e outros gases de efeito estufa, e comprometeu-se a descarbonizar o transporte aéreo, reduzindo drasticamente as suas emissões e tornando a Europa no primeiro continente neutro em CO2 do mundo até 2050. Para isso, serão necessárias novas tecnologias, especialmente combustíveis alternativos e combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), além de compensações de carbono, e aeronaves e motores mais eficientes. Esses compromissos têm um preço muito alto.
O maior gasto seria de 441 mil milhões de euros para investir em combustíveis mais limpos, produzidos a partir de matérias-primas como gordura animal, óleo de cozinha ou resíduos domésticos. Os combustíveis de aviação sustentáveis (SAF) podem reduzir as emissões totais de um voo em cerca de 80%, mas são muito mais caros do que o combustível tradicional e representam apenas 1% da produção mundial de combustíveis para aviação.
O relatório, realizado pelos grupos de pesquisa SEO Amsterdam Economics e Royal Netherlands Aerospace Centre, sugere que as empresas do setor aéreo, incluindo companhias aéreas e aeroportos, não poderiam financiar sozinhas a transição climática, citando lucros inconsistentes no passado. “Dado que as margens de lucro históricas são baixas, devido aos altos níveis de competição e agravadas pelas recentes crises, espera-se que a capacidade de absorção pelo setor, em particular pelas companhias aéreas e pelos hubs europeus, seja baixa”, afirma o relatório.
Enquanto a Europa segue a agenda do Acordo Verde, a indústria da aviação conseguiu obter apoio significativo dos legisladores europeus, incluindo a classificação de aviões mais novos e eficientes, impulsionados por combustível convencional, como um investimento verde, de acordo com as regras da UE para finanças sustentáveis, para ajudar a atrair capital privado.
“A Europa precisará de um ambiente de investimento estável e previsível e de um quadro político coerente para garantir que a aviação europeia possa ter acesso ao capital necessário”, disse a associação empresarial aérea A4E.
Peritos ambientais reagiram ao relatório, afirmando que isso equivaleria a “greenwashing”, já que essencialmente reclassificaria aviões altamente poluentes como sustentáveis.
“Embora essas aeronaves reduzam as emissões, ainda que ligeiramente, elas não podem ser consideradas sustentáveis de acordo com a taxonomia”, afirmou Jo Dardenne, diretor de aviação do grupo Transport & Environment. “A taxonomia deve direcionar investimentos para uma aviação verdadeiramente verde, ou seja, combustíveis limpos e aeronaves de emissão zero”, acrescentou.
Recentemente, a Greenpeace denunciou práticas de “greenwashing” por parte de várias companhias aéreas europeias, alegando que as declarações do setor sobre como pretende reduzir as emissões de carbono não têm substância.